quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
10 AVANÇOS DA CIÊNCIA EM 2010
10 avanços da ciência em 2010
Para a ciência, 2010 foi um ano de surpresas. Pela primeira vez, uma forma de vida foi criada artificialmente em laboratório, levantando discussões de todo tipo. Também descobrimos que temos todos (exceto os africanos) um certo parentesco com os extintos neandertais. E descobrimos que a Nasa vai mudar seu jeito de mandar gente pro espaço, a despeito de todo o lobby para a manutenção de seus programas gigantescos. Ah, tem água na Lua também. Confira abaixo as dez maiores revelações científicas do ano.
10. Genética da longevidade
Diversas descobertas ao longo de 2010 revelaram que a duração de nossa vida pode estar nos genes. Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Boston mostrou que há correlação entre certas variações genéticas e a longevidade além dos cem anos. Com isso, conseguiram desenvolver um teste que prevê com 70% de exatidão se alguém atingirá a marca centenária. Além disso, pesquisadores britânicos encontraram um gene que parece determinar o comprimento dos telômeros – regiões nas pontas dos cromossomos que vão encolhendo conforme o tempo passa e parecem ter relação com o envelhecimento. Outro avanço significativo foi obtido pela Universidade Harvard, em estudos com animais. Camundongos envelhecidos prematuramente passaram por tratamento para correção da ação da telomerase – enzima que regula os telômeros – e viram os efeitos da velhice revertidos. Se ainda estamos longe de manipular o tempo de vida humano, pelo menos começamos a ficar mais perto de compreender o que o determina.
9. Revisão na tabela periódica
Em abril, cientistas americanos e russos anunciaram a criação de um novo elemento químico. Com número atômico 117 (o que significa que tem 117 prótons em seu núcleo), o ununséptio é instável e logo decai, primeiro perdendo prótons, depois se dividindo em dois. Entretanto, ele dura mais que outros elementos mais leves, o que faz supor que haja uma janela de estabilidade maior com outros átomos hoje desconhecidos. Por ora, pouquíssimo se sabe a respeito desse fugidio elemento, exceto que ele entrou na família VIIA da famosa tabela periódica, com o símbolo Uus.
8. LHC reativado
O Grande Colisor de Hádrons, maior acelerador de partículas do mundo, foi inaugurado com toda pompa em 2008. Mas o aparelho do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), que ocupa uma vasta rede de túneis entre a França e a Suíça, logo teve de ser desligado, após um defeito inesperado. Os problemas foram maiores do que inicialmente se imaginava, mas finalmente em 2010 o dispositivo voltou a operar e agora começa a aumentar gradualmente seu nível de energia. As primeiras colisões de partículas já foram realizadas e espera-se que eventualmente o acelerador produza mini-Big Bangs, versões em miniatura das condições que existiam apenas no momento em que o Universo nasceu.
7. Água na Lua
Parece piada, mas justamente quando os americanos desistem de voltar à Lua surge uma descoberta que muda por completo tudo que pensamos a respeito do satélite natural terrestre. Já havia informação de que, no interior de crateras profundas, onde a luz do Sol nunca bate, deveria haver gelo. Mas o que as sondas Lunar Reconnaissance Orbiter e Chandrayaan-1 (americana e indiana, respectivamente) mostraram em 2010 é que há moléculas de água recobrindo toda a superfície. É pouca quantidade se compararmos com a Terra, mas ainda assim um achado que modifica radicalmente nossa interpretação das análises das rochas trazidas de lá por astronautas nos anos 60 e 70.
6. O futuro do espaço
Quando Barack Obama apresentou seus planos para o futuro da Nasa, no início do ano, todo mundo ficou meio desconfiado. O presidente americano queria apostar mais em espaçonaves comerciais e focar a agência espacial americana no desenvolvimento de tecnologias para missões mais ambiciosas no futuro, em vez de manter o plano original de George Bush de retornar à Lua até 2020. Mas seria a indústria capaz de tocar um programa de envio de carga e pessoal ao espaço, só vendendo as passagens à Nasa? A resposta começou a ser dada de bate-pronto pela companhia SpaceX. No ano que passou, ela realizou dois lançamentos de seu novíssimo foguete Falcon 9, capaz de levar cápsulas com humanos dentro até a órbita terrestre. No primeiro lançamento, em junho, só o lançador foi testado. Mas em dezembro ocorreu o primeiro voo de uma cápsula Dragon. Futuramente, ela poderá levar até sete astronautas à Estação Espacial Internacional. Para o ano que vem, já há previsão de um voo não-tripulado de suprimentos para o complexo orbital.
