A família deve continuar acompanhando a rotina
escolar e apoiando o jovem, mesmo durante o Ensino Superior
É durante a faculdade que o jovem precisa ter a
família como uma importante referência de valores
Após tanto esforço e expectativa, eis
que a lista do SISU (ou a convocação do vestibular) traz a esperada
boa notícia: seu filho foi aprovado! Comemoração geral entre
familiares e amigos e, para vocês, pais, este é um momento de muito orgulho e
de uma sensação de "missão cumprida", certo?
Sim. Ou melhor, quase.
Os pedagogos e psicólogos, na verdade, alertam que a "missão" ainda
não terminou. "Os pais devem saber que a passagem do final do
Ensino Médio para o início do Ensino Superior não significa o final da adolescência.
Muitas famílias fazem deste momento um rompimento e acreditam que, a partir de
agora, o jovem tem de lidar com inúmeras situações sem contar tanto
com o apoio da família, o que é um erro", explica o psicólogo Adriano
Machado Oliveira, professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins.
Ao contrário do que possa parecer, é exatamente
neste período em que o jovem precisa ter a família como uma importante
referência de valores e isso fica ainda mais urgente e necessário diante da
realidade atual, na qual a juventude está fragilizada (veja mais sobre este
fenômeno no item 5 abaixo).
A mesma opinião tem Anita Adas, coordenadora
pedagógica do Ético Sistema de Ensino da Editora Saraiva, para quem a família
deve se posicionar como uma verdadeira parceira do jovem. "Claro que há
uma diminuição no ‘controle’ que os pais têm sobre este jovem e seu dia a dia,
mas isso não quer dizer que ele não precise mais de orientação e supervisão. É
preciso estabelecer uma justa medida neste acompanhamento, e cada família tem
sua forma de ser, mas o que não pode acontecer são os pais perderem seu papel
de autoridade, de alguém experiente com quem este jovem pode contar", diz.
Além de levar à reflexão sobre possíveis
comportamentos inadequados, também cabe aos pais continuar a aprovar
conquistas. "Basta olharmos para nós mesmos: mesmo adultos, ainda
esperamos a aprovação daqueles que amamos. Por isso, é importante continuar a
demostrar interesse pelo que ocorre na vida deste jovem e vibrar com suas
vitórias, descobrimentos e crescimento pessoal", afirma Anita.
Para entender como apoiar, veja as principais
mudanças que seu filho irá enfrentar ao ingressar no mundo universitário e
dicas de como agir para ajudá-lo a lidar bem com elas.
1. Novo jeito de
estudar
As mudanças no jeito universitário de estudar são
muitas. Em algumas faculdades, inclusive, o próprio jovem terá de decidir o
rumo que quer dar para sua formação, escolhendo entre as chamadas
"disciplinas optativas". Até mesmo a tão conhecida "lista de
material" praticamente não existe mais: professores apresentam uma relação
de obras recomendáveis para acompanhar o curso e, novamente, cabe ao aluno
decidir quais delas irá adotar, ler ou pesquisar. Os conteúdos são,
evidentemente, mais aprofundados, e apresentados de uma maneira menos ordenada
ou cronológica. E o vocabulário dos professores é mais elaborado e repleto de jargões
da área do curso.
Como ajudar: apesar destas grandes alterações, a maioria dos jovens consegue se adaptar bem a elas. Caso seu filho se mostre preocupado ou assustado com estas mudanças, mostre que isso é normal e sugira que ele converse com o coordenador do curso, que pode dar dicas importantes e sanar as principais dúvidas. Vale também recomendar a seu filho que ele procure saber o máximo sobre como funciona a instituição na qual está matriculado, entendendo prazos e processos para inscrições nas disciplinas optativas, provas substitutas, como são atribuídas as notas e as formas de recuperação, etc.
Como ajudar: apesar destas grandes alterações, a maioria dos jovens consegue se adaptar bem a elas. Caso seu filho se mostre preocupado ou assustado com estas mudanças, mostre que isso é normal e sugira que ele converse com o coordenador do curso, que pode dar dicas importantes e sanar as principais dúvidas. Vale também recomendar a seu filho que ele procure saber o máximo sobre como funciona a instituição na qual está matriculado, entendendo prazos e processos para inscrições nas disciplinas optativas, provas substitutas, como são atribuídas as notas e as formas de recuperação, etc.
2. Deslumbramento pela
vida universitária
Uma das características da entrada na faculdade é o
jovem finalmente encontrar "sua turma". Afinal, ele estará entre
pessoas que escolheram seguir a mesma carreira que ele e que, portanto, têm um
grande potencial para gostos e visões de mundo parecidos. Além disso, não há
controle de entrada e saída, não se usa uniforme, ou seja, um ambiente mais
livre e onde ele pode se expressar totalmente. Tudo isso gera um encantamento
que pode ser muito positivo, se traduzido em um alto interesse pelos conteúdos
ensinados e pelo aprendizado adquirido. Mas também pode ser prejudicial, caso o
jovem não saiba lidar com esta liberdade, indo à faculdade, mas não entrando
para assistir as aulas, por exemplo.
