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sábado, 3 de agosto de 2019

Como a musculação inesperadamente muda o seu cérebro


Experimentos com ratos mostraram que quando eles levantam peso, além de ganhar massa muscular, eles também têm o ambiente celular alterado no cérebro, melhorando a habilidade de pensar. O estudo foi publicado na revista Journal of Applied Physiology.

Alguns estudos anteriores apontavam conexão entre treinamento com peso e melhora cognitiva, mas esses trabalhos eram pequenos.

Para resolver esta lacuna, o candidato a doutorando Taylor Kelty da Universidade de Missouri (EUA) começou a imaginar ratinhos fazendo musculação. Ele e seus colegas sabiam que para estudar o cérebro de forma aprofundada, eles precisariam fazer os animais de laboratório levantarem peso, mas como fazer isso?

Musculação para ratos

Nesse estudo, os ratos fizeram musculação em pequenas escadas de um metro de altura e ergueram pesos em miniatura presos na porção traseira dos animais, posicionados de forma a não machucá-los. Os animais ganhavam um pedaço de cereal matinal quando chegavam ao topo da escadinha, e logo começavam a subir até lá voluntariamente, mesmo sem a recompensa.

Depois de várias semanas, os escaladores mostraram aumento da massa muscular, indicando que a atividade física havia sido um sucesso.

Para testar as melhoras cerebrais dos ratos, Kelty e seus colegas pegaram um grupo separado de ratos e os injetaram com uma substância conhecida por causar inflamação no cérebro, que por sua vez causa um tipo de demência leve nos bichinhos.

Metade desses ratos começou um programa de exercício físico. Conforme eles se condicionavam à atividade, o peso que era preso a eles ia aumentando progressivamente. Assim o peso erguido aumentava da mesma forma que fazemos na academia.

Teste mental com labirinto
Depois de cinco semanas, todos os animais foram soltos individualmente em um labirinto bastante iluminado que tinha apenas uma câmera escura. Os roedores em geral gravitam em direção a locais escuros e durante visitas repetidas, os animais deveriam aprender a localização desse local escuro e ir direto para lá.

Mas o sucesso dos animais foi bastante diferente. Os animais do grupo controle foram os mais rápidos e mais acurados. Os animais com problemas cognitivos leves que não se exercitaram tiveram maior dificuldade, mas os animais que tinham esses problemas e fizeram musculação conseguiram melhorar seus resultados, em alguns momentos até superando o grupo controle.
Ou seja, o exercício restaurou a habilidade de pensar, diz Kelty.

Mas como isso acontece?
A etapa final do estudo teve como objetivo tentar entender como o exercício impactou o cérebro. Kelty e sua equipe examinaram microscopicamente o tecido cerebral de cada um dos grupos. Conforme o esperado, os animais que receberam a injeção apresentavam sinais de inflamação no cérebro.

Mas os centros de memória dos cérebros dos animais que se exercitaram estavam cheios de enzimas e marcadores genéticos que são famosos por ajudar na criação e manutenção de novos neurônios, enquanto também aumentavam a plasticidade, que é a habilidade do cérebro de se remodelar.

O cérebro dos ratos treinados estavam se remodelando para que parecessem com cérebros que não sofriam com inflamação.

Claro que este estudo foi feito com ratos, e não com pessoas. O nosso treinamento na academia é completamente diferente. Logo, não sabemos como o nosso cérebro reagiria em uma situação semelhante.

O estudo também não diz se exercícios aeróbicos teriam os mesmos resultados ou se pessoas saudáveis também teriam os benefícios observados nos ratinhos. Mesmo assim, Kelty recomenda que as pessoas façam exercício de resistência. “É bom para você por vários outros motivos, e parece ser neuroprotetor. Quem não quer um cérebro saudável?”, diz ele. [New York Times]


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Como o exercício físico muda suas moléculas?


 Há muito tempo, cientistas querem desenvolver drogas que simulam os benefícios do exercício físico. Em breve, uma pílula como essa poderá finalmente tornar-se realidade.

Pesquisadores da Universidade de Sydney, na Austrália, descobriram mil alterações moleculares que ocorrem em nossos músculos quando nos exercitamos. O estudo foi publicado na revista científica Cell Metabolism.

Por que precisamos dessa pílula
Exercício é a terapia mais eficaz para muitas condições de saúde, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e distúrbios neurológicos. No entanto, para muitas pessoas, não é uma opção viável.

 “Isso significa que é essencial encontrar formas de desenvolver drogas que imitam os benefícios do exercício”, disse David James, principal autor da nova pesquisa.

Ou seja, um remédio como esse não é destinado a você, preguiçoso, que não quer ir à academia. Mas sim é fundamental para ajudar em tratamentos de doenças em pessoas debilitadas que não podem fazer exercício intenso.

A descoberta
Os cientistas da Universidade de Sydney, em colaboração com pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, analisaram biópsias de músculo esquelético humano de quatro homens saudáveis não treinados depois de 10 minutos de exercício de alta intensidade.

Usando uma técnica conhecida como espectrometria de massa para o estudo de um processo chamado fosforilação de proteínas, o coautor da pesquisa Benjamin Parker chegou à conclusão de que o exercício intenso provoca mais de 1.000 alterações moleculares no corpo.

A maioria das drogas tradicionais alvejam moléculas individuais. A nova pesquisa mostra que é preciso um plano mais abrangente para qualquer droga imitar com sucesso os efeitos do exercício físico.

Conjunto complexo
A maioria das mudanças descobertas no novo estudo não tenham sido previamente associadas ao exercício. A pesquisa existente focaliza apenas em um pequeno número de alterações moleculares.

 “O exercício produz um conjunto extremamente complexo, em cascata, de respostas dentro do músculo humano. Ele desempenha um papel essencial no controle do metabolismo energético e sensibilidade à insulina”, disse o coautor do estudo Nolan Hoffman.

Embora os cientistas já suspeitassem que o exercício criava uma complicada série de alterações ao músculo humano, esta é a primeira vez que foram capazes de mapear exatamente o que acontece.

“Este é um grande avanço, uma vez que permite aos cientistas usar esta informação para desenvolver uma droga que imita os verdadeiros benefícios provocados pelo exercício físico”, afirma Hoffman. Ou seja, uma pílula que segmente várias moléculas e, possivelmente, vias, que são uma combinação de moléculas que trabalham em conjunto.

 “Essa é a chave para desvendar o enigma de tratamentos com drogas para imitar o exercício físico”, conclui James. [ScienceDaily]