Nós costumamos acreditar que por trás de todas as
invenções e descobertas científicas há um trabalho árduo e objetivo – e, na
maioria das vezes, é isso mesmo que acontece. Mas, durante o processo de
pesquisa, algumas descobertas paralelas e totalmente sem querer acabam
acontecendo. E o acaso, muitas vezes, nos dá coisas muito úteis, às vezes até
mais úteis do que aquelas que estávamos buscando.
Muitos dos dispositivos que usamos no dia a dia
foram inventados completamente por engano. Abaixo, estão nove das invenções
mais importantes e úteis que foram descobertas ou inventadas por acaso.
9. Raios X
Em 8 de novembro de 1895, o físico alemão Wilhelm
Conrad Rontgen estava trabalhando em seu laboratório com testes de raios
catódicos quando viu um brilho estranho em uma tela que havia sido tratada
anteriormente com produtos químicos. Wilhelm foi a primeira pessoa na história
a observar os raios X, ondas de energia eletromagnética similares à luz, mas
que correm em comprimentos de onda cerca de 1.000 vezes menores. Isso permite
que elas passem por substâncias moles como pele e músculo, mas não por aquelas
mais duras, como ossos ou metais.
Os raios-X revolucionaram a medicina diagnóstica,
proporcionando aos médicos um meio não intrusivo de enxergar dentro do corpo
humano. Essa importante ferramenta de diagnóstico se tornou manchete em todo o
mundo quando foi usada no campo de batalha durante a Guerra dos Bálcãs, que
aconteceu entre 1912 e 1913, para localizar balas e diagnosticar membros
quebrados.
Infelizmente, demorou para que os cientistas
descobrissem as qualidades nocivas desses raios mágicos. Acreditava-se que os
raios X passavam pelo corpo humano inofensivamente, assim como a luz, mas
depois de vários anos, relatos de danos estranhos na pele e queimaduras
começaram a se acumular. Em 1904, Clarence Dally, um cientista que trabalhava
com raios-X para Thomas Edison, morreu de câncer de pele devido à
superexposição aos raios. Isso fez com que alguns cientistas que trabalhavam no
campo passassem a ser mais cuidadosos, mas demoraria algumas décadas até que os
efeitos nocivos da radiação fossem completamente esclarecidos.
Por exemplo, a partir de 1930, as lojas de calçados
nos Estados Unidos usavam fluoroscópios para atrair as pessoas. As máquinas
encantavam os clientes, permitindo que eles vissem os ossos de seus pés.
Somente na década de 1950 que o perigo disso foi percebido, e eles foram
proibidos de uso completamente. Hoje, os raios X ainda são amplamente
utilizados nos campos da medicina, segurança e análise de materiais.
8. Gás do riso (óxido nitroso)
Em 1799, Humphry Davy, um jovem inventor e químico
inglês, decidiu usar a si mesmo como cobaia para descobrir os efeitos da
inalação de gases produzidos artificialmente. Junto com um assistente, ele
descobriu que os cristais de nitrato de amônio tratados termicamente produziam
um gás que eles podiam coletar em sacos especiais de seda tratados com óleo.
Eles então poderiam passar o gás através dos vapores de água, o que o
purificaria.
Depois de prender um bocal improvisado, Humphry
inalou uma bolsa de gás. Ele havia acabado de descobrir o óxido nitroso, ou gás
do riso. Humphry relatou que sentiu “tontura, suas bochechas coradas, prazer
intenso e uma emoção sublime ligada a ideias muito vivas”. Em pouco tempo,
depois de começar a fazer experimentos com o gás, ele estava o inalando longe
do laboratório, té mesmo depois de consumir álcool quando estava em casa.
Davy passou então a permitir que seus pacientes e
colegas experimentassem o gás, contanto que eles também registrassem suas
experiências para a ciência. Humphry foi tão longe a ponto de construir uma
caixa hermética em que os sujeitos entrariam e respirariam puro óxido nitroso.
Em 1800, Davy escreveu Researches, Chemical and Philosophical, 80 páginas muito
divertidas sobre suas experiências enquanto experimentava o gás do riso.
7. Sacarina
A sacarina foi um dos primeiros adoçantes
artificiais a substituir de forma barata o açúcar, e foi descoberta
completamente por acidente. O professor Ira Remsen dirigia um pequeno
laboratório na Universidade John Hopkins, nos EUA. Em algum momento no final de
1878 ou início de 1879, uma firma de importação, a H.W. Perot, entrou em
contato com ele para pedir seu laboratório emprestado. A firma queria que
Constantin Fahlberg, um especialista em doces, usasse o laboratório de Remsen
para testar a pureza de um carregamento deles.
Depois de concluir com sucesso os testes, Fahlberg
continuou trabalhando para o professor em vários projetos. Um dia, enquanto
jantava, Fahlberg descobriu que seu pão estava excepcionalmente doce e decidiu
descobrir por quê. Depois de deduzir que o pão não tinha sido adoçado pelo
padeiro, ele supôs que deveria ter algum produto químico em suas mãos enquanto
trabalhava no laboratório, e que a substância havia sido transferida para seu
alimento, fazendo com que ele ficasse doce. Como não sentiu reações adversas a
esse químico desconhecido, decidiu descobrir o que era.
