O que você quer ser quando tiver 30 anos?
A pergunta foi feita pela OCDE aos jovens de 15 anos
avaliados, no ano passado, no Pisa, exame aplicado a cada três anos que busca
medir a qualidade da educação nos países.
Uma parcela expressiva dos adolescentes brasileiros
demonstrou interesse em trabalhar na área científica: 38,8% contra 24,5% do
total na média das nações desenvolvidas.
Em 2006, o percentual de adolescentes brasileiros que queria
seguir carreira em ciências era de 33,5%.
O interesse elevado e crescente de nossos jovens por
ciências, no entanto, não teve nenhum efeito sobre seu desempenho na área.
O conhecimento dos nossos alunos em ciências está
simplesmente estagnado há uma década. O mesmo ocorre com sua aprendizagem em
leitura: parada desde 2000.
Em matemática, depois de uma evolução significativa entre
2003 e 2012, voltamos a estacionar.
Se a explicação para nosso fracasso educacional não está no
interesse de nossos alunos por temas relevantes para o mundo atual como
ciências, onde se encontrará?
Na trajetória de nossos gastos, talvez? Esse indicador é,
afinal, muitas vezes citado como solução para todos os males educacionais.
A resposta, no entanto, tampouco parece estar aí.
O investimento brasileiro por aluno de 6 a 15 anos equivalia
a 32% da média dos países ricos da OCDE em 2012. Em três anos, essa fatia
saltou para 42%. O Chile com gastos quase iguais ao nossos tem desempenho
acadêmico muito melhor.
Podemos procurar uma pista para a estagnação brasileira na
diferença de desempenho entre nossos alunos pobres e ricos. Mas a busca também
não nos leva longe.
Essa desigualdade existe, obviamente, e é enorme. Sua
capacidade de explicar a trajetória das notas dos nossos alunos, porém, tem
decrescido.
O nível socioeconômico dos alunos brasileiros respondia por
17% de seu desempenho em ciências em 2006. Em 2015, passou a ser responsável
por 12,5% do resultado.
São outras questões relacionadas à qualidade do ensino,
portanto, que elucidam a falta de progresso educacional dos adolescentes
brasileiros.
A formação dos nossos professores pode ser uma delas. O
percentual de docentes de ciências com graduação na área era de apenas 33% no
Brasil contra 73,8% na média dos países ricos, em 2015.
Isso ajuda a entender porque 17% dos brasileiros de 15 anos
dizem que seus professores nunca explicam ideias científicas nas aulas dessa
disciplina. Nos países desenvolvidos, essa parcela cai para 11%. E, na
Finlândia, uma superpotência educacional, é de apenas 5,7%.
Indicadores como esses contribuem para a compreensão de um
dos dados mais chocantes das inúmeras tabelas divulgados pela OCDE nesta
terça-feira (dia 6). No Brasil, muitos jovens querem trabalhar como
engenheiros, médicos e arquitetos.
A parcela dos alunos brasileiros de 15 anos que declara
interesse pelo magistério, porém, é zero, como mostra a tabela abaixo.
Essa informação oferece a dimensão do nosso enorme desafio
educacional. Como melhorar a qualidade da educação se absolutamente ninguém
quer ensinar?
Como mostrou a coluna de quatro semanas atrás, países que
conseguiram saltos educacionais expressivos como a Finlândia começaram adotando
medidas para melhorar a formação de seus docentes e aumentar a atratividade da
carreira.
Sem passos significativos nessa direção, perigamos continuar
estagnados por mais três anos.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ericafraga/2016/12/1839126-nenhum-jovem-quer-se-tornar-professor-no-brasil.shtml
- Apu Gomes/Folhapress