Experimentos com ratos mostraram que quando eles
levantam peso, além de ganhar massa muscular, eles também têm o ambiente
celular alterado no cérebro, melhorando a habilidade de pensar. O estudo foi
publicado na revista Journal of Applied Physiology.
Alguns estudos anteriores apontavam conexão entre
treinamento com peso e melhora cognitiva, mas esses trabalhos eram pequenos.
Para resolver esta lacuna, o candidato a doutorando
Taylor Kelty da Universidade de Missouri (EUA) começou a imaginar ratinhos
fazendo musculação. Ele e seus colegas sabiam que para estudar o cérebro de
forma aprofundada, eles precisariam fazer os animais de laboratório levantarem
peso, mas como fazer isso?
Musculação para ratos
Nesse estudo, os ratos fizeram musculação em
pequenas escadas de um metro de altura e ergueram pesos em miniatura presos na
porção traseira dos animais, posicionados de forma a não machucá-los. Os
animais ganhavam um pedaço de cereal matinal quando chegavam ao topo da
escadinha, e logo começavam a subir até lá voluntariamente, mesmo sem a
recompensa.
Depois de várias semanas, os escaladores mostraram
aumento da massa muscular, indicando que a atividade física havia sido um
sucesso.
Para testar as melhoras cerebrais dos ratos, Kelty e
seus colegas pegaram um grupo separado de ratos e os injetaram com uma
substância conhecida por causar inflamação no cérebro, que por sua vez causa um
tipo de demência leve nos bichinhos.
Metade desses ratos começou um programa de exercício
físico. Conforme eles se condicionavam à atividade, o peso que era preso a eles
ia aumentando progressivamente. Assim o peso erguido aumentava da mesma forma
que fazemos na academia.
Teste mental com labirinto
Depois de cinco semanas, todos os animais foram
soltos individualmente em um labirinto bastante iluminado que tinha apenas uma
câmera escura. Os roedores em geral gravitam em direção a locais escuros e
durante visitas repetidas, os animais deveriam aprender a localização desse
local escuro e ir direto para lá.
Mas o sucesso dos animais foi bastante diferente. Os
animais do grupo controle foram os mais rápidos e mais acurados. Os animais com
problemas cognitivos leves que não se exercitaram tiveram maior dificuldade,
mas os animais que tinham esses problemas e fizeram musculação conseguiram
melhorar seus resultados, em alguns momentos até superando o grupo controle.
Ou seja, o exercício restaurou a habilidade de
pensar, diz Kelty.
Mas como isso acontece?
A etapa final do estudo teve como objetivo tentar
entender como o exercício impactou o cérebro. Kelty e sua equipe examinaram
microscopicamente o tecido cerebral de cada um dos grupos. Conforme o esperado,
os animais que receberam a injeção apresentavam sinais de inflamação no
cérebro.
Mas os centros de memória dos cérebros dos animais
que se exercitaram estavam cheios de enzimas e marcadores genéticos que são
famosos por ajudar na criação e manutenção de novos neurônios, enquanto também
aumentavam a plasticidade, que é a habilidade do cérebro de se remodelar.
O cérebro dos ratos treinados estavam se remodelando
para que parecessem com cérebros que não sofriam com inflamação.
Claro que este estudo foi feito com ratos, e não com
pessoas. O nosso treinamento na academia é completamente diferente. Logo, não
sabemos como o nosso cérebro reagiria em uma situação semelhante.
O estudo também não diz se exercícios aeróbicos
teriam os mesmos resultados ou se pessoas saudáveis também teriam os benefícios
observados nos ratinhos. Mesmo assim, Kelty recomenda que as pessoas façam
exercício de resistência. “É bom para você por vários outros motivos, e parece
ser neuroprotetor. Quem não quer um cérebro saudável?”, diz ele. [New York
Times]
Fonte: https://hypescience.com/como-a-musculacao-inesperadamente-muda-o-seu-cerebro/
- Por Juliana Blume