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segunda-feira, 14 de junho de 2010
A hora de apoiar quem quer ensinar
Para garantir que a escola tenha qualidade, é preciso valorizar quem quer ser professor com apoio cultural e concessão de bolsas de estudo.
A escolarização no Brasil cresceu tanto que, ao longo de algumas décadas, o número de professores saltou de centenas de milhares para quase 2 milhões. Essa expansão deve prosseguir para dar continuidade a nosso desenvolvimento social, mas é preciso que ela ocorra juntamente com a valorização do trabalho docente. Caso contrário, se aprofundará um impasse que já é sentido no desenvolvimento da economia e no combate às desigualdades.
Estudos recentes, como um realizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC), encomendado pela Fundação Victor Civita (FVC), e outro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), dão razões para nos preocuparmos. Mesmo diante do enorme déficit de educadores bem preparados, esses estudos, assim como as estatísticas oficiais, revelam que é alto o índice de abandono em cursos de formação - em que a maioria das vagas fica ociosa - e que a perda de prestígio da docência não atrai quem tem maior nível cultural. O primeiro passo é compreender o processo que nos trouxe até aqui e ver quando e como superar essa condição.
No tempo em que só uma pequena parcela de nossa população ia além dos quatro anos de escolaridade, quem completava a Educação Básica tinha professores vindos de uma elite cultural. A industrialização e a urbanização levaram a uma ampliação do acesso à escola, que não foi acompanhada da correspondente formação e valorização da profissão docente, cujo status social declinou na proporção de seu crescimento.
A atual conjuntura de crescimento econômico tem aumentado o repasse de recursos públicos para objetivos sociais, que poderiam ser destinados à melhoria das condições de trabalho e de formação dos profissionais da Educação, o que por si só fortaleceria o ensino e favoreceria a inclusão de setores marginalizados. Aliás, sabe-se que o crescimento não se sustenta sem profissionais qualificados ingressando no mundo do trabalho, o que igualmente depende do aperfeiçoamento da escola. Por várias razões, portanto, vivemos um momento crucial para a reversão desse processo. Vejamos medidas para isso, algumas delas já sinalizadas nos estudos citados:
- Estimular a escolha pelo Magistério, com concessão de bolsas para os licenciandos atuarem em escolas públicas e para professores que os orientem.
- Dar mais ênfase ao ensino de práticas e didáticas específicas nas universidades e avaliá-las levando em conta não só a pesquisa mas também sua contribuição para a Educação Básica.
- Reformular a jornada de trabalho, garantindo aos professores a maior permanência em cada escola.
- Financiar a formação em serviço e produção cultural nas escolas, divulgando os programas de excelência.
- Estabelecer planos de carreira com piso digno e progressão não burocrática, baseada no desempenho do docente e nos desafios do contexto em que trabalha.
- Garantir mais acesso nas escolas a recursos didáticos, sistemas de informação e de atualização cultural, assim como de segurança e de saúde.
- Dar à escola condições para envolver a comunidade e seus colegiados em suas oportunidades formativas e culturais.
Algumas dessas propostas já são iniciativas oficiais, mas em escala limitada e sem recursos suficientes. Algumas são mantidas com um enorme esforço local. Muitas são bandeiras de movimentos pela melhoria da Educação. Porém nenhuma se transformou em política de Estado. No entanto, todas são realidade em nações mais avançadas e justas do que a nossa. É claro que países desenvolvidos dão melhores condições a seus educadores. Sem isso, não teriam evoluído. Eis uma ideia para quem disputar qualquer cargo nas próximas eleições - e para quem (como eu e você) vai votar.
Luis Carlos de Menezes - físico e educador da Universidade de São Paulo (USP).
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