sexta-feira, 13 de novembro de 2015

15 medicamentos que você usa sem prescrição, mas podem ser perigosos


Analgésico, anti-inflamatório, relaxante muscular, antitérmico e antiácido são os medicamentos isentos de prescrição mais utilizados

Na maioria das vezes, quando sentem uma dor de cabeça, cólica, estão com febre ou dor muscular, por exemplo, as pessoas vão a uma farmácia em busca dos chamados MIPs (Medicamentos Isentos de Prescrição). Eles são aprovados pelas autoridades sanitárias e têm o objetivo de tratar sintomas menores. A venda é possível sem prescrição ou receita médica.

Porém, isso não significa que eles possam ser utilizados sempre e de qualquer maneira. São medicamentos, e baseando-se nas características peculiares, os MIPs também podem causar problemas de saúde, seja pelo uso excessivo ou inadequado. O cuidado deve ser ainda maior no caso de crianças, idosos, gestantes e pessoas com alguma doença.

Priscila Vautier, farmacêutica, Mestre em Farmácia, docente em curso de Farmácia e Diretora no Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, comenta que os medicamento isentos de prescrição mais utilizados pelas pessoas são os analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, antitérmicos e antiácidos.

Vale destacar que os MIPs, ainda que sejam considerados de baixo risco, podem causar, em alguns casos, reações adversas, intoxicações e interações medicamentosas. Por exemplo, se não houver uma orientação correta, a pessoa pode cometer a subdosagem (o que não aliviará os sintomas desejados), ou ainda, pode haver a superdosagem, levando a uma intoxicação. Também há o risco de se usar dois medicamentos com o mesmo princípio ativo, o que também pode levar à intoxicação; além da possibilidade do paciente já consumir um medicamento de uso crônico que, por sua vez, interage com o fármaco presente nos MIPs.

15 classes de medicamentos que não se deve tomar indiscriminadamente
Nos tópicos abaixo você confere quais são os principais riscos de se utilizar determinados grupos de remédios, que parecem inofensivos, mas que, quando utilizados de forma exagerada ou inadequada, podem se tornar perigosos.

1. Hormônios e anticoncepcionais
Priscila destaca que o uso indevido pode levar ao descontrole hormonal do organismo. “E o uso contínuo pode aumentar o risco de aumento de pressão arterial, trombose profunda (principalmente quando associada ao cigarro) e enxaqueca”, diz.
Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia), ressalta que vários estudos epidemiológicos demonstram associação clara entre o uso de contraceptivos orais combinados e o aumento de risco para trombose venosa e arterial.

2. Absorventes e antifiséticos intestinais (simeticona)
Amouni comenta que um exemplo dessa classe de medicamentos é a simeticona. “É um silicone antifisético com ação antiflatulenta, que alivia o mal-estar gástrico causado pelo excesso de gases.”
A assessora técnica explica que a simeticona não é absorvida pelo organismo, e atua somente dentro do aparelho digestivo, sendo totalmente eliminada nas fezes. “Embora reações indesejáveis sejam pouco prováveis, são relatados: eczema de contato (reação inflamatória que ocorre devido ao contato da pele com um agente irritativo ou que cause alergia); e, em casos raros, reações imediatas como urticária (lesões vermelhas na pele que coçam muito)”.
Luftal também é um conhecido antifisético intestinal e utilizado muitas vezes por pacientes com excesso de gases. Vale destacar que ele alivia os sintomas, mas não “resolve o problema”. Não costuma causar efeitos colaterais, mas podem ocorrer em casos raros: inflamação na pele ou alergia da pele.
Priscila destaca que o uso inadequado desse tipo de medicamento pode, em alguns casos, levar à constipação temporária.

3. Analgésicos e antitérmicos (AAS, Dipirona, Paracetamol)
Priscila explica que Paracetamol é um anti-inflamatório não esteroidal: “o uso crônico pode levar a uma hepatotoxicidade (dano no fígado causado por substâncias químicas chamadas hepatotoxinas)”.
Amouni destaca que, embora Paracetamol possa ser utilizado durante a gravidez, o médico deverá ser consultado antes disso. “Além disso, ele não deve ser administrado por mais de 10 dias para dor ou para febre por mais de 3 dias”, diz.
AAS, conforme explica Priscila, pode ocasionar sangramento gástrico e é contraindicado em caso de dengue.
“Dipirona, quando utilizado inadequadamente, pode causar hipotermia, reações na pele, inflamação de tecido renal”, destaca Priscila.
“Quando tais medicamentos são ingeridos junto com álcool, podem ocorrer úlceras, distúrbios gastrointestinais e hemorragias”, acrescenta a farmacêutica Priscila.