Fahlberg não conseguia se lembrar exatamente de qual
substância ele levara para casa em suas mãos, então ele testou todos os
produtos químicos que ele tinha em sua estação de trabalho no dia anterior e
descobriu que tinha enchido um béquer com cloreto de fósforo, amônia e ácido
sulfobenzóico, que, por sua vez, criava sulfimida benzóica, um composto que ele
conhecia, mas que nunca teve nenhum motivo para comer. Ele descobriu a
sacarina, um produto que se tornaria extremamente popular devido à escassez de
açúcar durante a Primeira Guerra Mundial.
6. Fogos de artifício
Uma das descobertas acidentais mais antigas foi
feita cerca de 2.000 anos atrás, na China. Ela aconteceu quando um cozinheiro
misturou enxofre, salitre (nitrato de potássio, um produto parecido com o sal
de cozinha) e carvão em fogo. Não se sabe onde o cozinheiro estava tentando
chegar, mas ele acabou fazendo uma descoberta que seria conhecida em todo o
mundo. Os antigos chineses o chamavam de “fogo químico” e rapidamente
aprenderam que quando comprimiam a mistura, geralmente em pedaços de bambu, ela
explodia. Através da experimentação, eles descobriram que podiam produzir
impulso que faria o bambu voar pelo ar, em vez de explodir instantaneamente no
chão, e assim nasceram os fogos de artifício.
Os novos artefatos tornaram-se muito comuns e
passaram a ser usados durante eventos importantes, como casamentos e
funerais, em todo o país. Os chineses acreditavam que o barulho dos fogos de
artifício mantinham os maus espíritos longe da cerimônia.
Historiadores dizem que Marco Polo levou os fogos de
artifício da China para o Oriente Médio. De lá, eles chegaram à Europa. Embora
os fogos de artifício tenham chegado primeiro à Inglaterra, foram os italianos
que transformaram a sua fabricação, com o uso de várias cores e formas.
5. Fornos de microondas
O microondas se tornou um ítem quase tão importante
nas nossas cozinhas quanto uma geladeira ou um fogão. A praticidade e rapidez
dos fornos microondas combinam perfeitamente com o estilo de vida veloz da
sociedade nas últimas décadas. É bastante curioso pensar que esta, uma das
máquinas mais úteis já inventadas na história, foi descoberta por acaso.
Em 1946, um engenheiro que trabalhava para a
Raytheon, um conglomerado norte-americano que atua na área de armamentos e
equipamentos eletrônicos para uso militar e comercial, chamado Percy Spencer
estava trabalhando com um magnetron, o principal componente de um sistema de
radar, quando descobriu que uma barra de chocolate que ele carregava no bolso
da camisa tinha derretido enquanto ele estava perto do dispositivo. Isso
despertou seu interesse. Seu próximo passo foi colocar um ovo no caminho dos
raios do magnetron, que obviamente explodiu em sua cara. Então ele teve a ideia
de colocar alguns grãos de milho em um prato e fez com que eles pulassem como
pipoca por todo o laboratório. O resto, como dizem, é história.
4. Impermeabilizante de tecidos
Uma jovem química chamada Patsy Sherman aceitou o
desafio de criar produtos úteis usando produtos fluoroquímicos quando foi
contratada pelo grupo de tecnologia 3M em 1952. Sherman recebeu a tarefa de
criar um material semelhante a borracha que resistisse ao combustível de
aviação e, como acontece muitas vezes, descobriu algo totalmente diferente.
Tudo aconteceu por causa de um acidente. Uma das
assistentes de Sherman derramou um composto experimental em seus novos tênis.
Ela estava realmente irritada pelo fato de não conseguir tirar o composto
deles, independentemente de que tipo de solvente ela tentasse. A tenacidade do
produto experimental intrigou Sherman, então ela juntou forças com Sam Smith,
outro químico da 3M, em um esforço para desenvolver um agente de
impermeabilização fluoroquímico útil e barato para roupas, algo inimaginável na
época.
Depois de alguns anos refinando seu composto, a
equipe de Sherman e Smith revelou seu novo produto para o mundo e, em 1956, a
marca “Scotchgard” nasceu. Sem querer, a 3M havia conseguido seu primeiro
campeão de vendas.
3. Marca-passos
O inventor Wilson Greatbatch estava trabalhando em
um dispositivo para monitorar e gravar as batidas do coração humano quando
cometeu um erro. Ele inseriu um transistor em seu dispositivo 100 vezes mais
poderoso do que ele normalmente usaria. Seu erro fez com que o instrumento
criasse impulsos elétricos que emulavam perfeitamente a batida do coração. Em
vez de arruinar tudo, o equívoco fez com que o dispositivo não monitorasse o
batimento cardíaco, mas sim o criasse. Ele ficou surpreso quando percebeu que
sua invenção poderia ser usada como um marca-passo interno.
