Essas substâncias são desreguladores endócrinos que se
acumulam no meio ambiente e entram no nosso organismo através do ar, água e
embalagens de alimentos
Talvez você nunca tenha ouvido falar em desreguladores ou
disruptores endócrinos, mas é possível que já tenha lido, recentemente, algo
sobre a proibição, feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), de mamadeiras com Bisfenol A (BPA) – substância presente no
plástico policarbonato e resina epóxi, e que está associada a diversos
problemas de saúde.
Os desreguladores endócrinos são substâncias que estão no
meio ambiente e que têm ação no sistema endócrino humano. De acordo com
Cristiane Kochi, membro da SBEM-SP (Regional São Paulo da Sociedade Brasileira
de Endocrinologia e Metabologia), essa ação pode ocorrer por mecanismos
diferentes. “Esses desreguladores podem ser naturais ou sintéticos e essas
substâncias se acumulam no meio ambiente e entram no nosso organismo através do
ar, água, embalagens que acondicionam alimentos e outros produtos usados no
trabalho e em casa. Além
disso, os desreguladores podem ter passagem pela placenta e pelo leite
materno”, explica.
Patrícia Peschel Alves Silva, endocrinologista da Clínica
Sete, em Curitiba, destaca que essas substâncias são deletérias à função
endócrina, atuando em receptores, na síntese ou nas vias de sinalização destes
hormônios. “Com isso podem prejudicar o crescimento, desenvolvimento, função
reprodutiva, sistema imunológico, sistema neurológico e até estar relacionados
ao desenvolvimento de cânceres”, diz. “Elas podem ser encontradas em
pesticidas, eletrônicos, cosméticos, plásticos, itens de cuidado pessoal,
alimentos etc.”, acrescenta.
De acordo com Patrícia Silva, a maior preocupação é em
relação aos efeitos potenciais da exposição dos disruptores precocemente,
intraútero, em bebês, crianças, adolescentes e gestantes. “Novos estudos
reportam efeitos sobre o desenvolvimento neural das crianças, má formação
genital em meninos, deficit de atenção/hiperatividade em crianças, puberdade
precoce, alteração reprodutiva e cânceres relacionados ao sistema endócrino
(próstata, mamas, tireoide) e outras desordens”, diz.
A endocrinologista Patrícia ressalta que existe cerca de 800
substâncias químicas conhecidas ou suspeitas de serem capazes de interferir na
função hormonal, mas apenas poucas delas têm sido investigadas em testes
capazes de identificar os seu efeitos. E o maior problema é que, como algumas
substâncias estão difundidas no solo, ar, há dificuldades em evitá-las.
Abaixo você confere uma lista com nomes e informações sobre
onde são encontrados alguns desreguladores endócrinos:
1. Perclorato
Substância química presente em fogos de artifício,
fertilizantes, explosivos. “Pode agir negativamente na formação do hormônio
tireoidiano, podendo levar a um quadro de hipotireoidismo (falta do hormônio da
tireoide). É muito solúvel em água e leite, podendo, em casos de lactantes,
afetar a função tireoidiana do bebê”, diz Patrícia Silva.
Como evitar: Uma forma de evitar a água com perclorato
seria optar por filtros de osmose reversa.
2. Lítio
Metal que se oxida rapidamente no ar e nas águas, ligas
metálicas, baterias e também é utilizado no tratamento de transtornos
bipolares. “Pode causar hipotireoidismo (diminui a formação dos hormônios
tireoidianos), alterações em paratireoide e diabetes insipidus”, diz a
endocrinologista Patrícia.
Como evitar: Nunca tome medicamentos sem orientação
médica. A substância presente neles, se ingerida sem necessidade e de forma
irregular, pode ser fatal.
3. Dioxinas
São subprodutos não intencionais de vários processos
industriais. “Devido à grande facilidade de se espalharem pela atmosfera, águas
e rios, agora estão difusamente presentes no globo. Levam de anos a séculos
para serem degradadas e podem ser recicladas no meio ambiente”, diz Patrícia
Silva.
De acordo com a endocrinologista, a dioxina mais potente é a
2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD). “Os seres humanos são expostos às
dioxinas por via alimentar, através de carnes, peixes e lacticínios. A Agência
Internacional para Pesquisa do Câncer classifica a TCDD com um conhecido
carcinogênico humano, relacionado a todos os tipos de câncer, sendo um
carcinogênico multissítio. Há estudos que a correlacionam ainda com
endometriose”, acrescenta e endocrinologista.