4. Antiácidos
Amouni comenta que a maioria dos antiácidos contém um ou mais dos quatro componentes principais: sais de alumínio, sais de magnésio, carbonato de cálcio e bicarbonato de sódio.
“Eles podem ter interações com muitos fármacos de prescrição médica, por isso, é muito importante consultar um farmacêutico sobre as interações entre os medicamentos antes de tomá-los. Além disso, especialmente as pessoas com afecções cardíacas, hipertensão ou problemas renais devem consultar o médico antes de tomar um antiácido”, acrescenta a assessora técnica.
Priscila destaca como principais riscos/problemas do uso exagerado ou do uso indevido desse tipo de medicamento: deficiência na absorção de alimentos e medicamentos; constipação e diarreias.

5. Antialérgicos e anti-histamínicos (dexclorofeniramina, loratadina)
Amouni comenta que Dexclorofeniramina, Hidroxizina, Prometazina e Ciproeptadina são os antialérgicos mais antigos e conhecidos, pois foram os primeiros a serem usados no tratamento das doenças alérgicas. “O efeito colateral mais comum e incômodo é a sedação. Podem ainda ocorrer sonolência (ou agitação), diminuição da concentração, alterações de memória e da coordenação psicomotora, além de boca seca, visão turva, retenção da urina, aumento de apetite e ganho de peso. Até pela possibilidade desses efeitos colaterais, esse tipo de medicamento deve ser evitado em motoristas, pilotos ou em trabalhadores em risco de acidente”, diz.
Loratadina, Desloratadina, Cetirizina, Levocetirizina, Ebastina e Fexofenadina são os antialérgicos chamados de “segunda geração”, considerados mais modernos. “Proporcionam alívio dos sintomas causando pouca sedação e mínimos efeitos na atividade psicomotora. Em alguns casos, pode ocorrer dor de cabeça (cefaleia), sendo este o efeito colateral mais significativo”, diz Amouni.
A farmacêutica Priscila destaca como principais problemas do uso exagerado ou inadequado dos antialérgicos: sonolência, engrossamento ou adensamento do muco.

6. Antieméticos
Metoclopramida é um exemplo de antiemético, que age nas funções digestivas comuns como náuseas e vômitos.
Priscila diz que, em grupos de risco (idosos, crianças, diabéticos), esse tipo de medicamento tem vários efeitos adversos. “Abuso pode causar ansiedade e agitação e, às vezes, sonolência”, acrescenta.
De acordo com informações da bula do medicamento, as reações adversas mais frequentes são: inquietação, sonolência, fadiga e lassidão/exaustão (ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes). Com menor frequência: insônia, dor de cabeça, tontura, náuseas, galactorreia, ginecomastia, erupções cutâneas, incluindo urticária ou distúrbios intestinais.
Ainda segundo a bula do medicamento, reações como inquietude, movimentos involuntários, fala enrolada etc. podem ser mais frequentes em crianças e adultos jovens; enquanto que movimentos anormais ou perturbados são comuns em idosos sob tratamentos prolongados.

7. Antiespasmódicos (Buscopan)
Buscopan (brometo de N-butilescopolamina) é um exemplo desse tipo de medicamento. É indicado para tratamento dos sintomas de cólicas gastrintestinais, cólicas e movimentos involuntários anormais das vias biliares e cólicas dos órgãos sexuais e urinários.
“O abuso pode levar à secura da boca e sonolência, visão turva e taquicardia”, diz Priscila.
“Quando associado a analgésicos (Dipirona, por exemplo) é necessário ter ainda mais cuidados. Doses altas de escopolamina podem causar delírio, confusão mental, paralisia, estupor e até mesmo morte”, acrescenta a farmacêutica.

8. Antifúngicos e antimicóticos
Os antimicóticos ou antifúngicos são basicamente farmacêuticos utilizados para tratar e/ou prevenir micoses, como “pé de atleta”, dermatofitoses (micoses superficiais que ocorrem em pelos, unhas e pele), candidíase, infecções sistêmicas como meningite etc.
Muitos desses medicamentos são vendidos somente com prescrição médica, mas alguns estão disponíveis como medicamentos de venda livre.
O uso inadequado deste tipo de medicamento, de acordo Priscila, pode causar: resistência ao tratamento, vermelhidão e sensação de queimadura.

9. Anti-inflamatórios e antirreumáticos (diclofenaco, nimesulida)
Diclofenacos, Nimesulida, Piroxicam, Tenoxicam são exemplos de medicamentos da classe.
Priscila explica que, com o uso exagerado/inadequado, o paciente pode ter: dor de estômago, azia, náuseas, vômitos, desenvolvimento de úlceras que causarão sangramento ou perfuração (estômago e duodeno), problemas hepáticos (cirrose medicamentosa), nefrite (comprometimento dos rins), anemia e problemas cardíacos.

