O Brasil registrou no último ano 862,7 mil casos e quase 6 mil mortes por Covid-19. Dados do Ministério da Saúde apontam que pouco mais de 20% da população elegível tomou todas as doses de vacinas de reforço contra a doença, o que torna as pessoas vulneráveis a complicações em caso de infecção ou reinfecção pelo coronavírus.
Em paralelo, e lamentavelmente, seguem circulando nas
redes sociais e em grupos de WhatsApp informações falsas sobre a Covid,
principalmente sobre supostos danos causados pelas vacinas, o que não
encontra, absolutamente, nenhum respaldo científico.
Cinco anos após o registro oficial do primeiro caso
da doença no país, até parece que este grave problema de saúde pública é
coisa do passado e que o vírus foi erradicado. Mas isso não é verdade.
Desde 2020, foram mais de 700 mil mortes por Covid-19
no Brasil e cerca de 7 milhões em todo o planeta. No início, todos fomos
pegos de surpresa, e não havia nenhuma vacina para conter o Sars-Cov-2 no
mundo.
Pouco mais de um ano do primeiro óbito, em abril de
2021, com a campanha de vacinação ainda incipiente e poucas doses
disponíveis, o Brasil chegou a perder mais de 4,2 mil vidas em um único dia,
número muito maior que grandes catástrofes mundiais.
Não podemos deixar que o sofrimento de tantas pessoas
que perderam familiares e amigos e fingir que tudo voltou à normalidade. A
realidade é que a doença ainda mata e provoca milhares de internações em
Unidades de Terapia Intensiva.
Por isso, manter o esquema vacinal em dia é a melhor
forma de prevenir o agravamento de quadros de infecções e óbitos. Buscar
informação nos canais oficiais do Sistema Único de Saúde (SUS) e em
reportagens divulgadas por fontes confiáveis, como os veículos de imprensa,
também é fundamental.
Se o pior já passou, é preciso lembrar que os anos
de 2020, 2021 e 2022 foram tempos difíceis e sombrios. No momento mais
crítico da pandemia, o cenário desolador foi agravado por negacionismo,
negacionistas, movimentos antivacina e disseminação de fake news, algo nunca
visto em crises sanitárias anteriores, e que contribuiu para milhares de
mortes que poderiam ter sido evitadas.
De outro lado, o SUS mostrou o seu valor inestimável
no enfrentamento da Covid-19, reforçando suas estruturas por meio de hospitais
de campanha, importações de respiradores, ampliação de leitos de UTI e
definição de protocolos resolutivos para assistir aos doentes. As
instituições de saúde funcionaram de forma exemplar, e os profissionais de
saúde foram verdadeiros heróis.
No estado de São Paulo, a partir da confirmação do
primeiro caso de Covid-19, foi implantado um Centro de Contingência formado
por médicos, cientistas, epidemiologistas, virologistas e professores, que
trabalharam por dois anos e dez meses na avaliação do cenário
epidemiológico, da ocupação das UTIs, da média móvel de casos e óbitos e
da taxa de positividade dos testes para auxiliar o poder público na tomada de
decisões.
Ainda no campo da saúde, o Instituto Butantan
organizou em tempo recorde uma rede de testagem em parceria com laboratórios
públicos, privados e universitários. Foi também responsável pelos estudos
clínicos e pela importação de matéria-prima que permitiram viabilizar a
primeira vacina contra a Covid disponibilizada aos brasileiros.
O Centro de Contingência também contou com a
participação de comunicadores, responsáveis por “traduzir” as deliberações
dos especialistas e produzir os materiais de divulgação à imprensa e os
conteúdos de mídias digitais.
Os profissionais de comunicação trabalharam de forma
incansável para levar informações corretas sobre a situação da Covid em
São Paulo. Foram mais de 200 coletivas de imprensa, organizadas pela
Secretaria de Comunicação, além de milhares de entrevistas concedidas pelos
especialistas do Centro de Contingência aos meios de comunicação. A
agilidade no fornecimento de dados às agências de fact-checking foi outro
ponto fundamental para combater a enxurrada de fake news.
Durante a pandemia, observou-se expressivo aumento da
busca de informações por parte da população nos meios tradicionais de
comunicação – jornais, portais, rádios e emissoras de TV, em detrimento das
mídias sociais. Sinal de que o bom jornalismo, o SUS e a ciência fizeram a
diferença no enfrentamento da Covid-19, se traduzindo em altos índices de
cobertura vacinal, uso de máscaras e adesão ao isolamento quando não havia
outra forma de prevenção.
Esse legado será eterno, mas é preciso manter o
alerta. As campanhas de vacinação e de comunicação ainda são necessárias
para evitar que a doença faça ainda mais vítimas.
(Este artigo contou com a colaboração especial dos
jornalistas Vanderlei França, que foi coordenador de Comunicação do Centro
de Contingência contra a Covid de SP (2020 – 2022), e Ricardo Liguori, que
coordenou a assessoria de imprensa do Instituto Butantan (2020 – 2021) e foi
relacionado entre os 10 profissionais de comunicação corporativa mais
admirados do país na última edição do Prêmio Comunique-se).
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/colunas/david-uip/saude/covid-19-ainda-mata-e-e-alvo-de-fake-news/