Entre 60 a 100 vezes por minuto todos os dias, seu
coração bate. Ao contrário dos outros músculos do seu corpo, ele quase nunca se
cansa, até parar de vez.
Por quê?
O corpo humano é composto por três tipos de
músculos: esqueléticos, lisos e cardíacos.
Os músculos esqueléticos são estriados. Anexados aos
ossos e tendões, eles controlam praticamente todos os movimentos voluntários e
involuntários (como o diafragma, que funciona automaticamente) do corpo.
O movimento voluntário é estimulado por impulsos
nervosos, que viajam até os neurônios motores do ramo somático sensorial do
sistema nervoso, para fazer com que as fibras musculares esqueléticas em que
terminam se contraiam.
O músculo esquelético deriva sua energia a partir de
mitocôndrias dentro de suas células, mas não precisa de muitas delas – contém
uma média de apenas 1 a 2% mitocôndrias, uma fonte de energia suficiente para
tarefas musculares intermitentes, como caminhar ou correr.
Completando suas reservas, o músculo esquelético
também pode usar glicogênio (energia armazenada) para produzir ATP, a unidade
básica que transporta e libera energia às células.
Já músculo liso é exatamente como descrito: sem
estrias. Encontrado em órgãos internos ocos (exceto o coração), os músculos
lisos funcionam automaticamente, nos ajudando a fazer coisas como digerir
alimento, dilatar as pupilas e fazer xixi.
Por sua vez, tal como o músculo esquelético, o
músculo cardíaco é estriado. Excepcionalmente, as células deste tipo de músculo
são unidas em junções aderentes que permitem a contração do coração com força,
sem rasgar suas fibras.
O estímulo para fazer o coração bombear vem de
dentro e passa de fibra a fibra por meio de junções comunicantes entre si. Em
uma onda síncrona a partir das aurículas e através dos ventrículos, o sangue
viaja por todo o corpo. Qualquer coisa que interfere com essa onda, como um
ataque cardíaco, pode fazer com que as fibras do coração batam de forma
aleatória – condição chamada de fibrilação atrial.
Embora o coração bombeie sangue por sua própria
vontade, os nervos modulam (aumentam ou diminuem) a taxa intrínseca e a força
do batimento cardíaco. Mesmo que esses nervos sejam destruídos (como em um
transplante cardíaco), o coração continua a bater.
Músculo cardíaco, assim como o músculo esquelético,
também é alimentado por mitocôndrias, mas possui muitas mais. O volume total do
coração é integrado de 30 a 35% de mitocôndrias. Essa enorme quantidade de
geradores de energia significa que o músculo cardíaco, em um estado saudável,
nunca precisa de descanso – há sempre um pouco de energia sendo transferida
para o músculo, ao mesmo tempo em que mais energia está sendo derivada da
ingestão calórica.
No entanto, esta quantidade de mitocôndria significa
que o coração tem também uma maior dependência de respiração celular para ATP,
tem pouco glicogênio e recebe pouco benefício da glicólise quando o suprimento
de oxigênio é limitado.
Assim, qualquer coisa que interrompe o fluxo de
sangue oxigenado para o coração leva rapidamente a danos, até mesmo à morte.
Isto é o que acontece em ataques cardíacos.
É possível cansar o coração
Em 2001, cientistas estudaram a
fadiga cardíaca em atletas de resistência. A
cardiologista Euan Ashley montou um laboratório móvel na linha de chegada da
corrida de ultra resistência “Adrenaline Rush” na Escócia. A equipe vencedora
cruzou a linha depois de 90 horas contínuas de ciclismo, escalada, natação e
remo, praticamente sem dormir.
Fazendo exames antes e após os 400 km de corrida, a
equipe de Ashley determinou que os corações dos atletas que terminaram a
competição bombeavam 10% menos sangue no final da corrida em comparação com a quantidade
bombeada no início.
No entanto, mesmo os corações dos atletas que
mostraram sinais de cansaço cardíaco voltaram ao normal rapidamente após a
corrida, e nenhum dano permanente foi feito.
Mas poderia.
Outras pesquisas indicam que existem perigos de
danos permanentes ao coração, como um estudo britânico de 2011, feito com
homens que tinham sido parte de uma equipe nacional ou olímpica britânica em
corrida de longa distância ou de remo, bem como corredores que tinham
completado pelo menos uma centena de maratonas.
12 participantes tinham 50 anos ou mais, e 17 tinham
26 a 40 anos. Eles foram analisados e comparados a um grupo de 20 homens
saudáveis com mais de 50 anos, nenhum dos quais eram atletas de resistência.
Os diferentes grupos foram submetidos a um tipo de
ressonância magnética de seus corações, que identifica sinais muito precoces de
fibrose ou cicatriz dentro do músculo cardíaco, condição que pode contribuir
para função cardíaca irregular e, eventualmente, insuficiência cardíaca.
Os resultados foram bastante inquietantes. Nenhum
dos atletas mais jovens ou os não atletas mais velhos tinham fibrose em seus
corações. Mas metade dos atletas mais velhos tinham cicatrizes no músculo
cardíaco. Os homens afetados foram, em cada caso, aqueles que tinham treinado
de maneira intensa por mais tempo.
No entanto, até mesmo os cientistas que estudam os
efeitos do exercício intenso no músculo cardíaco concordam que “exercício
demais” não é um grande problema na sociedade de hoje. A maioria das pessoas só
se exercita para ficar em forma, e a evidência científica diz que o exercício
de resistência, no geral, faz bem para o coração. [Gizmodo]