O professor George Church, da Universidade de Harvard, teve seus quinze minutos de fama esta semana ao afirmar que os humanos viverão de 120 a 150 anos.
Ele não foi o primeiro a dizer isto, e certamente não será o último.
O geneticista Aubrey de Grey, por exemplo, diz não apenas que o homem viverá 150 anos, mas que o primeiro humano que viverá 150 anos já nasceu.
E ele vai além: para Grey, a primeira pessoa que viverá 1.000 anos nascerá nos próximos 20 anos.
Em alguns casos, como no de Church, é difícil separar o que é previsão científica daquilo que é entusiasmo adolescente - em um homenzarrão de quase dois metros de altura e mais de 50 anos - ou daquilo que é simples anseio de fama.
No caso de Grey, a separação do joio do trigo é bem mais fácil, porque é difícil enxergar algum trigo.
Expectativa de vida
Mas a discussão encerra temas interessantes, de grande interesse para toda a sociedade.
A expectativa de vida do homem moderno é cerca do dobro da expectativa de vida de um europeu durante a Idade Média. De 1970 a 2005, duplicou a probabilidade de uma pessoa com 65 anos chegar aos 85 anos.
Os progressos no campo da higiene, da alimentação e dos tratamentos médicos têm tido resultados entusiasmantes, o que nos faz ver a afirmação de que o homem viverá 150 anos no futuro como algo quase óbvio.
Contribuições da genética
Apesar do grande apelo na mídia, contudo, a genética ainda não produziu resultados nesta área.
A anunciada descoberta de um "gene da longevidade", por exemplo, já foi devidamente desmentida.
Mas isto é temporário e, de fato, espera-se que a genética dê resultados na área da longevidade, embora já se saiba que o DNA não tem todas as respostas.
Mas a discussão principal não é quantos anos a mais viveremos, mas como os viveremos.
Viver mais doente
A onda de privatizações que dominou o mundo nos anos 1980 e 1990 praticamente deixou todo o desenvolvimento de medicamentos nas mãos de empresas privadas. Exemplos como os da Fiocruz no Brasil são cada vez mais raros.
Como empresas privadas precisam de lucros constantes, nos anos recentes a chamada "Big Pharma" centrou todos os seus esforços em medicamentos de uso contínuo, porque medicamentos para doenças crônicas garantem lucros continuados.
Desta forma, o foco do desenvolvimento de medicamentos atualmente não está em "curar doenças", mas em fazer o paciente viver mais, ainda que seja em uma cama de hospital ou em uma vida parcial dentro de casa.
Uma pesquisa recente, realizada nos Estados Unidos, onde o acesso à saúde é muito mais homogêneo entre a população, mostrou que, apesar de estarem vivendo mais, as pessoas estão passando um percentual maior de suas vidas doentes.
"Nós temos assumido que cada geração será mais saudável e viverá mais do que a anterior. No entanto, a pressão da morbidade pode ser tão ilusória quanto a imortalidade," afirmou o Dr. Eileen Crimmins, da Universidade da Califórnia.
E isto nem vale para toda a população porque restou um monte de doenças negligenciadas pelas grandes empresas farmacêuticas, para as quais sobra o esforço de um grupo de cientistas abnegados, que nunca conseguem colocar suas descobertas no mercado porque as instituições públicas das quais fazem parte não têm a estrutura necessária para a comercialização.
Mas, ao menos estes grupos fazem um trabalho de verdadeiros cientistas, em busca de curas para os doentes, em vez de repetidos lucros para suas empresas à custa de decisões eticamente discutíveis.
Um trabalho bem mais digno do que simplesmente ficar tentando chamar a atenção para si próprios, como os "divulgadores da imortalidade" fazem.
É esta classe de cientistas que nos permitirá, no futuro, viver 150 anos de fato, como pessoas ativas e com qualidade de vida.
Fonte: Diário da Saúde
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