Médico explica o que está ao nosso alcance na
prevenção e no tratamento de um dos tumores mais temidos
Volta e meia vemos, na imprensa e na internet,
pessoas que descobriram ter câncer de pâncreas e pouco tempo depois vieram a
morrer. O ator americano Patrick Swayze, o criador da Apple Steve Jobs, o tenor
Luciano Pavarotti e o ator brasileiro Raul Cortez são alguns exemplos. Apesar
de não ter uma incidência alta — afeta em torno de 2% da população, segundo o
Instituto Nacional de Câncer (Inca) —, a doença é bastante letal. Chega a matar
95% dos acometidos em até cinco anos.
Um dos grandes desafios é que os sintomas do
problema podem ser confundidos com os de outras condições mais simples, o que
tende a retardar a detecção precoce. Não raro, quando se faz o diagnóstico, o
tumor já se encontra avançado e se espalha para outros locais do corpo.
O câncer de pâncreas costuma ser mais frequente em
homens acima dos 50 anos. De acordo com os índices de mortalidade por câncer no
Brasil, o tumor de pâncreas figura em quinto lugar em mulheres e em sétimo
entre os homens.
Entre os fatores de risco passíveis de intervenção,
estão o fumo e o consumo excessivo de bebida alcoólica. Sabemos que o tabagismo
é capaz de aumentar em três vezes a probabilidade de ter a doença. Quanto maior
o número de cigarros ou o tempo de exposição ao tabaco, maior o risco. Outros
fatores que podem elevar a propensão ao tumor são diabetes, pancreatite crônica
e história familiar da doença.
Esperar sinais do problema para, então, cuidar da
saúde não é algo recomendável nesse caso. O mais importante aqui é manter um
acompanhamento médico regular e informar ao profissional a presença dos fatores
de risco. Se necessário, serão solicitados exames que investigam a doença —
eles podem compreender testes laboratoriais, ultrassonografia, tomografia e
ressonância magnética.
Entre os sintomas mais comuns para o câncer de
pâncreas estão a icterícia (quando a pele e os olhos ficam com coloração
amarelada), dor abdominal, anemia e perda de peso e de apetite.
Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento vai
depender do grau da doença. Entre as opções estão cirurgia aberta ou
minimamente invasiva (laparoscopia e robótica), radioterapia e quimioterapia.
Hoje muita atenção se tem dado à terapia
neoadjuvante, método no qual se inicia a quimioterapia (associada ou não à
radioterapia) com o intuito de diminuir o tumor para depois retirá-lo com
cirurgia. Essa conduta vem obtendo bons resultados.
Outro recurso que parece transmissor é a cirurgia
robótica, que tem crescido no país para essa finalidade. Nesse procedimento, a
visão em 3D, a magnificação da imagem e as pinças cirúrgicas articuladas
permitem movimentos similares aos do punho humano, possibilitando a realização
de uma cirurgia mais precisa, com menor sangramento e menos dor ao paciente no
pós-cirúrgico. O retorno às atividades do dia a dia também é mais rápido.
Recentemente, um estudo apresentado no ASCO, o
congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, mostrou que um medicamento seria capaz de
reduzir significativamente a progressão do câncer de pâncreas avançado em
pacientes que apresentam mutações no gene BRCA.
Foram avaliados 3 315 pacientes, dos quais 247
tinham essa alteração genética. Esse gene é hereditário e aumenta a
possibilidade de se desenvolver cânceres como os de pâncreas, mama, ovário e
próstata — o mesmo gene BRCA ficou mais conhecido do público quando a atriz
Angelina Jolie fez uma dupla mastectomia preventiva por ter essa mutação para o
câncer de mama.
Do grupo que recebeu o medicamento, 47% tiveram
redução do risco de progressão da doença em comparação com o grupo de controle.
O tumor também ficou controlado por mais que o dobro do tempo em comparação com
os pacientes que receberam o placebo.
A mensagem que gostaria de deixar a você é: evite os
fatores de risco de origem comportamental, busque um estilo de vida saudável e
converse sempre com seu médico para que essa, ou qualquer outra doença, possa
ser diagnosticada precocemente e tratada com eficácia.
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/da-para-evitar-o-cancer-de-pancreas/
- Por Dr. Raphael Araujo, cirurgião oncológico - Ilustração: Erika
Onodera/SAÚDE é Vital