Os africanos trouxeram consigo sua religião - o candomblé - e sua cultura, que inclui as comidas, a música, o modo de ver a vida e muitos dos seus mitos e lendas. Trouxeram ainda - é claro - as línguas e dialetos que falavam.
Os povos bantos, que habitavam o litoral da África, falavam diversas línguas (como o quicongo, o quimbundo e o umbundo). Muitos vocábulos que nós usamos frequentemente vieram desses idiomas. Quer exemplos? "Bagunça", "curinga", "moleque", "dengo", "gangorra", "cachimbo", "fubá", "macaco", "quitanda"...
Outras palavras do português falado no Brasil também têm raízes africanas. Muitas delas vêm de diferentes povos do continente, como os jejes e os nagôs (que falavam línguas como o fon e o ioruba). Palavras como "acarajé", "gogó", "jabá" e muitas outras passaram a fazer parte do nosso vocabulário, foram incorporados à nossa cultura. Em geral, trata-se de nomes ligados à religião, à família, a brincadeiras, à música e à vida cotidiana.
Quer um exemplo bem trivial? "Bunda". Essa palavra também é africana, pode ter certeza. Se não fosse por ela, teríamos que dizer "nádegas", que é efetivamente o termo português para essa parte do corpo humano. Da mesma maneira, em vez de "cochilar", teríamos que dizer "dormitar". Em vez de "caçula", usaríamos uma palavra bem mais complicada: "benjamim". Empolado, não é?
Dizem que a língua banta tem uma estrutura parecida com o português, devido ao uso de muitas vogais e sílabas nasais ou abertas. Deve ser verdade, observe os sons da palavra "moleque" e de "gangorra". Parece também que o jeito malemolente (isto é, devagar e cheio de ginga) de falar facilitou a integração entre o banto e o português.
A verdade é que hoje a gente usa tantas palavras africanas que nem repara em sua origem. Quer ver? O que seria do Brasil sem o "samba"? E tem mais: "cachaça", "dendê", "fuxico", "berimbau", "quitute", cuíca", "cangaço", "quiabo", "senzala", "corcunda", "batucada", "zabumba", "bafafá" e "axé". Para quem não sabe, "bafafá" significa confusão. E "axé" é uma saudação com votos de paz e felicidade.
Fonte: UOL – por Heidi Strecker, filósofa e educadora.