Quem tem crises de enxaqueca sabe: qualquer tipo de
dica é bem-vinda para tentar escapar das crises. E um novo estudo, publicado no
final de julho no periódico “Nutrients”, aponta que uma boa arma nessa luta
pode ser uma dieta com baixos níveis de carboidratos.
Desde a década de 1920, há evidências de que a dieta
cetogênica – com baixíssimos níveis de carboidratos – poderia ajudar a prevenir
enxaquecas. No entanto, ainda não estava claro se esse efeito estava ligado aos
carboidratos, em si, ou à perda de peso.
Para investigar, uma equipe de pesquisadores,
liderada pelo italiano Cherubino Di Lorenzo, da Fundação Don Carlo Gnocchi,
comparou os resultados da dieta cetogênica com outra dieta com poucas calorias,
mas rica em carboidratos.
Para o estudo, foram monitorados 35 adultos com
sobrepeso que sofriam com enxaquecas frequentes. Em ordem aleatória, cada um
deles passou quatro semanas seguindo uma das duas dietas. Os participantes
receberam refeições como smoothies e sopas que tinham a mesma quantidade de
gordura e calorias, mas diferentes proporções de proteínas e carboidratos,
dependendo da dieta.
Em geral, os participantes perderam a mesma
quantidade de peso ao longo do estudo. No entanto, a dieta cetogênica foi muito
mais eficaz na prevenção de enxaquecas. Quase 75% dos participantes que
seguiram a dieta ceto tiveram seus dias de enxaqueca reduzidos pela metade, no
mínimo. Enquanto isso, apenas 9% dos indivíduos experimentaram esse nível de
melhoria na dieta que era rica em carboidratos.
Primeiro passo
Caso essa eficácia seja comprovada no longo prazo e
com grupos de pacientes mais diversos, esse pode ser um avanço importante.
Atualmente, os melhores medicamentos para prevenção de enxaqueca disponíveis –
anticorpos monoclonais CGRP – reduzem os dias de enxaqueca em pelo menos metade
para até 48% dos usuários.
À revista “New Scientist”, Di Lorenzo explicou que a
dieta cetogênica pode funcionar porque o cérebro está usando cetonas (compostos
orgânicos nas quais a dieta é rica) como combustível ao invés da glicose. Em
estudos com animais, disse ele, corpos cetônicos reduziram a inflamação do
cérebro e pararam a propagação das ondas elétricas que, acredita-se, causam a
dor da enxaqueca.
A cientista Christina Sun-Edelstein, da Universidade
de Melbourne, disse à revista que mais pesquisas são necessárias antes que a
dieta cetogênica possa ser recomendada para a prevenção da enxaqueca. “Há
muitos tratamentos de enxaqueca que parecem funcionar bem inicialmente, mas que
acabam decepcionando”, afirmou. “Se for demonstrado que ela é efetiva e segura
em estudos maiores, eu acredito que [a dieta] é algo que muitas pessoas
estariam dispostas a tentar”.
A dieta cetogênica faz o corpo queimar gordura em
vez de carboidratos. Além de ajudar na perda de peso, estudos já mostraram que
ela parece aliviar condições neurológicas como epilepsia e esquizofrenia em
algumas pessoas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% ou
mais da população mundial entre 18 e 65 anos relatam ter enxaquecas. Por causa
de influências hormonais, elas afetam três vezes mais as mulheres do que os
homens.
Como alguém que tem enxaquecas mensais há anos, mas
não vive sem batata e macarrão, eu, pessoalmente, só posso me comprometer a
passar na farmácia e comprar mais analgésico. [New Scientist, Earth.com]
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