Na balança não é possível diferenciar o que é
gordura, o que é músculo e o que é água
Provavelmente, você foi ensinada desde cedo a
monitorar o seu peso para não engordar, e mesmo assim você se pesa (quase)
todos os dias. Pois saiba que o peso da balança não reflete a nossa saúde,
muito menos a composição do nosso corpo – ou seja, o que é gordura, o que é
músculo, o que é água.
Nós somos resultado da mistura de muitos povos, o
que confere características bastante diversificadas para as pessoas. Algumas
pessoas têm mais músculos ou mais gordura, umas são mais altas e outras mais
baixas, algumas têm o quadril largo, enfim. É uma miscelânea de corpos e
constituições, definidas geneticamente. Não tem como existir um “corpo padrão”
nessas condições.
Bom, dito isso, voltamos a conversar sobre o peso. A
composição do nosso corpo é determinada geneticamente, ou seja, nós já nascemos
com as informações de qual o tamanho que o nosso corpo vai ter na fase adulta.
Basicamente, podemos dividir o nosso corpo em duas partes: uma que tem peso
mais estável durante boa parte da vida adulta, como ossos e órgãos, e outra que
tem peso variável, como músculos, líquidos e gordura. Os nossos hábitos de vida
é que modificam essa segunda parte.
Pessoas ativas têm massa muscular aumentada (e
provavelmente massa de gordura baixa), ao passo que, sedentários têm massa
muscular reduzida. E o conteúdo de massa muscular e de gordura no nosso
organismo influencia diretamente no nosso estado de saúde.
E é por isso que o peso da balança não reflete a
nossa saúde: a gente só vê a soma de todas as partes juntas e não conseguimos
diferenciar o que é gordura, o que é músculo e o que é água. Uma pessoa que se
pesa ao acordar e à noite, vai apresentar dois pesos diferentes, podendo variar
até dois quilos. Isso não significa que essa pessoa engordou naquele período, é
apenas um reflexo das alterações no metabolismo que acontecem durante o dia,
como por exemplo, a retenção de líquidos.
É como acontece com uma pessoa sedentária que passa
a praticar atividade física para perder peso. Com o início da prática, uma das
adaptações que ocorre é o aumento de massa muscular, o que, consequentemente,
vai aumentar o peso na balança. Talvez essa pessoa se pese dois meses depois
que começou a se exercitar, veja que aumentou 1,5 kg de peso, e julgue que os
exercícios não estão “fazendo o efeito esperado” porque ela “engordou”, de
acordo com o número revelado na balança. E isso pode ser uma conclusão bastante
equivocada, pois pode ter ocorrido, na verdade, um aumento de massa muscular e
não de gordura.
Outro exemplo bem interessante também ocorre com,
justamente, quem quer emagrecer. Se essa pessoa acompanha seu emagrecimento apenas
pelo peso de balança, ela pode, inadvertidamente, estar perdendo massa muscular
e não gordura corporal durante o processo, e isso, com certeza, não é o
adequado.
O emagrecimento saudável e duradouro é aquele em que
perdemos massa gorda e mantemos (ou até ganhamos) massa muscular. Para que isso
aconteça, devemos ter uma prática adequada de atividades físicas, sono
adequado, hábitos saudáveis (como não fumar, não consumir muita bebida
alcoólica, açúcar e frituras) e seguir a dieta proposta. O músculo é um tecido
ativo, ou seja, ele gasta calorias mesmo quando estamos em repouso – auxiliando
na perda de peso!
Cuidado com o IMC
É por esses motivos que eu desaconselho o uso do IMC
(Índice de Massa Corporal) para avaliação de indivíduos. O IMC é uma ferramenta
utilizada para avaliações populacionais, pois é de fácil aplicação e é barata.
Entretanto, como ele utiliza apenas o peso e a altura para classificar o estado
nutricional, ele acaba tendo o mesmo problema que o número da balança: não
distingue o que é gordura de massa muscular.
Dessa forma, eu desaconselho meus pacientes a se
guiarem apenas pelo peso de balança ou mesmo pelo o IMC, pois eles não refletem
a realidade da composição corporal. Temos alguns métodos de avaliação corporal
mais fidedignas disponíveis, e vou explicar resumidamente dois dos mais comuns
para vocês:
Dobras cutâneas
O profissional avaliador treinado pega em pontos
específicos do corpo, com os dedos, indicador e do meio, em forma de pinça, a
gordura subcutânea e mede, com um equipamento chamado plicômetro, a espessura
dessa dobra em milímetros.
Esses valores são inseridos em alguma das equações
já estabelecidas na literatura científica, de acordo com o público que está
sendo avaliado, e o resultado é o percentual de gordura corporal. Daí a gente
consegue fazer os cálculos de quanto daquele peso na balança é de gordura, de
massa muscular, etc, separando os compartimentos, e fazendo uma análise mais
criteriosa.
Bioimpedância
Os equipamentos de bioimpedância passam uma corrente
elétrica (mas não se assuste, a gente não consegue sentir) pelo corpo através
de placas de metal, com diferentes polos magnéticos, nas mãos e nos pés. Essa
corrente viaja facilmente pela água e, por isso, tecidos muito hidratados, como
os músculos, deixam a corrente passar rapidamente.
Já a gordura e os ossos possuem pouca água e, dessa
forma, a corrente tem maior dificuldade para passar. Isso permite que o
aparelho calcule a diferença da velocidade da corrente, identificando o que é
músculo e o que é gordura, e o valor percentual referente às quantidades deles,
além de outros parâmetros como gordura abdominal, taxa metabólica basal
(calorias gastas em repouso) e idade metabólica.
Cada um dos métodos tem suas aplicações específicas,
suas vantagens e desvantagens. Por isso, procure um profissional da sua
confiança e converse com ele sobre qual é o melhor para o seu caso.
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/fitness/noticia/2019/02/existe-peso-ideal-o-que-voce-deve-saber-sobre-o-numero-que-aparece-na-balanca
- Raquel Lupion - Divulgação / Pexels