Segundo a Organização Mundial da Saúde, dá para
prevenir e tratar de 60% a 80% das doenças oculares.
Infelizmente, não dá para se proteger de todas as
condições de saúde com vacinas. Mas uma iniciativa tomou emprestada a ideia da
caderneta de vacinação para conscientizar a população sobre o diagnóstico
precoce de problemas oftalmológicos em crianças. Esse é o projeto Caderneta de
Visão: um movimento pela saúde ocular infantil.
Criada pela agência Artplan, a ação incluiu a
impressão de várias cadernetas onde é possível anotar as idas ao médico para
cuidar dos olhos. Esse material está sendo distribuído pela rede Óticas Carol
(também dá para baixá-lo no site da campanha). Tendo um registro dos exames em
mãos, fica mais fácil de fazer o controle das avaliações visuais.
O Conselho de Oftalmologia Brasileiro (COB) estima
que mais de 250 mil jovens de 5 a 15 anos têm dificuldade para enxergar no
nosso país. E, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 60% a 80% dos
casos são evitáveis ou tratáveis.
Para a oftalmologista Claudia Faria, da clínica
Belfort, em São Paulo, qualquer iniciativa que promova visitas de meninos e
meninas ao consultório é válida. Normalmente, eles só buscam apoio quando
reclamam de não conseguir ler na escola.
“No Brasil, falta orientação preventiva. Muitas
doenças só são bem tratadas durante a infância”, pontua a especialista. De olho
nisso, SAÚDE compilou informações importantes para você saber como cuidar
direito da visão da criançada. Confira:
As principais doenças oculares em crianças
De acordo com Claudia, os erros refrativos são as
condições que mais embaçam a vista na infância. Estamos falando dos famosos
astigmatismo, miopia e hipermetropia.
Até certo ponto, é natural que o pequeno possua um
grau baixo de hipermetropia (dificuldade para enxergar objetos de perto),
porque o olho está se desenvolvendo. Com o tempo, ele cresce e a visão tende a
ganhar nitidez.
No entanto, a oftalmologista conta que graus
elevados de alguma dessas encrencas, quando não diagnosticados, podem levar à
ambliopia. Estamos falando de uma dificuldade do próprio sistema nervoso de
compreender o que é uma imagem nítida — se não corrigida, ela gera uma
dependência de óculos para o resto da vida. “O tratamento só funciona até, mais
ou menos, 8 ou 9 anos de idade. Muitas vezes, ele consiste apenas em usar
óculos por um período”, complementa a profissional.
Além dos erros refrativos, a conjuntivite é bem
comum na infância. “Existe a suspeita de que ela altere a córnea e leve ao
astigmatismo. Mas não há evidências científicas suficientes para provar essa
hipótese”, informa Claudia. De qualquer forma, o quadro precisa ser tratado por
causa dos incômodos que provoca.
Vale mencionar também o estrabismo. É até normal que
os bebês fiquem um pouco vesgos, porque seus olhos estão em pleno
desenvolvimento. “Episódios de desvio do olhar para dentro ocorrem até os 4
meses e, para fora, até os 6. Agora, se o olho ficar torto o tempo inteiro, é
estrabismo”, arremata a expert.
Outra complicação é a catarata congênita. “Após o
diagnóstico, o bebê tem que ser operado nas primeiras semanas de vida. Se não,
nunca vai conseguir enxergar”, alerta a oftalmologista.
Quais exames oftalmológicos toda criança deve fazer
“O mais importante é o teste do reflexo vermelho,
feito assim que a pessoa nasce”, orienta a médica. Conhecido como teste do
olhinho, ele sinaliza a presença de catarata e retinoblastoma (um tipo de
câncer), entre outras coisas. Na rede pública, é obrigatório realizá-lo antes
de sair da maternidade. Caso note algo suspeito, o doutor vai pedir exames
complementares.
Quem nasce sem problemas oftalmológicos precisa ser
avaliado de novo antes dos 3 anos. Dessa vez, o pequeno passa por um check-up
completo, com exames de acuidade visual (aquele em que você tenta discernir as
letras no quadro) e de fundo do olho.
Se tudo estiver certo, Claudia sugere repetir esses
procedimentos a cada um ou dois anos. “Isso até a criança completar 9 anos de
idade, quando o período de desenvolvimento dos olhos acaba”, afirma. Vale
conversar com o pediatra sobre a eventual necessidade de marcar uma consulta
com oftalmologistas.
E fique tranquilo: mesmo quando a molecada ainda não
aprendeu a ler ou falar, dá para realizar todos os exames. O teste de acuidade
visual, por exemplo, pode ser adaptado para as crianças não alfabetizadas. Aí,
letras e números são trocados por figuras. “Mas é importante fazer o exame em
locais com experiência nesse público”, recomenda Claudia.
Fonte: https://saude.abril.com.br/familia/quais-sao-as-principais-doencas-oculares-infantis-e-como-detecta-las-cedo/
- Por Maria Tereza Santos - Foto: Mustafa Gül/iStock