Como ajudar: converse com seu filho sobre o dia a dia na faculdade e, caso perceba que ele tem se deixado levado levar muito pelas distrações do ambiente, fale abertamente sobre este comportamento, levando-o a refletir sobre isso.
Como ajudar: converse com seu filho sobre o dia a dia na faculdade e, caso perceba que ele tem se deixado levado levar muito pelas distrações do ambiente, fale abertamente sobre este comportamento, levando-o a refletir sobre isso.
3. Rotina acadêmica
mais pesada e temas mais complexos
Na faculdade, o ritmo do aprendizado é mais
acelerado, há um grande aumento na exigência da qualidade dos trabalhos
apresentados e o aluno pode sentir dificuldade em acompanhar determinadas
disciplinas.
Como ajudar: apoie seu filho e reforce que ele tem capacidade de superar os problemas. "Mostre que as dificuldades são transitórias e que vale a pena insistir. Mesmo que ele não esteja entendendo completamente uma matéria, aos poucos ela fará mais sentido. Caso ele realmente não goste de uma disciplina, lembre a ele que ela é apenas uma parte do curso e não o todo", comenta Anita Adas, coordenadora pedagógica do Ético Sistema de Ensino, da Editora Saraiva. Ela ressalta que a família também tem de contribuir, fazendo com que a rotina da casa se adapte a esta nova realidade, criando um ambiente tranquilo para o jovem estudar e fazer seus trabalhos. "É preciso ter sensibilidade e abrir mão de viagens e passeios em feriados ou finais de semana, caso o filho tenha muito o que estudar ou trabalhos a entregar", diz.
Como ajudar: apoie seu filho e reforce que ele tem capacidade de superar os problemas. "Mostre que as dificuldades são transitórias e que vale a pena insistir. Mesmo que ele não esteja entendendo completamente uma matéria, aos poucos ela fará mais sentido. Caso ele realmente não goste de uma disciplina, lembre a ele que ela é apenas uma parte do curso e não o todo", comenta Anita Adas, coordenadora pedagógica do Ético Sistema de Ensino, da Editora Saraiva. Ela ressalta que a família também tem de contribuir, fazendo com que a rotina da casa se adapte a esta nova realidade, criando um ambiente tranquilo para o jovem estudar e fazer seus trabalhos. "É preciso ter sensibilidade e abrir mão de viagens e passeios em feriados ou finais de semana, caso o filho tenha muito o que estudar ou trabalhos a entregar", diz.
4. Vida social intensa
Festas e muita conversa em barzinhos fazem parte do
ambiente universitário, mesmo durante a semana. Há, inclusive, grandes eventos
e shows musicais pensados especialmente para atrair os jovens universitários.
Como agir: os especialistas garantem que não adianta proibir seu filho de frequentar festas e bares. Isto só fará surgir conflitos e a tendência é que ele ou simplesmente não obedeça ou passe a mentir. Não há problema, aliás, que ele participe destes encontros, a questão é ficar atento para que isso não atrapalhe a vida escolar. "Caso os pais percebam que isto está se configurando como um problema, gerando faltas, atrasos, o não cumprimento das tarefas solicitadas e atrapalhando o desempenho acadêmico, cabe uma conversa para chamar atenção para isso", defende Anita Adas, coordenadora pedagógica do Ético Sistema de Ensino, da Editora Saraiva. Os pais devem reforçar para o jovem que este tipo de comportamento pode colocar por terra tudo aquilo que ele tanto lutou para conquistar. Afinal, de que adianta ter entrado na tão sonhada faculdade se ele não está aproveitando o que ela oferece em termos de formação?
Como agir: os especialistas garantem que não adianta proibir seu filho de frequentar festas e bares. Isto só fará surgir conflitos e a tendência é que ele ou simplesmente não obedeça ou passe a mentir. Não há problema, aliás, que ele participe destes encontros, a questão é ficar atento para que isso não atrapalhe a vida escolar. "Caso os pais percebam que isto está se configurando como um problema, gerando faltas, atrasos, o não cumprimento das tarefas solicitadas e atrapalhando o desempenho acadêmico, cabe uma conversa para chamar atenção para isso", defende Anita Adas, coordenadora pedagógica do Ético Sistema de Ensino, da Editora Saraiva. Os pais devem reforçar para o jovem que este tipo de comportamento pode colocar por terra tudo aquilo que ele tanto lutou para conquistar. Afinal, de que adianta ter entrado na tão sonhada faculdade se ele não está aproveitando o que ela oferece em termos de formação?
