A Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
recomendará o fim dos cabeceios nas escolinhas e categorias de base por um
suposto risco de problemas sérios
Recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) anunciou que pretende proibir cabeçadas em treinos e partidas disputadas
entre menores de 12 anos. A iniciativa segue países como Estados Unidos e
Inglaterra, que baniram esse tipo de movimento nos campeonatos infanto-juvenis.
A preocupação da entidade é com o risco de danos
neurológicos quando o cérebro está em plena formação. Nos últimos anos, alguns
cientistas e autoridades apontaram que o cabeceio constante e repetitivo
poderia provocar lesões praticamente imperceptíveis nos neurônios dos pequenos.
Em 2018, um trabalho apresentado no Congresso do
American College of Sports Medicine avaliou na prática esse impacto.
Pesquisadores porto-riquenhos analisaram 30 jogadores com idade média entre 9 e
11 anos de idade (15 meninas e 15 meninos). Todos usaram um acelerômetro preso
em uma faixa na cabeça durante três partidas. O dispositivo consegue captar o
movimento do contato da testa com a bola. Os participantes foram instruídos a
jogar normalmente.
Com base nisso, os pesquisadores notaram que, em uma
cabeçada, o cérebro era submetido a forças de aceleração entre 16 e 60G. Para
ter ideia, no adulto, um impacto de 60G é suficiente para causar uma concussão
(lesão que altera a função mental de maneira temporária ou permanente).
Os voluntários-mirins também passaram por testes de
capacidade cognitiva antes e depois dos jogos. Entre as meninas que cabecearam
pelo menos uma vez, houve um abalo em curto prazo na memória sequencial,
responsável por reconhecimento de palavras e capacidade de leitura. Nos
garotos, o problema foi na velocidade de processamento auditivo e em
habilidades relativas à linguagem.
Para os especialistas, isso sugere que a turma
sofreu subconcussões. Isto é, lesões que não aparecem nos exames de imagem, mas
que eventualmente trazem prejuízos, ainda mais se repetidas por anos e anos.
As descobertas ainda são inconclusivas
No futebol profissional adulto, as lesões de cabeça
já são mais compreendidas e se tornaram fonte de preocupação dos clubes, que
monitoram constantemente os atletas para detectar qualquer dano à massa
cinzenta.
Por outro lado, a suspeita de que, nos mais jovens,
as cabeçadas na bola trariam repercussões permanentes não está consolidada.
Apesar de experimentos como o que citamos anteriormente, a ciência ainda não
bateu o martelo principalmente sobre possíveis efeitos de longo prazo.
Uma revisão de literatura, publicada em 2016 no The
Physician and Sportsmedicine Journal, chafurdou mais de 300 estudos e concluiu
que não há evidências de que jogar futebol na adolescência cause danos
cerebrais para o resto da vida. O artigo, assinado por um expert da
Universidade de Washington, nos Estados Unidos, revela ainda que as evidências
sobre a relação com concussões nos pré-adolescentes e adolescentes são escassas
e limitadas.
Nas entrevistas que concederam sobre o tema,
dirigentes da CBF destacaram que a medida será preventiva. E que o futebol até
o início da adolescência deve ser praticado de maneira lúdica — não de maneira
profissional. Até porque mexer o corpo nos primeiros anos de vida faz muito bem
à saúde.
Fonte: https://saude.abril.com.br/familia/cabecadas-no-futebol-podem-ser-perigosas-para-menores-de-12-anos/
- Por Chloé Pinheiro - Ilustração: Rômolo/SAÚDE é Vital