As rotinas atribuladas da sociedade moderna fazem
com que muitos de nós só tenham uma refeição decente bem tarde da noite, pouco
tempo antes de dormir. Isso é um grande problema, pelo menos de acordo com
pesquisas recentes.
Por exemplo, um
estudo internacional (que incluiu pesquisadores da Universidade de
Murcia, na Espanha, e das Universidades Tufts e Harvard, nos EUA) de 2013 com
420 pessoas com sobrepeso e obesas constatou que as que comiam tarde (pessoas
que faziam sua maior refeição do dia após as 15:00) perderam significativamente
menos peso e levaram mais tempo para perdê-lo do que as que comiam cedo (as que
faziam a sua principal refeição antes das 15:00).
Outro estudo de 2015 conduzido por pesquisadores da
Universidade da Cidade de Osaka, no Japão, sobre os hábitos de comer de 350
pessoas descobriu que jantar dentro de três horas antes de deitar-se estava
associado com um risco de desenvolver sintomas de refluxo ácido, uma condição
bastante comum que causa desde azia a indigestão, tosse, rouquidão, asma e, nos
casos mais graves, até câncer. Os resultados se mantiveram estáveis mesmo após
os cientistas levarem em conta fatores como tabagismo, IMC e outros que
poderiam afetar a condição.
Comer e deitar
Vários especialistas têm ecoado essas preocupações
encontradas por pesquisas recentes.
Ano passado, o médico Jamie A. Koufman escreveu um artigo de opinião para o jornal americano The New
York Times no qual descreveu como a refeição noturna – especialmente
quando consiste de uma refeição pesada seguida de pouca ou nenhuma atividade –
pode estragar os sistemas dos quais nossos corpos dependem para processar
alimentos.
De acordo com o médico, a digestão adequada é
fundamental para a absorção dos nutrientes dos alimentos que comemos e para descartar
o que não precisamos. Mas nossos corpos não são projetados para comer uma
grande refeição e se recolher no sofá depois.
Ficar sentado e ereto nos ajuda a digerir – permite
que a gravidade faça seu trabalho em manter o conteúdo do nosso estômago para
baixo. Como o estômago demora cerca de três horas para esvaziar-se, esperar
pelo menos esta quantidade de tempo antes de deitar ou dormir é uma boa ideia –
senão, o risco de azia e refluxo é maior.
Além disso, esperar horas para comer durante o dia
pode deixá-lo faminto na hora do jantar. Isso, por sua vez, pode fazer com que
você coma muito rápido. Como seu cérebro leva cerca de 20 minutos para
registrar o estômago cheio, você provavelmente vai comer demais antes mesmo de
saber que já está satisfeito. Logo, essas refeições tardias podem levar ao
ganho de peso.
A história do jantar
Agora, você já sabe que não deve comer muito tarde
da noite, para evitar problemas como refluxo e ganho de peso. Sua melhor opção
é comer uma bela refeição antes das 15:00.
Mas como chegamos ao ponto de jantar assim tão
tarde? Essa é uma questão histórica.
Por centenas de anos, as pessoas costumavam fazer
apenas uma grande refeição, geralmente no meio do dia. Os romanos, por exemplo,
comiam apenas uma vez, em torno de meio-dia. Na América colonial, a refeição
principal era servida também ao meio-dia. Os europeus são mais um caso de
pessoas que comiam quase exclusivamente ao meio-dia, quando a luz natural
estava disponível para cozinhar, com exceção de agricultores e trabalhadores
que acordavam cedo e tipicamente faziam um lanche com as sobras da refeição do
dia anterior.
A maioria dos ocidentais devem o café da manhã às
longas jornadas de trabalho da Revolução Industrial. As pessoas precisavam de
um lanche logo cedo para ter energia para sua rotina diária. Os trabalhadores
não podiam ir para casa no meio do dia, por isso faziam lanches em cantinas e
trailers que começaram a aparecer perto das fábricas durante este tempo. Aqui,
o almoço pode ter nascido.
Quando a Revolução Industrial terminou, o trabalho
pesado deu lugar a empregos de escritório, a classe média surgiu e o jantar em
casa tornou-se uma tradição e um marcador de status social. O problema é que as
pessoas começaram a comer cada vez mais porcarias, em horários cada vez mais
tardios, e nossa saúde está sofrendo com isso. [ScienceAlert]