Como evitar: Uma forma de evitá-las seria reduzir o
consumo de produtos de origem animal, que são mais propícios a serem
contaminados pela dioxina nas indústrias.
4. Atrazina
Segundo Patrícia Silva, o pesticida químico atrazina é
encontrado na água e nos alimentos, e está relacionado ao aumento da incidência
de obesidade em
crianças. Além disso, há estudos que o associam à síndrome de
Parkinson.
Como evitar: Consumir mais alimentos orgânicos e comprar
um filtro de água que remova a atrazina são algumas maneiras de evitá-la.
5. Ftalatos
“Produto difuso no planeta, os ftalatos são usados na
manufatura de plásticos vinis flexíveis. A exposição humana se dá pela
ingestão, inalação, pela pele. Há estudos mostrando associação com menopausa
precoce por mecanismos ainda incertos. Há outras evidências de alteração
qualidade do sêmen”, explica a endocrinologista Patrícia.
Como evitar: Para tentar evitá-lo, uma dica seria
diminuir o contato com recipientes plásticos, brinquedos e produtos de higiene
pessoal que contenham ftalatos.
6. Bisfenol A (BPA)
De acordo com Patrícia Silva, Bisfenol A é uma substância utilizada para fazer
policarbonato – que dá origem ao plástico endurecido, transparente -, sendo
utilizada na confecção de mamadeiras, garrafas plásticas, copos para bebês e
produtos plásticos variados. “Também está presente em resina epóxi que reveste
latas e embalagens de alimentos, para aumentar a conservação, e em selantes
dentais”, diz a endocrinologista.
O BPA tem estrutura semelhante ao estrogênio (hormônio
feminino) e pode reprogramar as células e causar danos à saúde. “Estudos em
humanos correlacionam níveis sanguíneos elevados de BPA à obesidade, problemas
de tireoide, infertilidade, asma, doenças cardíacas e neurológicas. Já estudos
em animais mostram que o BPA pode causar câncer”, diz Patrícia.
A endocrinologista Cristiane Kochi destaca que, recentemente,
a Anvisa proibiu no Brasil o uso de mamadeiras com BPA. “Importante ação para
reduzir a exposição de crianças a essa substância”, considera.
Em 2010,
a SBEM-SP lançou a campanha “Diga não ao Bisfenol A, a
vida não tem um plano B” para que a substância fosse banida de produtos
infantis e embalagens de alimentos. As orientações para evitar a substância
são:
Use mamadeiras e utensílios de vidro ou BPA Free para os
bebês;
Jamais esquente no micro-ondas bebidas e alimentos
acondicionados no plástico. O bisfenol A é liberado em maiores quantidades
quando o plástico é aquecido;
Evite levar ao freezer alimentos e bebidas acondicionadas no
plástico. A liberação do composto também é mais intenso quando há um
resfriamento do plástico;
Evite pratos, copos e outros utensílios de plástico. Opte
pelo vidro, porcelana e aço inoxidável na hora de armazenar bebidas e
alimentos;
Descarte utensílios de plástico lascados ou arranhados.
Evite lavá-los com detergentes fortes ou colocá-los na máquina de lavar louças;
Caso utilize embalagens plásticas para acondicionar
alimentos ou bebidas, evite aquelas que tenham os símbolos de reciclagem com
números 3 e 7 no seu interior e na parte posterior da embalagem. Eles indicam
que a embalagem contém ou pode conter o BPA na sua composição.
Patrícia Silva ressalta que, apesar da proibição das
mamadeiras com BPA, feita pela Anvisa, é fundamental observar se outras
embalagens plásticas não contêm a substância, ou seja, se são mesmo “BPA Free”.
A endocrinologista Cristiane Kochi destaca que várias
sociedades médicas no mundo têm utilizado o princípio da precaução em relação
aos desreguladores. “Ou seja, há uma preocupação com relação aos potenciais
efeitos deletérios em nosso organismo, mas ainda sem comprovação científica.
Seria importante, portanto, tentar reduzir a exposição a essas substâncias,
especialmente de nossas crianças”, finaliza.
Dessa forma, todo mundo já pode começar a fazer a sua parte,
evitando, pelo menos, o contato de crianças com o BPA. Além disso, é
interessante conversar com seu médico de confiança a respeito dessas
substâncias e seguir possíveis orientações para evitar a exposição a elas.
Fonte: http://www.dicasdemulher.com.br/substancias-quimicas-mais-toxicas-presentes-em-sua-casa/
- Por Tais Romanelli - Foto: Thinkstock