Sejam vocês pais de primeira viagem ou não, há muito
o que aprender com as últimas descobertas científicas para ajudar na criação
dos filhos, mas com moderação
Choro, quantidade de leite, muita roupa, pouca
roupa, quando dar fruta, sopa ou banho, como fazer o curativo do cordão
umbilical. As dúvidas em relação aos cuidados que se deve ter com um bebê são
inúmeras. Trata-se de outra vida totalmente dependente dos pais e que requer
muita atenção a qualquer choro ou sinal de desconforto.
Na hora do problema, a melhor consultoria diante das
hesitações deve vir de ajuda especializada, no caso, o mais indicado é o médico
pediatra. E com orientação extra: escolha o profissional antes de o bebê
nascer, já na 32ª semana de gestação, aconselha Moises Chencinski, membro dos
Departamentos de Aleitamento Materno e de Pediatria Ambulatorial e Cuidados
Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
“Sempre acaba sendo uma orientação de alguém, da
internet, tudo em cima da hora. Nasceu o bebê, não é hora de escolher o
pediatra, é melhor escolher antes. Já nascendo com o pediatra ‘no bolso’, é
melhor e mais tranquilo para a mãe”, diz o médico.
Dúvida comum
Entre as dúvidas mais comuns, a campeã disparada é
sobre aleitamento. “Até por conta da má orientação que a mãe recebe na
maternidade e no pré-natal”, diz Chencinski. “As maternidades dão alta em 48
horas, é difícil aprender algo nesse período”, explica Francisco Lembo Neto,
coordenador do Centro de Especialidades Pediátricas do Hospital Samaritano (SP).
Fora do consultório
Em um mundo em que somos bombardeados de informações
a todo momento, fica difícil não recorrer à internet para esclarecer alguma
dúvida imediata. Muitos pediatras oferecem o celular e o e-mail para que os
pais entrem em contato, no entanto, a resposta pode demorar a vir.
Nesse caso, os médicos orientam que as pessoas
procurem dados em sites de instituições oficiais, como das sociedades de
pediatria, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da
Saúde. Chencinski fazuma ressalva à busca por grupos de mães na internet, já
que ali circulam informações de fontes diferentes, nem sempre confiáveis, que
podem mais atrapalhar do que ajudar. “Com várias orientações, os pais acabam se
perdendo”, aponta Lembo Neto, que comenta as orientações familiares: “Os
hábitos do passado acabam tentando influenciar a conduta atual. Um exemplo é a
amamentação. Muitas avós não amamentavam, e estimulavam a ingestão do leite de
vaca, pois havia a crença deque o leite materno não funcionava”.
Ciência como processo
Chencinski concorda e acrescenta que “quando se
trata de compreender a saúde das crianças, muita informação pode chegar por
meio do conhecimento das últimas pesquisas científicas, com o entendimento de
que a ciência é um processo e que os estudos precisam ser replicados muitas
vezes antes de se tornarem realidade nos lares”. A seguir, listamos descobertas
recentes que podem ser de grande valia para os pais. Confira!
1. Mais cuidado com a medicação
Uma pesquisa do Centro Médico Langone (Nova York),
mostrou que o uso repetido de antibióticos afeta o desenvolvimento das
crianças. Outro levantamento, feito em 2014, com base no Sistema Nacional de
Dados sobre Envenenamento dos Estados Unidos, mostra que a cada oito minutos
uma criança com menos de 6 anos é vítima de um erro de medicação. “Se os pais
são bem orientados, dá para medicar em casa, sem exagero. Hoje há procura
excessiva dos hospitais, e isso é fruto de má orientação na área privada e
pública”, afirma Lembo Neto.
2. Nada de cama compartilhada
Um estudo publicado na revista Pediatrics investigou
os fatores ligados às mortes dos bebês durante o sono e constatou que a criança
dormir na mesma superfície que a mãe foi o maior fator de risco para aqueles
com idade de quatro meses ou menos. “A cama compartilhada é uma realidade útil,
mas tem riscos. A criança pode ter febre, dificuldade respiratória, mas pode
ser uma opção interessante para a mãe sentir-se mais confortável ao amamentar,
por exemplo”, explica Chencinski. Já o médico do Samaritano não aconselha o compartilhamento
do colchão com os pais, e indica que é melhor a criança ficar no berço ou no
carrinho ao lado da cama.
