“O que doeu levo onde
vou
Sendo que sou a metade
O que doeu levo onde
for
Feito feroz tatuagem”
Adriana Calcanhoto”
O
que está acontecendo com nossa juventude? Essa é a pergunta que muitos têm se
feito diante da crescente onda da automutilação ou cutting (palavra
inglesa que significa coisa cortada, incisão e talho), um mal que tem afetado
crianças e jovens, principalmente, meninas, do mundo inteiro. Seria autoestima
baixa? Problemas familiares? Ou seria uma forma destrutiva de lidar com as
frustrações?
Nas
escolas, é muito comum por parte dos professores, presenciarem seus alunos
adolescentes com diversas cicatrizes e cortes nos membros. Algumas pessoas
acham que a automutilação, ou cutting,
é frescura de jovens tentando chamar a atenção para si, mas não é. A autolesão
é uma doença silenciosa, grave e de cunho psiquiátrico. Nela, o jovem mostra-se
introvertido, se isola; usa roupas de frio, mesmo em dias de calor, e tem
cortes inexplicáveis pelo corpo.
A
psiquiatra da infância e da adolescência, Jackeline Giusti, responsável pelo
ambulatório de adolescente e automutilação do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP), na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos
Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, define o cutting como transtorno psiquiátrico com
necessidade de estudos futuros. Já na Classificação Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), ela é tida como transtorno do controle
do impulso não específico, ou como um dos sintomas de transtornos de
personalidade como o borderline.
Ainda
segundo Giusti (20017), ao se machucar a pessoa busca alívio para uma dor com a
qual não está conseguindo lidar. O corte, ou qualquer outra lesão no corpo, libera
endorfina, mesmo hormônio que dá sensação de bem estar, camuflando assim, a dor
psíquica que a atormenta.
Como
lidar com o cutting na escola?
A
orientação de Jackeline é a de que, na hora da conversa com o estudante, é
necessário ter uma atitude acolhedora, sem julgamentos, se mostrar disposto a
ouvi-lo e tentar entender. A atitude acolhedora também vale para os pais que, geralmente,
não sabem como reagir à situação (edição n° 39)
Há um projeto muito
interessante chamado “Projeto Borboleta” criado por praticantes de cutting como
forma de ajudar a si próprios e a outros automutiladores que sentiam
necessidade em parar com essa prática, e consideravam-se prontos para enfrentar
a luta. O processo, à primeira vista, parece simples e visa fazer com que a
pessoa treine /desenvolva seu autocontrole.
Ele se desenvolve com as
seguintes regras:
1)Quando você sente que quer
cortar ou se ferir, com uma caneta ou marcador, desenhe uma borboleta em seu
braço ou mão (ou em qualquer outra parte do corpo onde você quer infligir
dor / auto ferir);
2)Nomeie a borboleta com o
nome de um ente querido ou alguém que realmente quer que você obtenha melhora;
3)Você deve deixar a borboleta
desaparecer naturalmente. Não esfregue a parte desenhada, ou aplique produtos
que possam remover o desenho;
4)Se você cortar a parte do
corpo onde há a borboleta, medite que você a matou.
Se você não cortar, ela
continua viva e livre! (lembre-se que esta borboleta representa alguém
importante para você);
5)Se você tiver mais de uma
borboleta, e se cortar (ou machucar de alguma forma) você matou a todas elas;
6)Outra pessoa pode
desenhá-las em você. Estas borboletas são "extra especiais"
Cuide bem delas!
7)Se em algum momento você
perder o controle, e se cortar, não desista. Recomece todo o programa.
8) Mesmo que você não se
corte, sinta-se livre para desenhar uma borboleta para mostrar seu apoio a uma
pessoa que pratica o cutting. Se você
fizer isso, e nomeá-la, estará ajudando-a (o) a treinar o autocontrole.
A psicopedagoga e psicóloga
Camila Fattori alerta para a importância do atendimento rápido, por um
psiquiatra ou psicólogo, do jovem que esteja passando por este problema. Afirma
também que é preciso tomar cuidado para não menosprezar tal fenômeno, pois pode
sim haver sérios riscos físicos e psíquicos, podendo em casos graves progredir
para suicídio.
O cutting é uma doença e como tal, é dever do Estado promover políticas
públicas voltadas para o acesso ao tratamento médico, de adolescentes acometidos
por esse mal.
Por Professa Inez Resende
FONTES:
Giusti, J.S. Cinco coisas que você deve saber sobre
Automutilação. Internet. In O que eu tenho? Disponivel em:
http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2009/09/04/5-coisas-que-voce-deve-saber-sobre-automutilacao
. Acesso em abril de 2011.
Self-harm.
Internet. In BBC Online . BBC News, 2004. Disponivel em: http://news.bbc.co.uk/1/hi/health/medical_notes/4067129.stm
Acesso em abril de 2011.
Automutilação. Internet. In Wikipédia, 2011. Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Automutila%C3%A7%C3%A3o
Acesso em abril de 2017