Eu sou um médico-cientista e especialista em doenças
infecciosas na Universidade da Virgínia (EUA), onde cuido de pacientes e
conduzo pesquisas sobre o COVID-19. Ocasionalmente, sou questionado sobre como
posso ter certeza de que os pesquisadores desenvolverão uma vacina bem-sucedida
para prevenir o COVID-19. Afinal, ainda não temos uma para o HIV, o vírus que
causa a AIDS.
É isto que as pesquisas atuais demonstram, onde acho
que estaremos em cinco meses e por que você pode ficar otimista sobre ter uma
vacina COVID-19.
1. Sistema imunológico humano cura COVID-19
Em até 99% de todos os casos de COVID-19 , o paciente
se recupera da infecção e o vírus é eliminado do corpo.
Alguns dos que tiveram COVID-19 podem apresentar
níveis baixos de vírus no corpo por até três meses após a infecção. Mas, na
maioria dos casos, esses indivíduos não podem mais transmitir o vírus a outras
pessoas 10 dias após ficarem doentes.
Portanto, deveria ser muito mais fácil fazer uma
vacina para o novo coronavírus do que para infecções como o HIV, em que o
sistema imunológico não consegue curá-lo naturalmente. O SARS-CoV-2 não sofre
mutação como o HIV, tornando-o um alvo muito mais fácil para o sistema
imunológico subjugar ou para uma vacina controlar.
2. Anticorpos direcionados à proteína espinho evitam
a infecção
Uma vacina protegerá, em parte, induzindo a produção
de anticorpos contra a proteína espinho na superfície do SARS-CoV-2, o vírus
que causa o COVID-19.
Estrutura do coronavírus sars-cov-2
O vírus precisa da proteína espinho para se ligar e
entrar nas células humanas para se reproduzir. Pesquisadores demonstraram que
anticorpos, como os produzidos pelo sistema imunológico humano, se ligam à
proteína espinho, a neutralizam e evitam que o coronavírus infecte células em
cultura de laboratório.
Vacinas em testes clínicos demonstraram aumentar os
anticorpos anti-espinho que bloqueiam a infecção pelo vírus em células no
laboratório.
Pelo menos sete empresas desenvolveram anticorpos
monoclonais, anticorpos fabricados em laboratório que reconhecem a proteína
espinho. Esses anticorpos estão entrando em ensaios clínicos para testar sua
capacidade de prevenir a infecção em pessoas expostas, por exemplo, por meio de
um contato domiciliar.
Os anticorpos monoclonais também podem ser eficazes
para o tratamento. Durante uma infecção, uma dose desses anticorpos monoclonais
pode neutralizar o vírus, dando ao sistema imunológico a chance de recuperar e
fabricar seus próprios anticorpos para combater o patógeno.
3. A glicoproteína espinho contém vários alvos
A proteína espinho tem muitos locais onde os
anticorpos podem se ligar e neutralizar o vírus. Isso é uma boa notícia porque
com tantos pontos vulneráveis, será difícil para o vírus sofrer mutação para
evitar uma vacina.
Várias partes do espinho precisariam sofrer mutação
para evitar anticorpos neutralizantes anti-espinho. Muitas mutações na proteína
espinho mudariam sua estrutura e a tornariam incapaz de se ligar a ACE2, que é
a chave para infectar células humanas.
4. Nós sabemos como fazer uma vacina segura
A segurança de uma nova vacina COVID-19 é melhorada
pela compreensão dos pesquisadores sobre os potenciais efeitos colaterais da
vacina e como evitá-los.
Um efeito colateral visto no passado foi o aumento
da infecção dependente de anticorpos. Isso ocorre quando os anticorpos não
neutralizam o vírus, mas permitem que ele entre nas células por meio de um
receptor destinado aos anticorpos. Os pesquisadores descobriram que, ao
imunizar com a proteína espinho, altos níveis de anticorpos neutralizantes
podem ser produzidos. Isso diminui o risco de aumento da infecção.