5. Mais atenção a uma
juventude fragilizada
"Ao contrário do que possa parecer, estamos
diante de uma juventude fragilizada", alerta o psicólogo Adriano Machado
Oliveira, professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins. Ele explica
que a atual busca por uma educação que não seja autoritária (como foi regra em
décadas anteriores), tem criado bons vínculos afetivos entre pais e filhos,
mas, ao mesmo tempo, falha ao não demarcar de forma clara o que é correto e o
que incorreto, o que é desejável e o que indesejável.
"Muitas vezes os pais acreditam que o filho é quem deve escolher, decidir e fazer suas próprias experiências, mas na verdade a psicanálise defende que é preciso uma demarcação clara de valores para que o sujeito possa, a partir deles, se constituir e então decidir o que ele vai ser", afirma. "Com isso, nesta transição para o Ensino Superior, alguns jovens experimentam este momento de maior autonomia, mas ainda estão ressentidos da falta destes marcos importantes e alguns comportamentos de risco podem ocorrer, neste momento de maior distanciamento da família, como o abuso do álcool. Isto porque no fundo, este jovem está procurando uma referência e esta referência pode ser o líder de um grupo de amigos que leva todos a adotarem comportamentos parecidos", diz Oliveira.
Outro aspecto destacado por Oliveira é o atual contexto social onde ser jovem (e isso envolve corpo e estilo de vida) é o modelo cultural desejável e está totalmente associado à diversão. "Estamos vivendo uma cultura na qual ser jovem é frequentar locais de entretenimento e até mesmo produções cinematográficas, especialmente as americanas, mostram a universidade como um local para se divertir, não como um espaço para o conhecimento", comenta. "O problema não é a diversão existir, mas sim essa monopolização que faz com que todos os aspectos da vida social tenham de ser de diversão". Segundo Oliveira, isto faz com que o jovem tenha dificuldade de assumir seu papel como estudante, que exige leitura, esforço para compreender os conteúdos e toda a dedicação que o Ensino Superior requer para que ele possa se tornar um excelente profissional.
Cabe aos pais, então, serem aqueles que reforçam para os filhos que nem todos os momentos são de diversão e que é preciso adotar estar postura de estudante e de construtor de seu próprio caminho de aprendizado. "Para evitar o desgaste com discussões, os adultos estão abandonando sua função de orientadores, deixando este jovem sem parâmetros e tornando esta juventude frágil, sem saber como agir ou se posicionar. Os pais devem apresentar suas opiniões, levantar questões, cobrar do jovem aquilo que acreditam ser certo. O debate de ideias é fundamental para a construção da personalidade e os pais não podem fugir dessa responsabilidade", sentencia Oliveira.
"Muitas vezes os pais acreditam que o filho é quem deve escolher, decidir e fazer suas próprias experiências, mas na verdade a psicanálise defende que é preciso uma demarcação clara de valores para que o sujeito possa, a partir deles, se constituir e então decidir o que ele vai ser", afirma. "Com isso, nesta transição para o Ensino Superior, alguns jovens experimentam este momento de maior autonomia, mas ainda estão ressentidos da falta destes marcos importantes e alguns comportamentos de risco podem ocorrer, neste momento de maior distanciamento da família, como o abuso do álcool. Isto porque no fundo, este jovem está procurando uma referência e esta referência pode ser o líder de um grupo de amigos que leva todos a adotarem comportamentos parecidos", diz Oliveira.
Outro aspecto destacado por Oliveira é o atual contexto social onde ser jovem (e isso envolve corpo e estilo de vida) é o modelo cultural desejável e está totalmente associado à diversão. "Estamos vivendo uma cultura na qual ser jovem é frequentar locais de entretenimento e até mesmo produções cinematográficas, especialmente as americanas, mostram a universidade como um local para se divertir, não como um espaço para o conhecimento", comenta. "O problema não é a diversão existir, mas sim essa monopolização que faz com que todos os aspectos da vida social tenham de ser de diversão". Segundo Oliveira, isto faz com que o jovem tenha dificuldade de assumir seu papel como estudante, que exige leitura, esforço para compreender os conteúdos e toda a dedicação que o Ensino Superior requer para que ele possa se tornar um excelente profissional.
Cabe aos pais, então, serem aqueles que reforçam para os filhos que nem todos os momentos são de diversão e que é preciso adotar estar postura de estudante e de construtor de seu próprio caminho de aprendizado. "Para evitar o desgaste com discussões, os adultos estão abandonando sua função de orientadores, deixando este jovem sem parâmetros e tornando esta juventude frágil, sem saber como agir ou se posicionar. Os pais devem apresentar suas opiniões, levantar questões, cobrar do jovem aquilo que acreditam ser certo. O debate de ideias é fundamental para a construção da personalidade e os pais não podem fugir dessa responsabilidade", sentencia Oliveira.