Dor de cabeça, fadiga muscular e desnutrição são
algumas condições que praticantes de esportes podem enfrentar se não cuidarem
da região bucal
Quando pensamos em atletas e esportistas em geral,
conseguimos imaginar uma lista de atitudes que acompanham o preparo físico de
cada um deles. Dietas controladas e saudáveis, treinos frequentes e muita
preocupação com a saúde do corpo. Tudo isso importa, claro, mas os cuidados não
devem parar aí. O que muita gente não sabe é que a saúde bucal também demanda
muita atenção.
"Mas o que os dentes têm a ver com
esporte?", você deve estar se perguntando. Bem, a resposta é: tudo.
Problemas bucais como infecções e traumas podem afetar o desempenho dos
atletas.
"A prevenção e o tratamento dentário são muito
importantes para o atleta. Isso porque doenças que afetam o organismo, de uma
forma geral, podem ter origem em infecções bucais. Atletas, profissionais ou
amadores, exigem muito do corpo, mais do que uma pessoa normal. Então, estão
sujeitos a muitos riscos", afirma o cirurgião dentista Robson Bastos
(CRO-SP 38879), especialista em Odontologia do Esporte e diretor de relações
institucionais e novos negócios da Sociedade Brasileira de Odontologia do
Exercício e do Esporte (SBOEE).
Atletas desenvolvem cárie com mais frequência por
conta de dietas e de suplementos ricos em sacarose
Além de ser a porta de entrada para algumas doenças,
a cavidade bucal tem um grande impacto no equilíbrio muscular geral do atleta.
Por isso, problemas aparentemente inofensivos, como a má oclusão, também podem
prejudicar o rendimento esportivo.
"O desencaixe dos dentes, que caracteriza a má
oclusão, pode estimular a projeção do pescoço do atleta, afetando a cadeia de
músculos superiores. Isso altera toda a postura, prejudicando outros músculos
também", explica o cirurgião dentista Eli Luis Namba (CRO-PR 15743),
presidente da Comissão Científica da Academia Brasileira de Odontologia do
Esporte (ABROE).
Conversamos com os dois especialistas a respeito dos
problemas bucais mais recorrentes em atletas e de que forma eles podem
prejudicar o rendimento esportivo. Veja lista completa abaixo:
Respiração bucal
Em atividades aeróbicas, como corrida ou natação,
uma boa troca respiratória é fundamental para o sucesso. A respiração se dá por
dois movimentos distintos: a inspiração, quando o ar entra pelas fossas nasais;
e a expiração, quando o ar é liberado dos pulmões pela cavidade bucal.
Em respiradores bucais, apenas a boca realiza as
trocas gasosas, o que afeta o rendimento dos atletas. "Se ele respirar
apenas pela boca, terá muitas dificuldades na atividade aeróbica que tentar
desenvolver. Nunca estará 100%, porque existe uma espécie de bloqueio às trocas
gasosas", afirma Eli Luis Namba.
Erosão dentária
Isotônicos e energéticos fazem parte do dia a dia
dos atletas, não há como negar. O consumo deve ser moderado, porém, como afirma
Robson Bastos.
De acordo com o especialista, tais bebidas favorecem
de maneira acentuada alterações significativas na flora da cavidade bucal,
devido ao seu caráter ácido - sem contar aquelas que são ricas em açúcar, outro
ingrediente extremamente prejudicial à saúde bucal. A acidez deste tipo de
bebida estimula a erosão dentária e pode levar à sensibilidade dos dentes.
Má oclusão
A má oclusão ocorre quando há um desencaixe entre as
arcadas dentárias, caracterizada pelas mordidas profundas ou cruzadas e dentes
desalinhados. Segundo Eli Luis, a má oclusão pode interferir na absorção de
nutrientes, já que a digestão começa na boca, com a "quebra" dos
alimentos.
Se essa quebra não é feita corretamente, pedaços
maiores de alimento chegam ao intestino, que não consegue aproveitar todos os
nutrientes presentes ali.
"Se o corpo não tem nutrientes, não tem energia
também. A consequência disso são as fadigas musculares, que ocorrem com mais
frequência quando não se absorve todos os nutrientes", afirma o
especialista.
Doenças periodontais
O acúmulo de placa bacteriana nos dentes é um dos
grandes responsáveis pelas doenças periodontais. Elas afetam o tecido de
suporte dos dentes, que envolve a gengiva e o osso alveolar. Gengivite e
periodontite, da inicial à avançada, são focos infecciosos que podem contribuir
para doenças sistêmicas.
O atleta tem uma tendência maior a desenvolver
infecções do gênero, já que seu sistema imunológico funciona no limite pelo
excesso de esforço físico e pela desidratação recorrente. Com as defesas em baixa,
ocorrem os chamados picos da ação bacteriana, que dão origem às doenças
periodontais.
A partir da boca, os micro-organismos ganham a
circulação sanguínea, podendo migrar para diferentes partes do corpo.
"Muitas vezes, as bactérias da boca são encontradas em outras lesões do
organismo ", explica Robson Bastos. Essas bactérias também podem agravar
lesões musculares, articulares, pneumonias e até mesmo abcessos cerebrais.
O especialista ainda alerta para um risco maior.
Doenças periodontais podem favorecer doenças coronarianas, como a endocardite
bacteriana. Ela ocorre quando as bactérias da cavidade bucal infectada migram
para as válvulas cardíacas, causando a inflamação do músculo cardíaco. A
endocardite é grave e pode ser fatal, principalmente entre atletas que exigem
muito do coração.
Cárie e dor de dente
Uma boa higiene oral é fundamental para prevenir as
temidas lesões de cárie. Em atletas e esportistas, o cuidado deve ser
redobrado. Esse público desenvolve cárie com mais frequência, por conta de dietas
e de suplementos ricos em sacarose, que são metabolizados pelas bactérias
causadoras da cárie. Esses alimentos acabam impregnados nos dentes, e quando
não são removidos na higienização bucal originam a lesão de cárie.
Quando a lesão avança, sem qualquer controle ou
obstáculo, pode chegar à polpa do dente requerendo o tratamento de canal. Este
percurso pode estimular fortes dores de dente nos atletas, uma das mais
incapacitantes de todas. Com a dor em jogo e estresse nas alturas, esportistas
perdem sua habilidade de concentração, extremamente importante em treinos
intensos ou durante as competições.
Apertamento dos dentes
Todas as pessoas têm o hábito de apertar os dentes,
em maior ou menor grau. Com os atletas, não é diferente. Em situações de extremo
esforço muscular, eles fazem o apertamento dos dentes como uma forma de
equilibrar o trabalho de força.
Além de aumentar o desgaste dentário, o gesto pode
ser responsável por intensas dores de cabeça. É aí que entra um objeto que
precisa acompanhar os atletas: os protetores bucais. Eles ajudam a evitar
trincamentos, desgastes e outros danos decorrentes do apertamento dos dentes.
Além de prevenir traumas dentários em esportes de
forte contato, como lutas e futebol, os protetores bucais também reduzem a força
de impacto que chega à boca e à base do crânio, protegendo-o.
O protetor bucal ideal é aquele que não atrapalha a
fala, a respiração e a deglutição. Ele deve ser moldado individualmente para a
boca de cada atleta, levando em conta as características do esporte praticado.