Carambola, espinafre e castanha-do-pará são alguns
dos alimentos que podem causar intoxicação
É comum pensar que os alimentos naturais são sempre
benéficos para a saúde. Mas em alguns casos é preciso tomar certo cuidado
principalmente para pessoas que apresentam algum problema de saúde. Isto porque
alguns alimentos contam com fatores antinutricionais. "O termo 'fator
antinutricional' é dado aos compostos desses alimentos de origem vegetal que ao
serem consumidos, diminuem o valor nutricional ou efeito benéfico do alimento.
Eles interferem na digestibilidade, absorção ou utilização de nutrientes e, se
ingeridos em altas concentrações, podem acarretar efeitos danosos à
saúde", explica a nutricionista Hannah Médici. A seguir, saiba quais são
esses alimentos e os cuidados necessários ao consumí-los.
Carambola: risco para quem tem problemas renais
A carambola tem em sua composição o ácido oxálico
que em quantidade elevada na urina aumenta a formação de cálculos de cálcio renais,
por ser pouco solúvel na urina, e ainda pode causar irritação nas mucosas
intestinais.
Assim, a carambola quando consumida em excesso pode
causar pedras nos rins de pessoas saudáveis. Em pessoas que já tem problemas
renais as complicações podem ser ainda maiores. A carambola possui uma toxina,
que é absorvida no processo de digestão da fruta, filtrada pelo rim e eliminada
através da urina.
No entanto, quando uma pessoa apresenta quadro de
problema renais, com cerca de 10 a 15% de capacidade de funcionamento dos rins,
essa toxina, que é um aminoácido modificado, vai para a corrente sanguínea, e
se une as proteínas no sistema nervoso central. É por isso que essa toxina é
chamada de neurotoxina, podendo afetar o sistema nervoso, causando soluços fortes,
confusão mental, agitação, convulsões, sonolência, coma e até levar a morte em
casos mais graves.
Assim, quando consumida por quem tem algum grau de
problema renal, a carambola pode levar a intoxicação. "Nestes casos a
maneira de retirar a toxina da corrente sanguínea é através da filtração do
sangue na hemodiálise, que deve ser feita imediatamente correndo-se o risco de
não dar tempo e a pessoa ir a óbito", explica a nutricionista Talitta
Maciel, do Espaço Reeducação Alimentar.
Um dos grandes riscos é que problemas renais na
maioria das vezes são assintomáticos. Então, a pessoa pode ter algum grau de
insuficiência e não saber, comer a carambola e passar mal. Os diabéticos também
devem evitar o consumo da carambola. "Isto porque a glicemia alta pode
causar danos renais. Pessoas que não apresentam sinais de problemas renais, o
ideal é fazer exames para verificar a função do órgão antes de fazer o consumo
da fruta", orienta Talitta Maciel.
Para pessoas saudáveis, a quantidade recomendada de
carambola é uma unidade do fruto maduro por dia. "Não há uma quantidade
que pode ser considerada prejudicial porque isso é muito individual. A pessoa
pode consumir meia carambola e causar problemas caso tenha alguma doença no
rim, como também pode ingerir grandes quantidades do fruto e não desenvolver
nada", observa Talitta Maciel.
Espinafre: evite o consumo das folhas cruas
O espinafre é rico em ácido oxálico e ácido fítico.
O alto teor destes fatores antinutricionais inibe a absorção dos minerais
cálcio e ferro de alimentos consumidos junto com esta verdura. "Os ácidos
oxálico e fítico também contém saponina que pode levar à inflamação no
intestino", observa Talitta Maciel.
Assim, o consumo em excesso de espinafre pode levar
a cálculos renais, artrite, reumatismo e gota, além de deficiência de cálcio e
ferro por interferência na absorção destes minerais.
"Quando o espinafre é cozido, pode ser
consumido diariamente sem problemas. Contudo, sua versão crua deve ser ingerida
no máximo uma vez por semana, mas do que isso os problemas podem
aparecer", explica Talita Maciel.
Portanto, é preciso ter alguns cuidados ao consumir
o espinafre. Pessoas com tendência à formação de cálculos renais, problemas
renais em geral, artrite reumatoide, ácido úrico, gota e reumatismo devem
evitar o alimento cru ou cozido. Enquanto pessoas saudáveis não devem ingeri-lo
em grandes quantidades.
Sempre consuma o espinafre cozido, com a tampa da panela
aberta, pois isto ajuda a saponina a evaporar. Não utilize o caldo de cozimento
do espinafre porque ele contém muitos dos antinutrientes desta verdura.
Mandioca brava: ela contém uma espécie de veneno
O principal problema está na mandioca da espécie
Mahihot Esculenta, mais conhecida como mandioca brava. "Ela é rica em
glicosídeos cianogenéticos que liberam uma substância chamada ácido cianídrico,
um tipo de veneno, por isso ela não pode ser consumida cozida como a mandioca
comum", alerta Talitta Maciel.
O ácido cianídrico presente na mandioca brava pode
causar cansaço, fraqueza muscular, agitação, falta de ar, confusão mental,
convulsão, coma e até a morte. "A mandioca brava só pode ser consumida
quando submetida à temperaturas muito elevadas que destroem o efeito do veneno,
por isso ela apenas é utilizada na preparação de farinhas", diz Talitta
Maciel. É muito raro encontrar essa mandioca, mas vale ficar atento.
Existem mais de 250 tipos de mandiocas. Para
garantir a saudabilidade do alimento, é importante saber a origem desta
mandioca e não consumir aquela que encontrar na natureza. "A mandioca
brava costuma ser mais fina e ter o caule mais fibroso", explica Maciel.