10. Antiulcerosos
Omeprazol é um exemplo conhecido dessa classe de medicamentos. É indicado para tratar esofagite de refluxo, gastrite, úlcera gástrica e úlcera duodenal, além de funcionar como um “protetor gástrico” para quem vai usar medicamentos que “machucam” o estômago.
Embora Omeprazol seja um medicamento que exija prescrição médica, muitas pessoas acabam conseguindo comprá-lo sem receita médica. Mas, vale reforçar: o uso exagerado e inadequado pode causar problemas à saúde.
“O abuso pode mascarar outras doenças como câncer de estômago, problemas de fígado e vesícula. Pode inibir a absorção de algumas vitaminas e minerais, podendo causar efeitos como câimbras e problemas cardíacos”, explica a farmacêutica Priscila.

11. Expectorantes (xaropes)
Esse é um tipo de medicamento bastante utilizado quando a pessoa tem muita tosse com catarro.
O expectorante tem como ação, resumidamente, aumentar a quantidade de catarro e reduzir a viscosidade das secreções, promovendo consequente remoção das vias aéreas.
Amouni diz que um exemplo de expectorante é o cloridrato de bromexina, que, geralmente, é bem tolerado. “Podem se observar, porém, diarreia, náusea, vômito e outras manifestações gastrintestinais leves. Já foram relatadas também reações alérgicas, incluindo erupções cutâneas, urticária, broncoespasmo, angioedema e anafilaxia”, diz.
Priscila destaca como principais problemas do uso inadequado de expectorantes os distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômito).

12. Relaxantes musculares (carisoprodol)
Exemplo de relaxante muscular, de acordo com Amouni, é o Carisoprodol. “O relaxante muscular produz relaxamento muscular e também sedação como reações mais comuns (ocorrem em pelo menos 10% dos pacientes). Pode ocorrer ainda queda de pressão, sonolência e tontura”, diz.
Priscila ressalta que o abuso de relaxantes, como Carisoprodol, “pode levar à dependência e tolerância, desenvolvendo confusão mental, ansiedade, falta de coordenação e equilíbrio”.
Vale destacar ainda que, se utilizado simultaneamente com álcool ou outro depressor do sistema nervoso central, pode causar problemas mais graves, como depressão.

13. Soluções oftálmicas
Os colírios são as chamadas soluções oftálmicas e, se usados de forma inadequada, sem orientação médica, podem causar problemas sérios.
“O abuso pode ser caracterizado quando se muda a posologia indicada ou utiliza-se de colírios sem prescrição médica”, esclarece Priscila. “Nestes casos, danos à saúde ocular podem ocorrer, como: alteração da secreção lacrimal, lesão ocular, infecção ocular, glaucoma. Além disso, o uso pode causar confusão mental, crises hipertensivas”, explica a farmacêutica.

14. Repositores eletrolíticos
Os repositores eletrolíticos são geralmente utilizados por atletas, para ajudar na hidratação e na reposição dos sais (sódio, potássio, magnésio) perdidos por meio do suor em atividades de longa duração.
Costumam vir na forma de pastilhas efervescentes, que devem ser diluídas em água, sempre de acordo com as orientações do produto.
Priscila explica, porém, que, no preparo incorreto, com menos água do que o recomendado, podem ocorrer, como consequências mais graves de overdose: hipernatremia (excesso de sódio no sangue) e/ou hipercalemia (grande quantidade de potássio no sangue).

15. Descongestionantes nasais
Priscila explica que, com o uso frequente e prolongado de descongestionantes nasais, pode ocorrer congestão nasal rebote (rinite medicamentosa), que aumentada (ou rebote) leva o paciente a usar mais e mais o descongestionante. “Por isso, eles não devem ser usados por mais de 5 dias seguidos e nem em menores de 5 anos”, diz.
“Alguns podem ainda aumentar a pressão sanguínea e aumentar a glicemia em diabéticos”, acrescenta a farmacêutica.

Esses são apenas exemplos de tipos de medicamentos que, muitas vezes, são utilizados de forma inadequada. Vale destacar que algumas pessoas chegam até mesmo a se automedicarem com remédios que exigem prescrição médica (que não são MIPs), quando, por exemplo, utilizam um medicamento de outra pessoa da casa, de um amigo etc.
Por isso, de forma geral, é sempre bom lembrar que a automedicação é muito perigosa. Para Priscila, “é de extrema importância que as pessoas se conscientizem de que todos os medicamentos, isentos ou não de prescrição, podem oferecer risco à saúde”.
De acordo com Amouni, a única forma de o consumidor fazer uma administração segura do medicamento é a partir de uma efetiva orientação. “A farmácia deve atender ao previsto na lei e manter farmacêutico presente no local durante todo período de funcionamento, garantido assim o direito do consumidor ser atendido e orientado por um profissional habilitado.”
“Vale a pena salientar que qualquer que seja o medicamento o uso inadequado poderá acarretar riscos à saúde do paciente, portanto todo medicamento deverá ser utilizado mediante prescrição e principalmente com orientação precisa”, finaliza Amouni.
Lembre-se: com saúde (e medicamentos!) não se brinca. Utilize remédios somente quando houver orientação médica.


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