Um segundo problema potencial apresentado por
algumas vacinas é uma reação alérgica que causa inflamação no pulmão, como foi
visto em indivíduos que receberam uma vacina contra o vírus sincicial
respiratório na década de 1960. Isso é perigoso porque a inflamação nas regiões
aéreas do pulmão (alvéolos) pode dificultar a respiração. No entanto, os
pesquisadores aprenderam agora como criar vacinas para evitar essa resposta
alérgica.
5. Várias vacinas para Covid-19 diferentes em
desenvolvimento
O governo dos EUA está apoiando o desenvolvimento de
várias vacinas diferentes por meio da Operação Warp Speed .
O objetivo da Operação Warp Speed é entregar 300
milhões de doses de uma vacina segura e eficaz até janeiro de 2021.
O governo dos EUA está fazendo um grande
investimento, destinando US$ 8 bilhões (44,6 bi de Reais na cotação de hoje)
para sete vacinas COVID-19 diferentes.
Ao apoiar várias vacinas COVID-19, o governo [dos
EUA] está protegendo suas apostas. Apenas uma dessas vacinas precisa se provar
segura e eficaz em ensaios clínicos para que uma vacina COVID-19 seja
disponibilizada aos estadunidenses em 2021.
6. Vacinas passando por ensaios de fase I e II
Os ensaios de fase I e fase II testam se uma vacina
é segura e induz uma resposta imunológica. Os resultados até agora de três
ensaios de vacinas diferentes são promissores, desencadeando a produção de
níveis de anticorpos neutralizantes anti-espinho que são duas a quatro vezes
maiores do que os observados em pessoas que se recuperaram de COVID-19.
A Moderna , Oxford e a empresa chinesa CanSino
demonstraram a segurança de suas vacinas em testes de fase I e fase II.
7. Os ensaios clínicos de Fase III estão em
andamento
Durante um ensaio de fase III, a etapa final no
processo de desenvolvimento da vacina, a vacina é testada em dezenas de
milhares de indivíduos para determinar se ela funciona para prevenir a infecção
pelo SARS-CoV-2 e se é segura.
A vacina produzida pela Moderna e NIH e a vacina da
Oxford-AstraZeneca começaram os testes de fase III em julho. Outras vacinas
COVID-19 começarão a fase III dentro de algumas semanas.
8. Acelerar a produção e implantação de vacinas
A Operação Warp Speed está pagando pela produção
de milhões de doses de vacinas e apoiando a fabricação de vacinas em escala
industrial, mesmo antes de os pesquisadores terem demonstrado a eficácia e
segurança da vacina.
A vantagem dessa estratégia é que, uma vez que uma
vacina seja comprovada como segura nos ensaios de fase III, um estoque dela já
existirá e poderá ser distribuída imediatamente sem comprometer a avaliação
completa de segurança e eficácia.
Esta é uma abordagem mais prudente do que a da
Rússia, que está vacinando o público com uma vacina antes que ela se mostre
segura e eficaz na fase III.
9. Distribuidores de vacinas estão sendo contratados
agora
A McKesson Corp., maior distribuidora de vacinas dos
Estados Unidos, já foi contratada pelo CDC para distribuir uma vacina COVID-19
em locais — incluindo clínicas e hospitais — onde a vacina será administrada.
Acredito que seja realista sabermos em algum momento
no final de 2020 se algumas vacinas COVID-19 são seguras, exatamente o quão
eficazes são e quais devem ser usadas para vacinar a população dos EUA em 2021.
Esse artigo foi publicado originalmente por William
Petri, professor de medicina na University of Virginia (EUA) no The
Conversation e reproduzido aqui com permissões Creative Commons. Leia o artigo
original (em inglês).
Fonte: https://hypescience.com/vacina-covid-19/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+feedburner%2Fxgpv+%28HypeScience%29
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