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sexta-feira, 26 de abril de 2019

O estudo nutricional que a indústria de bilhões de dólares dos suplementos não quer que você veja


Um grande estudo da Universidade Tufts (EUA) descobriu que certas vitaminas e minerais podem ajudar a prolongar sua vida – mas apenas se você os obtiver de alimentos, não de suplementos.

Depois de uma década seguindo mais de 30.000 pessoas, a nova pesquisa se junta a um corpus que tem concluído que tomar suplementos vitamínicos e minerais não oferece benefícios discerníveis em termos de redução dos riscos de morte em geral, ou de morte por doenças cardiovasculares e cânceres especificamente.

Em termos simplificados, pílulas provavelmente não substituem uma dieta saudável, uma conclusão que não vai agradar a indústria bilionária dos suplementos.

Prós e contras dos suplementos de proteína
Os dados
Os pesquisadores analisaram dados de uma pesquisa massiva (Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA) realizada entre 1999 e 2010 com 30.899 pessoas. Mais de 27.000 desses participantes forneceram informações sobre sua dieta e ingestão de suplementos.

O questionário também incluiu dados demográficos e outras informações de saúde, incluindo se as pessoas fumavam, bebiam, se exercitavam ou tinham problemas médicos, como câncer e diabetes.

Os participantes foram entrevistados por pessoas treinadas em suas casas e por telefone. Os autores do estudo, em seguida, consultaram registros médicos de mortes relacionadas aos participantes durante o período da pesquisa. 3.613 pessoas faleceram.

Como a população em geral, um pouco mais da metade dos participantes do estudo disseram que tomavam suplementos. Quase 40% tomavam multivitaminas. Os suplementos individuais mais comuns que as pessoas consumiam eram vitaminas C, D e E, assim como cálcio e magnésio.

Resultados iniciais
O estudo teve algumas limitações. Por exemplo, os cientistas precisaram confiar nos relatos das pessoas sobre sua dieta e ingestão de suplementos. A partir disto, estimaram quanto de cada um dos principais micronutrientes os participantes consumiam por dia, definindo se o número estava abaixo ou acima dos níveis recomendados.

À primeira vista, os participantes que tomavam suplementos pareciam ser mais saudáveis, com um risco reduzido de mortalidade por todas as causas. Mas essa associação desapareceu quando os pesquisadores consideraram dados demográficos e de saúde.

“Nossos resultados e os de outros estudos sugerem que os usuários de suplementos têm níveis mais altos de educação e renda e um estilo de vida mais saudável (por exemplo, melhor dieta, níveis mais altos de atividade física e peso saudável) do que os não usuários”, escreveram em um artigo.

Assim, “a aparente associação entre o uso de suplementos e menor mortalidade pode refletir confusão por maior status socioeconômico e fatores de estilo de vida saudáveis ​​que são conhecidos por reduzir a mortalidade”.

Detalhando as descobertas
Quando os pesquisadores separaram os efeitos dos micronutrientes individuais, descobriram que a ingestão adequada de vitamina K e magnésio estava associada a um risco menor de mortalidade por todas as causas. Além disso, vitamina A, vitamina K, zinco e cobre foram associados com um menor risco de morte por doença cardiovascular. Mas esses benefícios eram restritos à ingestão de alimentos – não suplementos.

Além de uma falta de benefícios dos suplementos, o estudo encontrou, na verdade, danos potenciais.
Altas doses suplementais de cálcio (1.000 mg ou mais por dia), por exemplo, foram associadas a maiores riscos de mortalidade por câncer no estudo.

Da mesma forma, as pessoas que tomavam suplementos de vitamina D, mas não tinham deficiência nessa vitamina, pareciam ter maiores riscos de mortalidade por todas as causas.

Nutrientes: dieta x suplemento
Não está claro por que as mesmas vitaminas e minerais tinham efeitos diferentes se fossem, digamos, mastigados ou ingeridos em uma cápsula compacta. Mas, provavelmente, isso se deve ao fato de que nossos corpos foram “adaptados” pela evolução para melhor absorver e usar micronutrientes nos níveis e proporções encontrados nos alimentos.

“As interações complexas entre os nutrientes provavelmente desempenham um papel mais importante na determinação dos resultados de saúde do que os nutrientes individuais”, observaram os cientistas em seu estudo.

Tomemos o caso do cálcio, por exemplo. Pesquisas anteriores sugeriram que altas doses regulares de cálcio vindas da dieta podem fazer com que o intestino reduza a quantidade do mineral que ele absorve, levando a níveis mais altos de cálcio na urina e níveis mais baixos no corpo. É muito difícil, se não impossível, ingerir muito cálcio a partir dos alimentos; o corpo se livra dele.

Engolir muito cálcio em uma pílula potente, por outro lado, não parece ter o mesmo efeito sobre a absorção intestinal, levando ao aumento dos níveis de cálcio circulantes e ao potencial de danos, como constipação e aumento do risco de insuficiência renal.

Ressalvas
Antes que qualquer pessoa fique tentada a incrementar sua dieta com alimentos repletos de vitaminas e minerais específicos, os pesquisadores pedem cautela. “Nossas descobertas sobre nutrientes individuais devem ser consideradas exploratórias”, apontam.

Uma vez que o estudo foi observacional, é apenas capaz de identificar correlações, não provar causa e efeito. Ou seja, não podemos dizer definitivamente que quaisquer nutrientes causam quaisquer danos ou benefícios.

Como sempre, mais pesquisas precisam ser feitas. Considerando os dados que temos até agora, só podemos concluir que “embora a ingestão adequada de nutrientes a partir de alimentos possa contribuir para a redução do risco de morte, o excesso de ingestão de suplementos pode por sua vez aumentar o risco de mortalidade”.

O estudo foi publicado em um artigo na revista científica Annals of Internal Medicine. [ArsTechnica]