Esta semana, dando aula online aos alunos do Colégio O Saber e explicando sobre os esportes que são variantes do futebol de campo, apresentei a eles um vídeo que falava do futebol de mesa, popularmente conhecido como jogo de botão ou futebol de botão. Então, comentei com os alunos que na minha adolescência eu jogava esse jogo, e lhes contei uma parte da história que foi mais ou menos assim:
Algum tempo atrás, Dr. Adilson me
presenteou com uma foto do seu time de botões, provavelmente, a maioria dos
atletas feitos por mim, já que eu fui o maior fabricante de botões de Itabaiana
que se tem notícia, pois cheguei a fazer mais de mil, o que daria mais de 100
times. Os botões eram feitos de acrílico, casca de coco, mica de avião, etc.
Aprendi a fazer botões com meu irmão Tonho, que ao passar na prova da Escola
Técnica Federal, em 1975, foi estudar em Aracaju e me vendeu o esmeril manual.
Na época, eu tinha 13 anos, e de tanto vê-lo fazer os botões, acabei aprendendo.
Alguns anos depois, vendi o esmeril ao meu primo Luiz de Tonho de Rosa que
continuou a fabricá-los.
O processo de fabricação dos botões era
simples: eu pegava a placa de acrílico e com um compasso fazia círculos do tamanho
desejado do botão. Em seguida, esquentava uma faca no fogão à lenha, cortava e
colava com a cola Araldite duas ou três partes para formar o botão. Depois de
colado, aproximadamente após uma hora, arredondava no esmeril até ter o formato do botão. Lixava-o na lixa
de madeira e, posteriormente, na lixa d’água fina par tirar os arranhões. Para finalizar,
passava pasta incolor de sapato e tirava o excesso em uma flanela, estava
pronto o futuro artilheiro do jogo de botão.
Minha mãe, Dona Graça (in memoriam) era costureira, então eu comprava a flanela e pedia a ela que costurasse uma espécie de capa para guardar os botões, e vendia juntamente com o time para quem quisesse, pois os protegia de serem arranhados. Às vezes, eu também fazia o botão por encomenda, quando a pessoa só queria comprar um ou dois botões, especificamente, de defesa ou ataque, já que tinha diferenças: o botão da defesa era maior e mais alto e o do ataque era menor e mais baixo, o artilheiro. Na época, usávamos uma caixa de fósforo como goleiro, mas tinha pessoas que pediam para que eu fizesse de acrílico grosso ou de várias camadas de acrílico. A equipe de botão era composta por 11 jogadores, e a arrumação no campo era feita com um goleiro, 5 botões na defesa e 5 no ataque, numerados na parte superior com números da folhinha de parede. A bola do jogo era feita no esmeril com milho seco ou acrílico. Para deslocar os botões no campo usávamos uma palheta fina e redonda de acrílico. Quando os botões ficavam travados no campo, eu colocava talco de bebê para que eles se descolassem com mais velocidade.
Como jogador, fiz partidas memoráveis e
disputas de campeonatos com meus amigos de infância e adolescência como: Luiz
Antônio, Tonho de Crispim, Flauvinaldo, Zanza, Givaldo (in memoriam), Jairo,
Luiz de Tonho de Rosa, Carlos Alberto “Rolopeu” (in memorian), Dinho, Alvino,
Balsa, Saulo, Rubinho e outros mais. O meu campo de jogar botão, feito pela
família de Branco marceneiro, se chamava Brinco de Ouro, referência ao estádio
de futebol do Guarani de São Paulo, e cheguei a levá-lo a casa de vários amigos
para jogar com eles. Modéstia à parte, eu era um dos melhores jogadores da
época.
Apesar de ter feito mais de mil botões,
não guardei nenhum time porque eu fazia para vender e ganhar dinheiro. O último
time de botão que eu fiz, foi do Grêmio, com acrílico azul e grosso por baixo e
tirinhas de preto, branco e azul por cima, e o vendi ao amigo Carlos Alberto.
Hoje, tenho guardado dois times de fábrica
que comprei na loja, mas não substituem os botões feitos manualmente por mim.
Saudades dos tempos da minha adolescência e dos jogos de botões, tempo que não
voltará mais.
Por José Costa