Alguns saberes antigos, rapidamente catalogados como mitos
pela ciência moderna, aos poucos vão sendo incorporados ao "saber
oficial".
Há poucos dias, pesquisadores que se dispuseram a estudar o
assunto com boa vontade reconheceram que nosso sono de fato segue os ciclos lunares.
Agora foi a vez de reconhecer uma conexão entre a saúde dos
recém-nascidos e a estação do ano em que eles vêm à luz.
Janet Currie e Hannes Schwandt, da Universidade de Princeton
(EUA), constataram que a saúde dos recém-nascidos acompanha um ciclo seguindo
as estações do ano.
O estudo se concentrou no aspecto estatístico, motivo pelo
qual ele não oferece explicações sobre como ou porque as estações afetam a
saúde das crianças, mas serviu para eliminar explicações fáceis, como a de que
bebês nascidos no inverno seriam menos saudáveis porque estariam mais sujeitos
a resfriados.
Segundo os dois pesquisadores, a associação que surge na
análise dos dados é uma "relação quase mística".
Gravidez e estações do ano
Já em 1930, estudos davam conta de que as crianças nascidas
no inverno eram mais propensas a problemas de saúde mais tarde na vida,
incluindo um crescimento mais lento, incidência de doenças mentais, e até mesmo
a morte precoce.
Entre as explicações propostas estavam doenças, temperaturas
extremas e níveis de poluição mais elevados associados com o inverno, quando as
mães grávidas e os bebês, sobretudo os prematuros, estariam mais vulneráveis.
Mas, olhando para dados demográficos mais gerais, o quadro
verificado agora ficou bem mais complicado.
As mães que não são brancas, são solteiras, ou não têm
educação universitária são mais propensas a ter filhos com problemas de saúde e
de desenvolvimento. Elas também são mais propensas a conceber no primeiro
semestre do ano.
Isso torna difícil separar os efeitos socioeconômicos dos
efeitos sazonais, ou seja, das estações do ano.
Currie e Schwandt, então, adotaram uma abordagem diferente
para enfrentar a questão: eles analisaram apenas irmãos. Como nascem da mesma
mãe, isso elimina o fator socioeconômico e permite a comparação dos nascimentos
entre as estações.
Mês das noivas, não dos bebês
No estudo, feito no hemisfério norte, Maio é a época menos
favorável para engravidar, concluíram os pesquisadores.
Os bebês concebidos em Maio (e, portanto, que nascem no meio
do inverno) têm uma chance 13% maior de nascerem prematuros, têm peso abaixo da
média e seu tempo de gestação é de quase uma semana abaixo da média.
Como o baixo peso ao nascer e a prematuridade tem sido
associado a diversos problemas de saúde - sistema imunológico mais fraco, visão
e audição piores e desenvolvimento cognitivo mais lento -, essa variação pode
ajudar a explicar as diferenças na vida adulta, afirmam os pesquisadores.
Como o estudo foi feito para o hemisfério norte, é de
presumir que os resultados devam ser invertidos para o Brasil, onde as estações
são opostas.
Mas esta é apenas uma suposição, e considera que os efeitos
registrados devem-se à temperatura, umidade e outras condições climáticas. Se o
efeito é realmente invertido, somente uma análise similar no hemisfério sul
poderá revelar.
Como Maio está no meio da primavera no hemisfério norte, se
a inversão for verdadeira, as conclusões valeriam para concepções no mês
Novembro no hemisfério sul, com os bebês nascendo no meio do inverno.
Com informações da Science
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