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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Governo incoerente leva professores às lágrimas", diz Iran Barbosa


Professores se exaltam e sessão precisa ser suspensa. Mas projeto que contraia magistério é aprovado

Quando viu que estava sendo fotografada, a professora, que aparece de óculos na foto que ilustra essa matéria, levantou o cartaz que segurava para tentar cobrir as lágrimas que molhavam seu rosto. A cena caracterizou a indignação dos professores da rede pública de Sergipe que assistiram na manhã de hoje, dia 15, a Assembleia Legislativa aprovar o Projeto Complementar do Executivo (nº 20) que divide a categoria, limitando o reajuste do Piso Salarial apenas para os cerca de 300 professores do nível médio. Os demais níveis, mais de 11 mil, ficam de fora do benefício.

"Há muita incoerência. A lógica do Governo Déda é múltipla. De um conjunto de partidos de interesses diversos que expressa a contradição do governo, principalmente, com os projetos que são encaminhados por ele, para sua bancada aprovar. É simplesmente um desrespeito com a categoria dos professores", comentou o ex-deputado Iran Barbosa (PT), que chegou este ano a renunciar o cargo de secretário do Governo do Estado quando outro projeto do Executivo que contrariava os professores estava sendo aprovado na Assembleia.

Sessão tensa
Na sessão tensa desta quinta-feira, não só ele, mas os jornalistas e deputados presenciaram a indignação dos professores nas galerias, que esquentou o clima na Casa. Por diversas vezes a presidente deputada Angélica Guimarães (PSC) precisou ameaçar a retirada dos manifestantes e até convidar, nominalmente, alguns a se retirarem. A sessão chegou a ser suspensa. Eram vaias. Professores dando indireta em deputado: "levanta pastor (Antônio) , defenda o professor". Populares reclamando de sindicalista: "se Gualberto (deputado líder do Governo) é traidor, Ana Lúcia também é porque é do mesmo Governo". Presidente de Sintese levantando a voz. Professora deputada pedindo calma. E professores chorando.

Fora os cartazes: "Que vergonha! A reposta vem em 2014"; "Estávamos mentindo? Nossas convicções não se vendem"; "Os filhos do MST, de escola pública, não merecem traição"; "Fala de Gualberto em 06/2011: se alterar a carreira dos professores eu voto contra".

Com argumentos, provas documentais, e até emenda, a deputada Ana Lúcia (PT) tentou derrubar o projeto. Mas apenas seis deputados a seguiram: Zé Franco (PDT), Maria Mendonça (PSC) Capitão Samuel, e a oposição com Venâncio Fonseca, Gorete Reis e Arnaldo Bispo. Augusto Bezerra faltou. E até o secretário de Estado da Indústria, deputado Zeca da Silva (PSC), reassumiu o mandato por dois dias para participar da votação. Foi um placar de 13 X 7 a favor do projeto.

Sem lógica
"Se vamos aprovar um orçamento de 2012 onde apresenta um reajuste de 18,6% para o professor, porque antes disso aprovar um projeto que impede a maioria de receber? Qual é lógica disso", questionou Ana Lúcia com os cálculos dos orçamento detalhado em mãos. "Esse projeto só corta o coração e traz tristeza, porque vemos nossa luta de 30 anos ser retardada agora por nosso governo, que acompanhou toda nossa batalha", lamentou a professora Ana Lúcia.

Já o líder do governo, deputado Francisco Gualberto (PT), defendeu que nenhum Estado pagou o piso dos professores como fez Sergipe. Então isso mostra que é preciso se organizar os Estados para as condições necessárias suprir a despesa com o piso. O Estado declarou que não tem como pagar R$ 150 milhões a mais da folha, então esse projeto vem amenizar até um debate que deve chegar até o Supremo Tribunal Federal, porque nenhum Estado está conseguindo cumprir a Lei do Piso.

Sem estimulo
De acordo com o professor Iran Barbosa, essa política de extinção dos professores de ensino médio acaba por achatar a carreira do magistério, onde nenhum professor terá mais estimulo para se tornar do nível superior, já que não existirá mais diferença salarial. "Inclusive ficamos com a perspectiva de ganharmos menos que o professor de ensino médio. Então a derrota não é só do magistério, mas sim da educação que, infelizmente, pode ser atingida quando o professor não é estimulado. Lutamos por uma conquista nacional, mas o Governo de Sergipe, através de uma manobra, aprova um projeto que o livra de cumprir o Piso Salarial. Apesar de petista, eu não apoio a posição do Governo Déda que fere os direitos dos trabalhadores. E por isso até cobramos que os parlamentares que seguem esse conceito, que é um desrespeito com seu próprio mandato que apresentem suas justificativas para tanta incoerência", criticou Iran.

Fonte: Da redação Universo Político.com - Por Raissa Cruz