Especialistas recomendam que governo acelere a quarta dose entre idosos para reduzir perigo
A tendência de queda nos números da Covid-19 no país,
observada nas últimas semanas, tem motivado gestores a derrubar a
obrigatoriedade de uso de máscaras e até a vislumbrar a porta de saída da
pandemia. Mas especialistas alertam que o fim das restrições deve aumentar a
circulação do vírus e causar um efeito perverso à população mais vulnerável,
como a de idosos.
Para evitar que o quadro atual se reverta, com aumento
de mortes, parte dos profissionais de saúde defende adotar de uma vez a quarta
dose de vacina, o que aumentaria a proteção para estes grupos. Até agora, no
entanto, apenas os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul decidiram
revacinar.
Levantamento do GLOBO mostra que mesmo com uma taxa de
letalidade menor do que outras variantes, a Ômicron foi responsável por
aumentar em seis vezes o número de mortes na faixa etária acima de 60 anos
entre dezembro, quando houve 1.946 óbitos, a fevereiro, ocasião em que se
registrou a perda de 12.640 vidas, patamar próximo ao de julho. É como se, em
média, 451 idosos tivessem morrido ao dia no mês passado.
— Há uma parcela da população que não está vacinada.
Considerando a transmissão e a baixa restrição, principalmente em relação ao
uso das máscaras, meu receio é de que tenhamos novo aumento de casos — alerta a
imunologista Melissa Markoski, da Rede Análise Covid-19.
Apesar de ser menos agressiva, a Ômicron é considerada
mais transmissível do que outras cepas do vírus. Assim, a conta que
especialistas fazem é de que com mais pessoas sendo contaminadas, há chance
maior de o número de mortes também aumentar.
E a preocupação com os mais velhos se dá porque, com o
avanço da idade, a resposta das células de defesa diminui. É a chamada
imunossenescência, envelhecimento imunológico vivido pelos idosos. Além disso,
há queda na quantidade de anticorpos conferido pelas vacinas ao longo dos meses
e escape parcial na imunidade provocado pela Ômicron. Nesse cenário,
especialistas defendem a necessidade de uma quarta para aumentar a proteção.
O estado de São Paulo, por exemplo, já adotou a medida
para o grupo a partir de 80 anos, à revelia do Ministério da Saúde, que ainda
estuda a possibilidade. Já Mato Grosso do Sul abaixou a idade para os que têm
pelo menos 60 anos e incluiu os profissionais de saúde, mais expostos ao vírus.
— Podemos temer aumento em hospitalizações e em mortes
evitáveis de idosos com a flexibilização de medidas não farmacológicas —
sintetiza a bióloga, epidemiologista e integrante da Rede Análise Covid-19,
Rute de Andrade.
Os dados analisados pelo GLOBO também mostram que a
curva de diagnósticos e a de mortes não necessariamente sobem ao mesmo tempo. O
aumento do número de óbitos de idosos em fevereiro, por exemplo, reflete o
recrudescimento visto em janeiro, quando houve 43.374 casos graves nesta faixa
etária.
Projeções do Ministério da Saúde consideram 15 dias de
intervalo — média prevista para a evolução até a maior gravidade — desde a
confirmação da contaminação até a morte. Essa mesma previsão estimava o pico de
mortes provocadas pela Ômicron para o fim do mês passado.
Assim, são grandes as chances de haver subnotificação.
É o caso de fevereiro, por exemplo, em que há pouca diferença entre os números
de casos graves e de mortes.
— Ainda entram casos na base de dados de 2021, então o
mês mais recente também é o mais provável de ter atrasos. É importante olharmos
de novo para fevereiro daqui a 30 ou 45 dias para vermos como essas
notificações estarão preenchidas — pondera Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da
Rede Análise Covid-19.
Vacinação insuficiente
Ao todo, 873.116 idosos tiveram casos graves de
Covid-19 e 391.220 vieram à morte desde o início da pandemia, mostra o
levantamento. Os dados, extraídos pela Rede, retratam a infecção viral ao longo
dos dois últimos anos, numa série histórica que abrange de fevereiro de 2020
até fevereiro de 2022.
Levantamento da Secretaria Extraordinária de
Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), do Ministério da Saúde, aponta que mais de
21 milhões de idosos já receberam a terceira dose. O montante representa 67% da
população estimada para a faixa etária a partir de 60 anos — taxa ainda
considerada baixa por especialistas.
“A pasta reforça diariamente a importância de toda a
população adulta completar o esquema vacinal com duas doses e o reforço para
garantir a maior proteção contra a Covid-19. Para ampliar a proteção dos
idosos, a pasta passou a recomendar a dose de reforço em setembro do ano
passado, ampliando para toda a população maior de 18 anos posteriormente”, diz
o Ministério da Saúde, em nota.
Fonte: https://saude.ig.com.br/coronavirus/2022-03-20/flexibilizacao-uso-mascara-traz-riscos-populacao-velha.html
- Por Agência O Globo - Ascom/SMS
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