Especialista discute por que homens acima de 60 anos
são hoje o principal grupo de risco para complicações graves da Covid-19
A pandemia do novo coronavírus vem gerando grande
impacto na qualidade e na expectativa de vida da população, sobretudo entre
homens a partir dos 60 anos. Existem indícios de que eles correm maior risco de
enfrentar sintomas graves e morte em relação às mulheres.
No Brasil, o Ministério da Saúde divulgou dados
sobre óbitos pela Covid-19 no final de março e mostrou que 68% das vítimas eram
do sexo masculino e 32% do feminino. Na Itália, relatório retrospectivo sobre
as pessoas afetadas pela doença demonstrou que os pacientes na UTI eram, em sua
maioria, homens (82%) com idade mediana de 63 anos. Boa parte também tinha
problemas cardiovasculares ou respiratórios prévios.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp), em Botucatu, e financiada pela Fapesp, descobriu que, em
homens com mais de 60 anos, a expressão de um gene chamado TRIB3 está diminuída
em certas células do pulmão, alvos preferenciais do vírus Sars-CoV-2.
Os cientistas notaram que a expressão desse gene
reduz progressivamente com o envelhecimento. Homens sexagenários em diante são
os mais propensos a desenvolver pneumonia e insuficiência respiratória quando
infectados pelo novo coronavírus, possivelmente devido à diminuição na
expressão de genes que regulam a função de um fluido que naturalmente protege
os pulmões.
O estudo sugere, assim, que medicamentos capazes de
estimular a expressão do gene TRIB3 devem ser avaliados como uma possível
terapia contra a doença.
Iniciativas de alto nível como essa precisam ser
consideradas prioritárias, pois falamos de um problema potencialmente grave e
bastante impactante no sistema de saúde. Esse é o momento de se buscar
investimento público e privado e colaboração de todos os atores envolvidos em
busca de uma solução rápida e efetiva.
Sabemos que adoecer é um sinal de fragilidade e que
muitos homens ainda se julgam seres invulneráveis, o que contribui para que
eles se cuidem menos e se coloquem mais em situações de risco.
Embora estejamos atravessando a pandemia, é
importante ressaltar, ainda, que não podemos nos esquecer de outros problemas
de saúde e, no âmbito da urologia, destaco as doenças da próstata —
especialmente o câncer, o mais comum na população masculina brasileira. Eis uma
questão delicada a ser encarada neste momento.
Se o paciente não necessita de cuidados
emergenciais, a cirurgia não está indicada agora, pois o indivíduo pode estar
em período de incubação do vírus no momento da abordagem cirúrgica, o que
aumenta o risco de desfechos negativos. Pesquisadores chineses demonstraram,
após analisar 2 007 pacientes hospitalizados por Covid-19, que aqueles com
histórico de câncer apresentavam maior incidência de eventos graves, como morte
ou admissão na UTI.
Em outro estudo, os cientistas revisaram dados de 1
524 pacientes com câncer em Wuhan (China) e, comparando com a população em
geral, constataram que as pessoas com a doença tinham um risco duas vezes maior
de sofrer com a Covid-19. Dessa forma, a presença do câncer e a internação
hospitalar contribuíram para o maior risco de ter a infecção e piores
resultados.
A ciência e a prudência recomendam que os homens
acima de 60 anos, a principal faixa de risco para o câncer de próstata, não
negligenciem a saúde e o perigo do coronavírus.
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/homens-afetados-pelo-coronavirus/
- Por Dr. Fernando Nestor Facio Junior, urologista - Foto: Omar Paixão/SAÚDE é
Vital
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