Os primeiros marcapassos pareciam uma televisão à
qual o paciente deveria permanecer conectado, já que as baterias eram
insuficientes na época. Um paciente que precisava de um marcapasso era muito
parecido com uma pessoa em diálise, não podendo deixar a máquina nem
carregá-la. Um marca-passo interno permitiria que milhões dessas pessoas
vivessem vidas completamente normais. Um pouco maior que um disco de hóquei, o
primeiro protótipo de Greatbatch foi implantado em um cão em 1958 e controlou
seus batimentos cardíacos com sucesso e sem dificuldade. O primeiro paciente
humano a receber um foi um homem de 77 anos que viveu 18 meses, enquanto um
jovem receptor viveu 30 anos com o seu.
Eles tiveram seus problemas, no entanto. Os fluidos
corporais permeavam o dispositivo, arruinando os circuitos, e as baterias
duravam apenas dois anos, então Greatbatch começou a procurar maneiras melhores
de alimentá-los. Em 1970, ele fundou sua própria empresa, a Greatbatch Inc., e
desenvolveu baterias de lítio que duravam dez anos e seriam eventualmente
usadas em mais de 90% dos marca-passos do planeta. O brilhante inventor,
falecido em 2011, tem 350 patentes em seu nome e foi introduzido no Hall da
Fama do Inventor Nacional dos EUA em 1986. Cerca de 600 mil de seus marcapassos
são implantados a cada ano.
2. Post-its
Assim como o impermeabilizante de tecidos, essa
descoberta acidental também envolve a Minnesota Mining and Manufacturing
Corporation, também conhecida como 3M. Um cientista que trabalhava para a
companhia chamado Spencer Silver recebeu a tarefa de inventar um super adesivo
projetado exclusivamente para ser usado na indústria aeroespacial. Sua
tentativa inicial foi um fracasso. Ele estava procurando por algo forte, mas só
conseguiu algo forte o suficiente para talvez segurar uma folha de papel em um
quadro de avisos. Isso deu a eles a ideia de criar alguns protótipos de bloco
de notas, mesmo que eles não tivessem muita fé no conceito. Art Fry, outro
funcionário da 3M, teve a ideia de usar um desses protótipos em seu livro de
hinos de coral porque ele continuava se perdendo durante o canto. Com este uso
prático, ele percebeu que o protótipo funcionava perfeitamente, aderindo muito
bem sem deixar cola e não danificando as páginas.
Silver, Fry e vários outros que trabalharam no
aperfeiçoamento das notas inventaram erroneamente toda uma linha de produtos
totalmente nova. O Post-It só decolou anos mais tarde, depois de quatro
tentativas fracassadas de marketing, mas hoje se encontra presente em
praticamente todos os escritórios do mundo.
1. Fósforo auto-inflamável
Embora nós tenhamos descoberto o fogo há muito
tempo, criar fogo de forma prática na vida moderna não é uma descoberta tão
antiga assim. Os fósforos transformaram nosso mundo e nosso modo de vida de
maneiras que seus inventores nunca poderiam imaginar. Os primeiros fósforos,
porém, não eram auto-inflamáveis e precisavam de alguns outros meios para que
fossem acesos. Por exemplo, os primeiros fósforos chineses eram revestidos com
enxofre que ardia muito brilhante e eram usados para aumentar rapidamente um
fogo já existente, mas eles nunca evoluíram além dessa capacidade.
Um parisiense chamado Jean Chancel abriu a porta
para os fósforos auto-inflamáveis em 1805, quando misturou açúcar, borracha,
clorato de potássio e enxofre e revestiu varas de madeira com a mistura. Ele
mergulhava os bastões em uma solução de ácido sulfúrico para acendê-los. Esta
invenção tinha apenas um pequeno problema: as nuvens tóxicas, voláteis e
explosivas do gás de dióxido de cloro que ela produzia.
O verdadeiro
avanço veio em 1826, quando um químico inglês chamado John Walker inventou o
primeiro fósforo de fricção por acidente. Enquanto trabalhava em seu
laboratório, Walker notou que um grupo de produtos químicos com os quais ele
trabalhara havia secado e formado um caroço no final do instrumento que ele
utilizada para mexer e misturar os componentes. Não querendo misturar as
substâncias químicas com o experimento no qual ele estava trabalhando, ele
começou a raspar o material e ficou surpreso quando ele explodiu em chamas.
Walker usou um composto à base de enxofre nas
cabeças dos fósforos e papel áspero revestido com fósforo para acendê-los. Era
só dobrar o papel sobre o fósforo e puxar enquanto aplicava-se um pouco de
pressão para acendê-lo. Ele vendeu alguns desses bastões de fogo, mas eles
tinham um problema: o enxofre queimava tão violentamente que consumia todo o
bastão, e a cabeça flamejante se soltava, muitas vezes com resultados
indesejáveis. Os fósforos atuais são feitos de uma mistura de fósforo vermelho,
empregada pela primeira vez por Johan Edvard Lundstrom. [Listverse]
Fonte: https://hypescience.com/descobertas-acaso/
- Por Jéssica Maes