Felizmente, a expectativa de vida das pessoas tem
aumentado. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os japoneses são os
que vivem mais tempo, com uma média de 84 anos, enquanto brasileiros têm
expectativa de vida de 73.
Apesar desses números, é um fato óbvio que algumas
pessoas vivem muito mais do que outras. Os chamados centenários, por exemplo,
vivem pelo menos até os 100.
O que explica essa desigualdade?
Estilo de vida
Muitas questões de estilo de vida importam. Um
estudo de 2012 publicado na revista Preventive Medicine seguiu mais de 8.000
pessoas ao longo de um período de 5 anos, e descobriu que o risco de morte por
qualquer causa era 56% menor em não fumantes, 47% menor nas pessoas que se
exercitavam, e 26% menor nos que tinham uma dieta saudável.
Pesquisadores italianos também analisaram as dietas
de habitantes da região de Monti Sicani na Sicília, onde há uma alta
prevalência de pessoas com 100 anos. Além de serem fisicamente ativos e terem
contato próximo com os parentes, todos os centenários entrevistados eram
adeptos a uma dieta mediterrânica tradicional.
A descoberta mais surpreendente dos últimos tempos,
no entanto, é que também existe uma forte ligação entre mortalidade e QI: maior
inteligência leva, em média, a uma vida mais longa.
Vantagem clara
Esta relação tem sido amplamente documentada por Ian
Deary e seus colegas da Universidade de Edimburgo, utilizando dados do
Levantamento Mental Escocês. Em 1932, o governo escocês administrou um teste de
QI em todas as crianças de 11 anos que frequentaram a escola em um determinado
dia.
Mais de sessenta anos depois, com foco na cidade de
Aberdeen, Deary e Lawrence Whalley decidiram identificar quem do estudo ainda
estava vivo, aos 76 anos. Os resultados foram surpreendentes: uma vantagem de
15 pontos no QI se traduziu em uma chance 21% maior de sobrevivência.
Por exemplo, uma pessoa com um QI de 115 era 21%
mais propensa de estar viva na idade de 76 do que uma pessoa com um QI de 100
(a média da população geral).
Epidemiologia cognitiva
A ligação entre QI e mortalidade já foi replicada
por 20 estudos longitudinais em todo o mundo, dando origem ao campo da
epidemiologia cognitiva, que se concentra em entender a relação entre o
funcionamento cognitivo e a saúde.
Uma das principais conclusões deste novo campo é que
os fatores socioeconômicos não explicam completamente a relação QI-mortalidade.
Em um estudo, com foco na região do Cinturão Central
da Escócia, os pesquisadores relacionaram pontuações de QI de mais de 900 dos
participantes do estudo de 1932 a respostas dos mesmos participantes em uma
pesquisa nacional de saúde realizada no início de 1970. Os pesquisadores
descobriram que, estatisticamente, classe econômica e condições de vida
adversas (como desemprego) representaram apenas cerca de 30% da correlação.
Esta evidência sugere que são os genes que
contribuem para a ligação entre QI e vida longa.
Nascer para viver muito
Os resultados de um novo estudo realizado por
Rosalind Arden e colegas, publicado no International Journal of Epidemiology,
fornecem um apoio a esta hipótese.
Os cientistas identificaram três estudos com gêmeos
(nos EUA, Dinamarca e Suécia) sobre QI e mortalidade. Tais estudos separam os
efeitos de fatores genéticos e ambientais sobre um resultado, como a
inteligência ou vida útil, comparando gêmeos idênticos, que compartilham 100%
de seus genes, a gêmeos fraternos, que compartilham em média apenas 50% dos
seus genes.
As análises estatísticas foram claras e
consistentes: os genes eram responsáveis pela maior parte da relação entre
inteligência e vida longa.
Os inteligentes se comportam melhor
Exatamente o que pode explicar a ligação genética
entre QI e mortalidade permanece obscuro, porém. Uma possibilidade é que um QI
mais elevado contribui para mais comportamentos saudáveis, tais como se
exercitar, usar cinto de segurança e não fumar.
Consistente com esta teoria, nos dados escoceses,
não houve relação entre QI e comportamento de fumar nas décadas de 1930 e 1940,
quando os riscos do fumo à saúde eram desconhecidos, mas depois disso, as
pessoas com QIs mais altos eram mais propensas a parar de fumar.
Alternativamente, pode ser que alguns dos mesmos
fatores genéticos contribuam tanto para a variação no QI quanto para a
propensão de se envolver nestes tipos de comportamentos.
Cérebro saudável, vida saudável
Outra possibilidade é que o QI é um índice de
integridade física, particularmente da eficiência do sistema nervoso. Para
testar esta hipótese, em um estudo, os pesquisadores analisaram as relações
entre QI, mortalidade e desempenho em um teste de tempo de reação projetado
para medir a eficiência de processamento do cérebro.
As pessoas tinham que pressionar uma de quatro
teclas de resposta dependendo de qual dos quatro dígitos aparecia numa tela. Os
cientistas descobriram que, uma vez que a pontuação de uma pessoa no teste de
tempo de reação foi levada em consideração, sumiu a correlação entre QI e
mortalidade.
Em outras palavras, o tempo de reação explicou a
relação entre QI e mortalidade.
Avaliações de QI
Estes e outros resultados de epidemiologia cognitiva
têm implicações potencialmente profundas para a saúde pública. Junto com
fatores como histórico familiar de doenças, o QI poderia ser usado de forma proativa
para avaliar o risco das pessoas para o desenvolvimento de problemas de saúde e
morte precoce.
Ao mesmo tempo, a potencial utilização de testes de
inteligência levanta problemas éticos. Por exemplo, há evidências de que a
crença de uma pessoa sobre sua capacidade de ir bem em um teste de inteligência
pode estar ligada à sua etnia ou gênero, e pode impactar o quão bem essa pessoa
realmente vai no teste. Por sua vez, ser rotulado como alguém com “baixo QI” ou
“alto QI” pode impactar a autoestima de uma pessoa.
Uma abordagem para lidar com este problema é
desenvolver testes de inteligência que minimizem o impacto desses fatores.
Outra é educar o público e os políticos sobre o significado de uma pontuação de
QI.
O QI pode predizer resultados, tais como o
desempenho no trabalho, o desempenho acadêmico e até a mortalidade, mas é
apenas um fator entre muitos que preveem estes resultados. Coisas como
personalidade, interesses e motivação importam, também. [ScientificAmerican]
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