5. Em busca de outra Terra
Os astrônomos acham que desta vez foi para valer. Em setembro, anunciaram a descoberta de um planeta fora do Sistema Solar que parece ter características que o tornam habitável. Ele orbita uma estrela anã vermelha chamada Gliese 581 e completa uma volta em torno dela a cada 37 dias terrestres. Provavelmente tem o solo rochoso e uma atmosfera, como nosso planeta, e está na distância certa de sua estrela para que água líquida seja estável na superfície. O anúncio, feito por pesquisadores americanos, não é o primeiro do tipo. Em 2007, ao redor da mesma estrela, um grupo europeu havia detectado outro planeta e dito as mesmas coisas sobre ele, mas cálculos posteriores mostraram que a história era bem outra. Sobre o novo mundo recém-descoberto, estudos futuros dirão se é mesmo habitável.
4. Nossos primos, os neandertais
Há tempos os cientistas têm trabalhado no esforço de extrair amostras de DNA dos neandertais, os primos mais próximos da humanidade, extintos cerca de 30 mil anos atrás. Originários da Europa, esses hominídeos chegaram a conviver por um bom tempo com os humanos modernos (também conhecidos como “nós”) e a razão de seu sumiço é motivo de muito debate. (A hipótese mais provável é que nós os tenhamos matado, conforme saímos da África para ocupar a Eurásia.) Mais controversa ainda era a ideia de que nós e eles teríamos nos misturado, se é que você me entende. Mas em 2010 um esboço do genoma neandertal obtido pelo grupo de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva, na Alemanha, mostrou que há genes deles entre nós. Aparentemente, todos os humanos do mundo exceto os que têm origem 100% africana possuem algum grau de parentesco com essas fascinantes criaturas.
3. Vida como não a conhecemos
Um dos preceitos básicos da vida na Terra é que seis elementos químicos são indispensáveis: hidrogênio, oxigênio, carbono, nitrogênio, enxofre e fósforo. Mas uma descoberta anunciada em dezembro por cientistas da Nasa chocou a comunidade científica. Eles encontraram uma bactéria no lago Mono, na Califórnia, que foi capaz de, aos poucos, substituir completamente o fósforo por outro elemento, o arsênio. Até mesmo seu DNA deixou de usar um tipo de átomo para usar o outro! Embora os dois elementos sejam “parentes” (pertençam à mesma família na tabela periódica, o que significa que têm características químicas similares), antes se pensava que essa troca seria impossível. O resultado revela não só o quanto a vida é capaz de se adaptar para sobreviver, mas demonstra também que o que consideramos necessário para o surgimento de seres vivos pode ser apenas contingente, e outras combinações químicas em mundos exóticos poderiam dar origem a formas de vida radicalmente diferentes. Chocante.
2. Células-tronco embrionárias
Em julho, a FDA, agência que regula fármacos e alimentos nos Estados Unidos, liberou o primeiro teste clínico de células-tronco embrionárias. Doze pacientes seriam submetidos ao tratamento para lesões na coluna espinhal, numa técnica desenvolvida pela empresa americana Geron. Alguns meses depois, a empresa ACT também recebeu autorização para prosseguir com seus testes clínicos, voltado para o combate à perda de visão com células extraídas de embriões. Ninguém sabe se os resultados serão positivos, mas é interessante ver que foi neste ano que surgiram as primeiras tentativas efetivas de tornar realidade o potencial terapêutico dessa biotecnologia tão controversa.
1. Vida artificial
Craig Venter é um egomaníaco incorrigível, todos sabemos. Mas neste ano de 2010 o cientista americano que revolucionou as técnicas de leitura de genomas foi mais longe e resolveu assumir o papel de Deus: concebeu, em laboratório, a primeira forma de vida que pode ser chamada de artificial. Era uma bactéria, é verdade, e não tinha nada de realmente novo nela, fato, mas ainda assim foi a primeira vez que um genoma montado “no braço”, letrinha por letrinha, foi “instalado” numa célula para a partir daí comandá-la, transformando-a na forma de vida especificada pelas instruções genéticas. Trata-se do ponto de partida para um novo campo de pesquisa, a biologia sintética. A ideia é usar as técnicas para desenvolver organismos que façam coisas como eliminar a poluição ou produzir combustíveis baratos. Ainda não chegamos lá, mas tudo começou em 2010.
Fonte: Revista Super Interessante - por Salvador Nogueira, editor da revista Conhecer e colaborador regular do jornal Folha de São Paulo e da SUPER
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