Uma pesquisa da Universidade de Illinois (EUA) concluiu que
crianças fisicamente aptas absorvem e retém novas informações de forma mais
eficaz do que crianças que estão fora de forma.
O novo estudo afirma que a educação física é uma matéria
importante que não deve ser negligenciada pelas escolas.
Todos sabem que a atividade física pode ter efeitos muito
positivos na saúde. Também, outros estudos já
ligaram o exercício físico a melhor desempenho acadêmico ou cognitivo.
No entanto, até agora, nenhum estudo tinha examinado especificamente
se e de que forma a aptidão física podia afetar a forma como as
crianças aprendem.
Os pesquisadores recrutaram um grupo de meninos e meninas
entre 9 e 10 anos de idade e testaram sua capacidade aeróbica em uma esteira.
Depois, pediram que 24 dos mais aptos e 24 dos menos aptos trabalhassem em
tarefas de memorização difíceis.
A aprendizagem é, evidentemente, um processo complexo que
envolve não só receber e armazenar informação sob a forma de memória, um
procedimento conhecido como codificação, mas também recordar essa informação
mais tarde. Informações que não podem ser recuperadas não foram realmente
aprendidas.
Estudos anteriores sobre estilos de aprendizagem têm
mostrado que a maioria das crianças aprende mais facilmente se são testadas
enquanto estão no processo de aprender. Com efeito, se forem interrogadas
enquanto memorizando, elas se lembram com mais facilidade da informação.
Memorização em linha reta, sem reforço intermitente durante o processo, é mais
difícil.
Os pesquisadores optaram por utilizar ambas as abordagens à
aprendizagem no estudo ao fornecer às crianças iPads nos quais vários mapas de
terras imaginárias tinham sido carregados. Os mapas foram demarcados em
regiões, cada uma com um nome de quatro letras. Durante uma sessão de
aprendizagem, as crianças viram esses nomes no seu lugar por seis segundos. Em
seguida, eles apareceram no mapa na sua posição correta mais seis vezes,
enquanto as crianças tentavam memorizá-los.
Em uma sessão de aprendizagem separada, os nomes das regiões
apareceram no mapa no seu local adequado, e em seguida foram transferidas para
as margens desse mapa. As crianças foram convidadas a tocar em um nome e
combiná-lo com a região correta, e repetirem o processo até todos os nomes
estarem nos locais certos, fazendo com que aprendessem conforme tentavam
memorizar.
Um dia depois, todas as crianças voltaram para o laboratório
e foram convidadas a rotular corretamente as regiões dos diferentes mapas. Elas
apresentaram desempenho semelhante quando tiveram que recordar nomes no mapa
que memorizaram através de tentativas.
Mas, no mapa que envolveu o tipo mais difícil de aprendizado
– memorização sem testes intermitentes – as crianças que estavam em melhor
condição aeróbica significativamente superaram o grupo menos apto, lembrando-se
cerca de 40% dos nomes das regiões com precisão, em comparação com apenas 25%
no outro grupo.
Isso sugere que altos níveis de aptidão física têm o seu
maior impacto nas situações mais difíceis que as crianças enfrentam
intelectualmente. Quanto mais difícil é aprender alguma coisa, mais a aptidão
física pode ajudar a criança.
Ao demonstrar a importância da aptidão física, o estudo
sutilmente reforça a importância da educação física e programas de atividade
física semelhantes nas escolas, já que isso pode ampliar a capacidade dos
alunos de aprender.
Segundo Charles Hillman, um dos autores do estudo, as
crianças deveriam se envolver em “pelo menos uma hora por dia” de atividade
física vigorosa. Escolas, onde elas passam muitas horas de seu dia, fornecem o
lugar mais lógico e plausível para isso.
Ou, como ele e seus coautores observam no estudo: “Reduzir ou eliminar educação física nas escolas, como é feito muitas vezes em momentos de crise financeira, pode não ser a melhor maneira de garantir o sucesso educativo entre os nossos jovens”.
No Brasil, a lei nº 9.394/96 estabelece a educação física
como um componente curricular obrigatório da educação básica, embora sua
prática seja facultativa a alunos em determinadas situações. Isso na teoria. Na
prática, existe uma “cultura de isenção” da educação física em muitas escolas.
Além disso, a atual Lei de Diretrizes e Bases para a
Educação não determina a carga horária das disciplinas nas escolas, mas um
projeto do Senado brasileiro quer estabelecer o mínimo de 2 horas semanais para
a educação física – o que, como mostra o estudo, pode não ser
suficiente – e não
só pela questão acadêmica, mas também levando-se em conta a epidemia da
obesidade que atinge cada vez mais jovens. [NYTImes, Terra, MEC]