Seja dentro do carro durante o verão ou nos
escritórios, onde podem gerar polêmica pela diferença no nível de frio e calor
que as pessoas sentem, o ar-condicionado é um personagem recorrente da vida
moderna. Há quem goste e há quem odeie, e entre os seus inimigos, um dos
argumentos é que estas máquinas podem causar doenças ou piorar condições já
existentes, mas será que isso é verdade?
O portal Gizmodo, em sua sessão Giz Asks, em que faz
a mesma pergunta para diversos especialistas, levantou este debate. O veredito
é que sim, os ar-condicionados podem causar doenças, mas são casos muito raros.
Veja as respostas:
“Isso é raro. A grande questão se resume à
condensação e ao potencial de desenvolvimento de biofilmes (comunidades de
bactérias) dentro do ar-condicionado, e do ventilador disseminar essas
bactérias para o ar. Há também um problema por causa da umidade: alguns dos
ar-condicionados mais antigos tinham panelas de condensação, onde a água apenas
se acumulava e ficava ali. Outro problema é o mofo – a exposição a ele pode
desencadear uma reação alérgica e, potencialmente, uma infecção respiratória.
Mas a grande maioria dos casos documentados não são surtos: eles são
isolamentos de bactérias ou biofilmes”, diz Scott Meschke, professor de
Ciências do Trabalho e da Saúde da Universidade de Washington.
“Depende da doença e do ar-condicionado. Qual
doença? E qual ar-condicionado? Em primeiro lugar, “ar-condicionado” é um termo
bastante amplo. Estamos provavelmente mais conscientes dos ar-condicionados
“secos”. Os ar-condicionados de ciclo reverso nas residências não usam água e
liberam ar seco. Do ponto de vista da doença, isso dificulta a sobrevivência de
microorganismos. Estes seres fazem tudo na água – por isso, as doenças
bacterianas em ar-condicionados “secos” nunca acontecem. O sistema em si é
muito hostil para eles sobreviverem. Portanto, os ar-condicionados secos não
causam doenças.
Os ar-condicionados úmidos são menos conhecidos.
Eles usam principalmente água para resfriar o ar por evaporação. Edifícios
maiores usam um sistema mais complexo que recicla a água através de um
dispositivo e usa a água resfriada para resfriar um refrigerador que, por sua
vez, resfria o ar. É muito semelhante ao ar-condicionado do seu carro, que usa
o radiador para resfriar o refrigerador que fornece ar frio. Estes são chamados
de torres de resfriamento, e quase todos os grandes edifícios tem um (ou mais)
que fornecem ar-condicionado.
Naturalmente, uma vez que você tenha um sistema
“úmido”, as bactérias e outros seres crescerão. Isto é principalmente onde o
problema ocorre. A água usada para resfriamento aquece e coleta a sujeira do ar
externo (leia-se “alimento para germes”), o que a torna ideal para o seu
crescimento. Como esses sistemas precisam ter exaustão, o ar úmido é soprado
para o meio ambiente. Os germes são então transportados no ar úmido.
Dependendo do germe e da pessoa que respira o ar
úmido, isso pode causar doenças. A doença do legionário (causada pela bactéria
Legionella) é provavelmente o melhor exemplo disso. Ar de sistemas de
ar-condicionado úmidos é inalado e causa infecção em pessoas suscetíveis. Nem
todo mundo fica doente – apenas aqueles cuja saúde não é a melhor. Surtos de
“torres de resfriamento” podem afetar centenas de pessoas porque o ar úmido e
cheio de bactérias pode viajar quilômetros longe da fonte e ser inalado.
Curiosamente, a maioria das pessoas que ficam doentes está fora do prédio. As
pessoas com ar-condicionado dentro do prédio não são infectadas, porque não
respiram a exaustão da torre de resfriamento. Portanto, a doença dos
legionários é o problema de alto perfil que causa doenças em aparelhos de
ar-condicionado úmidos”, respondeu Richard Bentham, professor de Biologia da
Universidade Flinders.
Arthur Frank, professor de Saúde Ambiental e
Ocupacional da Universidade Drexel, também cita a doença do legionário, mas diz
que sistemas menores de ar-condicionado também podem fazer mal. “O clássico,
claro, é a doença do legionário, que você obteria de grandes sistemas de
ar-condicionado. (Um caso) foi descrito pela primeira vez na Filadélfia, no
Hotel Bellevue – o sistema de água estava contaminado com organismos
Legionella, muitas pessoas adoeceram e várias morreram.
Mas os aparelhos de ar-condicionado individuais
também podem causar problemas às pessoas. Quando eu era estudante de medicina
do quarto ano, fazendo uma aula eletiva no Instituto Nacional do Câncer,
aprendi sobre um jovem com leucemia que estava sendo tratado lá. Ele chegava ao
hospital com febre, haveria a preocupação de que ele tivesse uma infecção, eles
o tratavam vigorosamente por alguns dias com antibióticos, e então sua
temperatura baixava. Eles não conseguiam encontrar qualquer fonte de um
organismo, então eles o mandavam para casa, e ele rapidamente adoecia
novamente. Finalmente alguém fez uma visita à sua casa e descobriu que o
sistema de ar-condicionado estava carregado de bactérias e fungos, e ele
respondia a isso toda vez que ia para casa com um pico de febre.
Portanto, unidades individuais de quartos podem
expelir bactérias e fungos com as quais as pessoas também podem ficar doentes,
mas é bastante incomum. Se fosse comum, considerando todos os sistemas de
ar-condicionado que temos nos Estados Unidos, muito mais pessoas ficariam
doentes com isso.
E você tem que equilibrar os riscos. Há uma taxa de
mortalidade normal e previsível nos Estados Unidos, mas as duas coisas que a
aumentam são uma temporada de gripe particularmente ruim no inverno ou uma onda
de calor prolongada no verão. Os ar-condicionados podem proteger as pessoas,
além de deixá-las doentes”, pondera.
“Sim: sistemas de ar-condicionado podem deixar você
doente. Principalmente por causa do crescimento de microorganismos, incluindo
Legionella, nos sistemas de água que são usados no ar de resfriamento. Isso
pode ocorrer com outras fontes de água também – os surtos de Legionella foram
associados a muitas fontes, incluindo spas e aquários.
A questão que realmente importa é: qual a
probabilidade de você ficar doente com um ar-condicionado? Existem centenas de
milhões de aparelhos de ar-condicionado residenciais e comerciais nos EUA.
Pense em quantas vezes você entra em um prédio refrigerado. Em 2016, os Centros
de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relataram cerca de 6.100 casos de
doença do legionário (embora as autoridades de saúde pública acham que isso é
provavelmente uma quantidade menor de casos reais) na população americana de
cerca de 320 milhões de pessoas. Isso sugere que o risco de uma pessoa
aleatória ficar doente é muito pequeno.
É importante notar que o CDC diz que o risco não é
distribuído uniformemente, com pessoas com mais de 50 anos, fumantes atuais ou
passados, e aqueles com sistema imunológico enfraquecido ou doença crônica
tendo maior risco”, opina George Gray, professor de Saúde Ambiental e
Ocupacional da Universidade George Washington. [Gizmodo]