A epidemia da obesidade já deixou claro o que as
pessoas da nossa época gostam de comer. Mas nem sempre as escolhas foram assim
tão abundantes – apesar da cultura alimentar sempre ter sido diversificada.
Confira dez comidas estranhas que as pessoas já
experimentaram ao longo dos séculos:
10. Geleia de bexiga de peixe
Os vitorianos são famosos por várias de suas
contribuições ao mundo, como pianos de cauda, avanços no encanamento e dramas
literários sobre as pessoas sendo deserdadas da sociedade. Mas nem todas as
suas invenções são conhecidas, como é o caso da geleia de bexiga do peixe
esturjão.
O processo envolvia o isolamento de uma substância
chamada cola de peixe a partir da bexiga do animal. Era originalmente um
ingrediente para fabricar – você acertou – cola, mas ganhou popularidade na
Inglaterra como um produto alimentício no final do século 18. Até hoje, a
geleia ainda é usada para fazer algumas cervejas e vinhos, incluindo cerveja
Guinness. Para fazer geleias açucaradas, os vitorianos filtravam a cola de
peixe com água, açúcar, suco de limão e frutas. Dava muito trabalho, mas tem
gente que faz muito mais que isso para conseguir um docinho.
9. Muktuk
Para as pessoas que vivem no Ártico, o oceano é a
maior fonte de alimentos. Tradicionalmente, as pessoas comecem muito peixe,
incluindo baleias e focas. O muktuk é um prato que consiste de pele de baleia
ainda com sua camada de gordura.
A pele da baleia-da-groenlândia é considerada a mais
gostosa, ao lado do narval e da baleia-branca. O muktuk pode ser consumido de
muitas maneiras diferentes: salgado, doce, frito ou em conserva. O sabor da
gordura de baleia é descrito como sendo parecido com noz, com a pele sendo
borrachuda.
Muktuk contém uma grande quantidade de vitamina C,
que evita doenças como o escorbuto. Muitas culturas do Ártico têm suas próprias
tradições para consumir o prato, como os aborígenes da Groelândia, os
canadenses, os siberianos e os povos do Alasca. No entanto, nos últimos anos, a
comida não tem sido tão consumida por causa da mudança nos gostos das novas
gerações e das preocupações com toxinas no oceano.
8. Torta de vinagre
Ninguém sabe exatamente quem foi o primeiro a fazer
uma torta com sabor de vinagre, ou onde, mas essa receita remonta pelo menos a
meados de 1800. Talvez, o vinagre de maçã passou a ser usado como condimento
porque era mais barato do que fruta ou suco de limão. Nos EUA, a torta de
vinagre é apelidada de “torta de limão do pobre”.
Os americanos gostam muito e apresentam uma enorme
variedade de tortas doces e salgadas. Durante a Grande Depressão, as pessoas
misturavam bolachas e suco de limão para fazer um recheio com gosto de maçã.
Nos últimos anos, a torta de vinagre tem experimentado uma renovada
popularidade, com alguns restaurantes servindo versões gourmet com vinagres
balsâmicos.
7. Salada de gelatina
Em 1950, a mania de alimentos prontos tornou a
salada de gelatina popular nos EUA. Revistas publicavam receitas de saladas
“congeladas”, com ingredientes como camarão, couve-nabo, carnes e legumes.
Alimentos em pó e enlatados estavam fazendo
importantes avanços tecnológicos. Pela primeira vez, as pessoas tinham misturas
para alimentos que tinham sempre que ser feitos a partir do zero. A salada de
gelatina foi vista como uma maneira nova e empolgante de comer vegetais e
legumes. Por outro lado, estava claro que um produto como esse tinha seus dias
contados. A empresa Jell-O chegou a lançar gelatinas com misturas de tomate e
pepino, que obviamente não duraram muito tempo no mercado.
6. Arganaz recheado
O arganaz é um roedor que parece um pequeno hamster
sonolento. Na Roma antiga, esses animais eram torrados e consumidos como uma
iguaria. Os romanos os criavam em um pote de terracota especial chamado
glirarium. Em estado selvagem, arganazes hibernavam durante todo o inverno. No
glirarium, que era mantido escuro, eles hibernavam durante todo o ano, que é
como eles eram engordados.
Quando já estavam bem rechonchudos, eram recheados
com nozes e assados com mel e especiarias. Normalmente, eram servidos como
aperitivo. O consumo desse prato mais tarde foi proibido. Hoje, arganazes
selvagens ainda são caçados para virarem comida em algumas partes da Eslovênia
e da Croácia.
