Nossa colunista traz à tona um sério motivo para
falar de sexualidade: os casos de HIV na população mais velha continuam em alta
Fazer sexo depois dos 60, dos 70, dos 80 anos… exige
os mesmos cuidados indicados às demais parcelas da população ativa. Parece óbvio,
não? E, de fato, seria, se não houvesse um alto índice de transmissão do vírus
da imunodeficiência humana, o HIV, entre os idosos. Na última década foi
registrado um aumento de 103% no número de casos, de acordo com os dados mais
recentes do Ministério da Saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), se o
ritmo de propagação nessa população se mantiver como está, dentro de dez anos
poderemos ter um mundo em que sete em cada dez idosos correm o risco de
contrair a infecção. Como você deve saber, sem diagnóstico e tratamento, esse
quadro evolui para a aids, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Embora ainda não se tenha uma vacina ou cura, a
prevenção, por meio do uso da camisinha, é uma arma eficiente para combater a
transmissão do vírus e coibir novos casos de aids. É preciso ter consciência de
que a idade não é fator protetor contra o HIV. O que isso significa? Ser idoso
não caracteriza estar isento de risco. Todo mundo com uma vida sexual
desprotegida pode entrar na mira do vírus.
Vamos falar de sexo na velhice?
Ainda que muita gente insista em ligar a velhice a
impotência e perda de apetite sexual, o fato é que hoje o mundo é bem diferente
daquele de algumas décadas atrás. A oferta de estimulantes sexuais,
lubrificantes e mesmo o surgimento de aplicativos de relacionamento fez mudar
drasticamente certos comportamentos. Isso vem impactando no número de parceiros
sexuais, na manutenção da libido e na oportunidade de realizar-se na cama e, de
alguma maneira, socialmente.
O que ficou para trás foi a educação sexual. Muitos
dos idosos de hoje não foram orientados a utilizar camisinha e, com isso, se
tornaram vulneráveis. Nessa faixa etária existem pessoas que ainda ligam o HIV
a uma doença de jovem e de “grupos de risco”, conceito que caiu por terra faz
tempo.
Muitos que hoje estão com mais de 60 ou 70 anos não
viveram sua juventude em uma época de alta propagação da doença. A epidemia de
HIV teve início nos anos 1980 e 1990. Por não terem vivido essa realidade, é
comum que entre os idosos persista a ideia de que, nessa fase, o preservativo é
dispensável nas relações sexuais.
Não é à toa que defendo a necessidade de investir em
campanhas de sensibilização voltadas a esse público — não apenas aos mais
jovens, como ainda é corrente.
Um ponto que influencia essa história toda é que
falar de sexo na velhice às vezes ganha ares de tabu. Ao silenciar discussões e
orientações a respeito, os mais velhos continuam transando, só que suscetíveis
não só ao HIV como a outras infecções sexualmente transmissíveis, caso de
sífilis, gonorreia, clamídia e herpes genital.
Falta diálogo, mesmo por parte de profissionais da
área da saúde, sobre sexo seguro nessa etapa da vida. O desejo sexual não pode
ser desencorajado. Pelo contrário. Conversar com o idoso sobre sexo pode, além
de auxiliar na prevenção de doenças, contribuir para que ele lide de maneira
natural com a sexualidade e ganhe ainda mais qualidade de vida.
Outro comportamento, infelizmente comum, é o de
familiares não aprovarem que idosos do seu círculo tenham parceiros ou que, até
mesmo, namorem. É sempre bom lembrar que a libido tem grande importância na
produção de hormônios que fazem bem à saúde de todos. Por isso, quando bem
orientada, a prática sexual é vantajosa e gera melhor condicionamento para
aqueles que se mantém ativos.
“O tempo não
para”
Se o cantor e compositor Cazuza (1958-1990)
estivesse vivo hoje, estaria entre os mais maduros com HIV. Na época em que ele
foi diagnosticado soropositivo, o tema ainda era obscuro em termos de
tratamento e mesmo sobre os agravos e as perspectivas ao paciente.
Infelizmente, para ele o fim chegou mais rápido.
A boa notícia é que hoje a sociedade dispõe de um
tratamento capaz de controlar a doença. Com isso, as pessoas com o vírus vivem bem e com a carga viral
indetectável. O coquetel terapêutico é inclusive fornecido pelo Sistema Único
de Saúde (SUS).
Independentemente de ser jovem ou idoso, conviver
com o HIV exige que o paciente leve a sério o tratamento. Além do bem-estar
próprio, a carga viral indetectável, resultado do uso contínuo e correto dos
remédios, impede que o indivíduo manifeste sintomas ou transmita o vírus.
Foi-se mesmo o tempo em que a infecção remetia a uma sentença de morte.
Volto a insistir:
o vírus da imunodeficiência humana não escolhe idade, cor, raça, crença,
tampouco faz distinção socioeconômica. Pelo contrário, a infecção pode alcançar
qualquer pessoa que pratique sexo sem proteção. Entre idosos, trata-se de um
hábito tão natural quanto em outras idades. Afinal, jamais se é velho demais para
tirar proveito de uma vida sexual ativa, saudável e feliz.
Estamos no #DezembroVermelho, o mês do Dia Mundial
de Luta Contra a Aids. Que tal aproveitar para incluir a camisinha como um item
tão essencial na sua rotina quanto a água que você bebe? Já pensou em fazer um
simples teste de HIV? As pessoas não param de fazer sexo porque ficam velhas.
Então, cuide-se!
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/chegue-bem/sexo-seguro-nao-tem-limite-de-idade/
- Por Dra. Maisa Kairalla - Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital