A mentira faz parte da infância, mas é preciso observar atentamente o comportamento das crianças
“Mamãe, hoje eu não tenho aula”. A mentirinha, vinda de uma criança que não quer ir à escola, pode parecer inocente. Mas, quando os filhos descobrem essa artimanha, todo cuidado é pouco.“Todos nós mentimos, o tempo todo. As pequenas mentiras são necessárias para que possamos viver em um meio social”, reconhece Blenda Marcelletti, terapeuta especializada em família. “Você não fala a verdade sobre tudo e para todos, pois magoaria as pessoas".
A especialista explica que, aos quatro ou cinco anos, as crianças descobrem a mentira, que serve como exercício para a evolução cognitiva e intelectual delas. Na infância, é comum imaginar histórias que se misturam à realidade. “Fantasiar faz parte do universo infantil. Isso auxilia no desenvolvimento, na capacidade de comunicação e percepção do mundo”. Mas os pais devem estar alertas, avisa a Blenda, que aconselha a acompanhar de perto a rotina dos filhos e observar se há sinais de que a mentira está passando dos limites.
Para Maurício de Souza Lima, médico hebiatra (especialidade que trata de jovens) da unidade de adolescentes do Hospital das Clínicas da USP, existe uma fase em que as crianças percebem que podem tirar proveito da mentira, que é facilmente detectável. “Elas não sabem mentir, por isso, se entregam. São ingênuas e, geralmente, se contradizem. Mas, quando adolescentes, podem tirar mais vantagem e manipular os pais.”
A mentira pode ser uma maneira de esconder alguma fragilidade
Não existe uma fórmula que defina quando a mentira passa dos limites. Mas é fato que a influência dos pais é crucial. Maurício avisa que o hábito de mentir pode ter sido alimentado, sem intenção, em casa.
“O filho tem os pais como modelo. Se a referência é falha, não dá para cobrar um comportamento adequado”. Maurício usa como exemplo o comum hábito dos pais que pedem aos filhos que digam que eles não estão, quando não querem atender a um telefonema. “Isso é o suficiente para que a criança aprenda errado”, afirma Maurício.
Existem, ainda, os casos extremos: os das pessoas que mentem compulsivamente. Esse tipo de comportamento pode denunciar um transtorno psiquiátrico, a mitomania, que exige acompanhamento especializado -outra prova de que é importante observar as atitudes dos filhos.
Mauricio diz, também, que a mentira pode surgir como forma de autoafirmação: “Quando ela existe sem finalidade, sem um benefício, ela pode estar escondendo uma espécie de fragilidade, como se a criança quisesse mostrar o tempo todo aquilo que não é, como uma autodefesa inconsciente.”
Lá em casa...
Paulo Baptista, empresário, diz que sua tática para que o filho Marcelo não minta é simples: acompanhar a rotina dele de perto. “Para mim, ele não conta mentiras, porque a única vez que tentou [sobre ter terminado a lição de casa], tomou uma bronca tão grande, que aprendeu. Ele sabe que, quando eu pergunto, geralmente, já sei a resposta ou vou verificar depois”, conta.
A terapeuta Blenda não concorda com a estratégia. “Dar bronca pode ter o efeito contrário: alimentar a ideia errada de que é melhor mentir. O ideal é tentar conversar e, se o processo não for interrompido, é necessário procurar ajuda profissional”, encerra.
Fonte: UOL
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