3. Cobertores e travesseiros, com moderação
Nos EUA, mais da metade dos pais coloca seus bebês
para dormir com cobertores ou outros objetos soltos, de acordo comum relatório
oficial do governo. “A porcentagem de pais que coloca seus filhos para dormir
com outros objetos na cama caiu desde a década de 1990. E aqueles que não
adotaram as recomendações da Academia Americana de Pediatria podem estar sendo
confundidos por revistas e catálogos de decoração, que retratam bebês em berços
com objetos desnecessários – e potencialmente inseguros –, como cobertores e
almofadas de pelúcia”, alerta Chencinski. “Protetor de berço deve sempre ter
porque a criança pode entrar na grade. Não há necessidade do travesseiro até os
5 meses de idade. Se a casa tem boa temperatura, não há necessidade de
cobertor, e se houver, tem que estar preso no colchão. A criança se movimenta
muito e pode se enrolar”, explica Lembo.
4. Um melhor amigo desde pequeno
Muitas famílias tratam os pets como filhos. A
relação funciona de modo semelhante ao que se dá entre mãe e filho, segundo um
estudo publicado pela revista Science (abril de 2015). Comprovou-se que a troca
de olhares entre o cachorro e seu dono dispara os níveis de ocitocina no
cérebro de ambos. O hormônio é conhecido como "hormônio do amor" e é
relacionado à conduta paternal e maternal. A ocitocina tem papel importante no
reconhecimento e estabelecimento de vínculos sociais, assim como na formação de
relações de confiança entre as pessoas. Mas será que faz bem ao bebê conviver
desde pequeno com animais? “A não ser que a criança tenha alergia ao pelo. Do
contrário, ter animal de estimação em casa é um estímulo”, fala Lembo Neto. “A
convivência é ótima e pode ser feita. Já há dados que indicam uma incidência
menor de quadros respiratórios em quem convive com animais”, explica
Chencinski.
5. Passeios de carro seguros
Um estudo que se concentrou nos dados de um hospital
de Oregon (EUA), descobriu que mais de 90% das mães, pais ou cuidadores
cometeram pelo menos um erro importante na forma como instalaram o assento de
carro do recém-nascido quando deixaram o hospital após o nascimento. “Os
resultados demonstram a necessidade de mais informações para que os pais
mantenham seus filhos em segurança”, afirma o médico da SPSP. Segundo a ONG
Criança Segura, os sistemas de retenção reduzem a probabilidade de lesões
fatais em cerca de 70% entre bebês e de 54% a 80% entre as crianças menores. Há
diversos tipos de sistemas de retenção de acordo com o peso e a faixa etária.
Em comparação aos cintos de segurança, estima-se que o uso de assentos de
elevação reduz em 59% o risco de danos em crianças de 4 a 7 anos.
6. Vacinação é essencial
A Califórnia (EUA) teve um surto de sarampo em 2015,
quando 99 pessoas contraíram a doença. Autoridades americanas disseram que isso
ocorreu porque muitas famílias não vacinam os filhos por acreditar que a
imunização faz mal ou por alguma crença religiosa, o que resultou em uma lei
rigorosa que obriga a população a vacinar suas crianças, sob pena de não
poderem frequentar escolas públicas. Em 1995, um pesquisador declarou que quem
tomava a vacina de sarampo tinha maior incidência de autismo. Uma jornalista
foi investigar e descobriu que os dados tinham sido falsificados.
Em 2010, uma retratação foi publicada. “Aí você tem
uma informação inadequada gerando pânico. As vacinas são seguras e estudadas.
Uma revisão de estudos sustenta a segurança das vacinas, revelando que as
reações adversas graves com 11 vacinas comuns geralmente dadas a crianças com
menos de seis anos são raras”, conta Chencinski. Já Lembo Neto é mais enfático:
“Não vacinar é quase uma ignorância e falta de informação. Vacina é um avanço
da medicina”.
7. Ler para cultivar laços
“Mãe, conta de novo.” Essa típica frase dita pelos
pequenos faz bem à saúde. Em junho de 2014, a Academia Americana de Pediatria
emitiu sua primeira declaração sobre a promoção da alfabetizaçãoinfantil,
incitando os pediatras a falar com os pais, durante as consultas, sobre a
importância da leitura em voz alta para seus filhos. “Os benefícios da leitura
em conjunto vão além da promoção da alfabetização. A leitura para crianças
ajuda a alimentá-los emocionalmente e fortalece laços familiares”, destaca
Chencinski.
8. Brincar ao ar livre
Um recente estudo publicado no Jornal de Estudos da
Religião informa que quem brinca ao ar livre fica mais sensível, realizado e
espiritualizado. Os pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan (EUA)
observaram os participantes para medir essa sensibilidade e descobriu-se que
quem passa mais tempo fora de casa possui mais conexão espiritual com o
planeta. As crianças que passaram de cinco a dez horas por semana brincando ao
ar livre demonstraram ter mais imaginação, criatividade e curiosidade, e ainda
uma estima maior pela natureza. Tais atividades previnem a obesidade infantil,
um problema que já afeta 7,3% das crianças com menos de 5 anos no Brasil. Entre
5 e 9 anos, o percentual chega a 33,5%; na adolescência, o quantitativo é de
20,5%.