segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Partir...Caminhar...


Partir é, antes de tudo, sair de si, romper a crosta de egoísmo que tende a aprisionar-nos no próprio eu.

Partir é não rodar, permanentemente, em torno de si, numa atitude de quem, na prática, se constitui no centro do mundo e da vida.

Partir não é rodar apenas em volta dos problemas das instituições a que se pertence. Por mais importantes que elas sejam, maior é a humanidade, a que nos cabe servir.

Partir, mais do que devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro.

Abrir-se às ideias, inclusive contrárias às próprias, demonstra fôlego de bom companheiro.

Feliz de quem entende e vive este pensamento. "Se discordas de mim, tu me enriqueces."

Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem concorda sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter um companheiro, mas, sim, uma sombra de si mesmo. Desde que a discordância não seja sistemática e proposital, que seja fruto de visão diferente, a partir de ângulos novos, importa de fato em enriquecimento.

É possível caminhar sozinho. Mas o bom viajor sabe que a grande caminhada é a vida e esta supõe companheiros. Companheiro, etimologicamente, é quem come o mesmo pão.

Feliz de quem se sente em perene caminhada e de quem vê no próximo um eventual e desejável companheiro.

O bom companheiro preocupa-se com os companheiros desencorajados, sem ânimo, sem esperança...Adivinha o instante em que se acham a um palmo do desespero. Apanha-os onde se encontram. Deixa que desabafem e, com inteligência, com habilidade, sobretudo, com amor, leva-os a recobrar ânimo e voltar a ter gosto pela caminhada.

Marchar por marchar não é ainda verdadeiramente caminhar.

Caminhar é ir em busca de metas, é prever um fim, uma chegada, um desembarque.
Mas há caminhada e caminhada.

Para as Minorias Abraâmicas, partir, caminhar, significa mover-se e ajudar muitos outros a moverem-se no sentido de tudo fazer por um mundo mais justo e mais humano.

D. HÉLDER CÂMARA, O DESERTO É FÉRTIL

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