5. Garça assada
Um dos primeiros livros de culinária publicados em
inglês foi escrito por volta de 1390 e chamado de “The Forme of Cury”. Tem
muita variedade em suas 196 receitas, de coisas familiares como bolo branco e
frango a focas, golfinhos, baleias, grous e até garças.
Ninguém sabe ao certo quem escreveu esse livro, mas,
dada a grande variedade de espécies raras e ingredientes caros, pensa-se que
foi um séquito real de cozinheiros. Eles trabalhavam com qualquer peixe ou ave
que lhes era trazido, tentando fazer a melhor comida possível para a mesa do
rei. O livro é notável por ser o primeiro de receitas em inglês a incorporar
técnicas de outras culturas, essencialmente inventando a “fusão culinária”. Uma
garça adulta pesa apenas cerca de 2 kg, de forma que seriam necessárias muitas
para fazer um banquete real. O livro aconselha a assar a garça inteira, envolta
em bacon e gengibre.
4. Ovo de iguana preta
O exterior áspero com aparência de couro do ovo de
iguana preta o faz parecer intragável para a maioria das pessoas, mas, na
cultura maia, iguanas eram criadas exatamente por causa dessa iguaria.
Os primeiros europeus a fazerem contato com os maias
descreveram seus hábitos alimentares como sendo do estilo “Quaresma”, já que
comiam tão pouca carne. Eles cultivavam plantas, abelhas e insetos, mas não
grandes mamíferos para fontes de proteína. Eles levaram para seu continente a
iguana preta, que gastava menos tempo na água do que a iguana verde e podia ser
mantida um vivo por um longo tempo sem comida ou água. Hoje, a caça e criação
de iguanas são ilegais em muitas partes da América Central e do Sul, de modo
que o sabor do ovo de iguana preta provavelmente ficará no passado.
3. Sanduíche de torrada
Apesar de não causar ânsia como a maioria dos outros
itens dessa lista, o sanduíche de torrada merece uma menção por pura
esquisitice.
Como todos sabem, o vício em jogos de azar do Conde
de Sandwich e a consequente necessidade de um alimento que exigisse apenas uma
mão para comer inspirou a criação do sanduíche original. Mais tarde, em 1861, o
livro Miss Beeton’s Book of Household Management foi publicado, com uma receita
de “sanduíche de torrada”.
Como o nome sugere, ele é feito de uma fatia de
torrada com manteiga com sal e pimenta colocada entre duas fatias de pão que
não estão torradas. Variações incluem a adição de ovos, feijão, sardinha e/ou
cenouras.
O livro de receitas antigo continua sendo um dos
mais populares já vendidos e ainda é comercializado hoje, sanduíche de torrada
incluído.
2. Âmbar cinza
Na China antiga, o povo acreditava que pedaços de
âmbar encontrados na costa eram saliva de dragão. O âmbar cinza na verdade vem
de baleias (mais precisamente, da outra extremidade de baleias). Esta mistura
de gordura e suco biliar se forma quando baleias tentam digerir substâncias
rígidas (tais como bicos de lula). Os animais não consegue processá-las e
acabam as liberando, mais ou menos como um cálculo biliar. Conforme flutua na
superfície do oceano, o âmbar torna-se duro e ceroso.
O poderoso e almiscarado aroma do âmbar cinza
tornou-se um ingrediente-chave em muitos perfumes, incluindo o famoso Chanel
No. 5. Quem já provou essa iguaria jura que seu sabor é inesquecível.
No passado, o âmbar cinza era comido em muitas
tradições diferentes. Na antiga Pérsia, era servido com sorvete de limão. Os
franceses o colocavam no chocolate quente. Com o declínio das populações de
baleias cachalote, a iguaria se tornou rara e é ilegal nos Estados Unidos.
1. So
Este prato é uma raridade da culinária japonesa. É o
único laticínio conhecido da história da cozinha do país. Produzido entre os
séculos VIII e XIV no Japão, principalmente para as pessoas das classes nobres,
o so era feito fervendo o leite até que se tornasse uma substância pastosa
semissólida.
A iguaria era um símbolo de status e não de
nutrição. Originalmente idealizada como forma de preservar o leite para que
durasse mais nos dias pré-geladeira e pasteurização, relatos mostram como a
comida era produzida, mas não como era seu sabor. Provavelmente lembrava
iogurte, mas era extremamente concentrada, fina e azeda.
Como o gado, historicamente, só era criado no Japão
para arar ou puxar carroças, nunca para produção de carne e leite, o prato
desapareceu com a extinção da aristocracia. [Listverse]