Algumas oleaginosas
Consumir além de seis castanhas-do-pará por dia pode
ser prejudicial para a saúde. Isto porque esta quantidade do alimento possui
542 mcg de selênio, 774% da recomendação diária. O consumo ocasional de uma
quantidade maior não vai causar nenhum problema, o que complica é o consumo
crônico de altas quantidades da castanha. Pode ocorrer uma overdose de selênio
que leva a uma condição tóxica conhecida como selenose. Os sintomas deste
problema são náuseas, vômitos, dor abdominal, fadiga, irritabilidade,
descamação das unhas, perda de cabelo, mau hálito, distúrbios gastrointestinais
e danos ao sistema nervoso.
Assim, a orientação é ingerir entre uma e duas
castanhas-do-pará por dia, considerando que cada castanha tem cerca de 5
gramas, consuma até 10 gramas. Além disso, fique pelo menos dois dias da semana
sem consumir este alimento para evitar excesso de selênio.
Também é preciso ter cuidados ao consumir as
amêndoas ou a castanha de caju. "Elas possuem cianeto, por isso devem ser
ingeridas torradas para eliminar esse veneno", destaca Talitta Maciel. O
problema do cianeto é que ele impede a absorção de minerais como potássio,
magnésio e outros e isto favorece complicações como tireoide.
A castanha de caju conta com uma substância chamada
urishol. "Trata-se de uma toxina alergênica que irrita bastante a pele,
causando inflamações", diz Maciel. O urishol desaparece quando a castanha
de caju é torrada, por isso é importante consumi-la apenas desta forma.
Óleo de copaíba
O óleo de copaíba é consumido em gotas diluídas em
água e faz sucesso devido à sua ação anti-inflamatória e porque algumas
pesquisas iniciais apontaram que ele ajuda na prevenção do câncer e é aliado do
sistema nervoso central.
Contudo, esse óleo pode causar intoxicação se
consumido em excesso, podendo levar à diarreia, vômito, problemas de pele,
irritação no intestino e fígado. "O óleo de copaíba deve ser introduzindo
aos poucos no dia a dia não ultrapassando 6 gotas diárias, começar com 1 gota
na primeira semana de uso e ir aumentando gradativamente semana a semana até
chegar as 6 gotas, evitando assim que o organismo não reconheça o óleo e cause
os sintomas de intoxicação", explica Talitta Maciel. O consumo deve ser
observado e em caso de alguma reação suspender o uso.
Erva de São João
A erva de São João é uma planta medicinal muito
usada como antidepressivo natural, sendo consumida na forma de cápsulas. A
recomendação da erva varia entre 100 e 300 miligramas por dia, sendo que só o
médico poderá determinar a quantidade a ser ingerida. Porém, seu usou tem
contraindicações importantes.
A erva de São João tem ação fotossensibilizante, de
modo que já foram descritos casos de pacientes que ingeriram a planta e
apresentaram dor após um banho de sol. Há relatos de casos em que a ingestão da
erva de São João levou a psicose com alucinações e ilusões em pessoas sem
histórico de desordens psiquiátricas pessoais ou na família. Também há
trabalhos que descrevem casos de pacientes que desenvolveram estado de mania
após a ingestão da erva. Ainda há o perigo de hipertensão se a erva de São João
for combinada com alguns alimentos como queijo, repolho, picles e vinhos.
O Food and Drug Administration (FDA), organização
dos Estados Unidos que controla alimentos e remédios, emitiu uma advertência
sobre as interações provocadas pelo uso da planta concomitantemente com
medicamentos anti-retrovirais. Isto porque a planta pode interferir na ação dos
medicamentos contra o HIV.
Pesquisadores da Universidade de Zurique, Suíça,
descobriram que a erva de São João interfere no efeito imunossupressor da
ciclosporina, utilizada na prevenção da rejeição de órgãos transplantados.
Pacientes transplantados de coração que utilizavam a ciclosporina e ingeriram a
planta apresentaram rejeição aguda.
Pesquisas mostram que ocorrem sangramentos e falhas
de contraceptivos orais em mulheres que utilizam a erva de São João. Portanto,
quem utiliza pílulas deve evitar a planta. Estudos ainda apontam que a erva de
São João podem interagir com sinvastatina e com os seguintes fármacos:
antidepressivos tricíclicos, amitriptilina, nortriptilina, anticonvulsivantes
(carbamazepina, fenitoína, fenobarbital), anticoagulantes, femprocumona e
varfarina (Stockley, 2002).
A erva de São João ainda diminui o efeito
anticoagulante do medicamento warfarina e pode aumentar a toxicidade de outros
medicamentos como nefazodona ou inibidores seletivos da receptação de
serotonina. Quando usado com a paroxetina, a erva de São João produziu náuseas
e perturbação psiquiátrica.
Cogumelos
É importante ficar atento ao ingerir os cogumelos.
Isto porque muitos deles podem ser venenosos. "Cerca de 80% dos cogumelos
são comestíveis, mas existem aproximadamente 4 mil espécies venenosas",
observa Talitta Maciel.
Os cogumelos mais consumidos são o shimeji, shitake,
champignon, Portobello, cogumelo-do-sol, hiratake, cogumelo salmão e cogumelo
rei. Para evitar cogumelos venenosos, é importante ter informações sobre a
origem do cogumelo, dados sobre o produtor, número de lote, entre outros. E
nada de colher cogumelos das árvores e ingerir!