Além das complicações causadas durante a infecção, o novo coronavírus pode gerar danos permanentes ao organismo; confira
Desde o início da pandemia do novo coronavírus a
quantidade de possíveis sintomas causados pela doença aumentou
consideravelmente. Com o passar do tempo e o alto investimento em estudos,
novos dados sobre o patogênico começaram a surgir.
Entretanto, não é apenas durante o período de
contaminação que a COVID-19 pode manifestar reações no organismo. Cientistas e
especialistas da área médica do mundo todo seguem investigando um fenômeno
preocupante: possíveis efeitos do coronavírus em pacientes curados.
Entenda o que vem sendo pesquisado sobre o tema:
Sequelas da COVID-19
1. Complicações cardíacas
Um estudo feito em junho de 2020 por pesquisadores
alemães analisou 100 pacientes com idade média de 49 anos, recém-recuperados da
COVID-19. Os resultados dos exames de ressonância magnética do coração
revelaram anormalidades no órgão de 78 pacientes. Além disso, do total de
participantes, 60% apresentaram miocardite, uma inflamação do músculo do
coração que não estava relacionada a qualquer condição preexistente.
Essa sequela segue sendo observada quase um ano
depois da descoberta. Segundo Daniela Abdel Rahman, médica infectologista do
Hospital Albert Sabin, houve um grande aumento no número de pacientes jovens,
sem nenhuma doença cardíaca prévia, que desenvolveram miocardiopatia pelo vírus
e ficaram sequelados.
O fato dessa condição surgir em pacientes
previamente saudáveis se tornou motivo de alerta para os profissionais de
saúde. Ainda segundo a médica, não há um perfil de paciente específico que
possa ser afetado pelas consequências da SARS-CoV-2.
"O vírus pode acometer sim o músculo cardíaco,
causando sequelas em qualquer pessoa, inclusive jovens. Claro que, para
pacientes idosos, não é que o risco é maior, mas é que caso haja uma
complicação cardíaca, essa complicação pode ser maior. Mas o risco de
desenvolver não", conta.
2. Redução da capacidade pulmonar
Por se alocar diretamente no pulmão, as complicações
que o coronavírus pode causar ao órgão também são alvo de pesquisas científicas
desde o início da pandemia. Em março de 2020, autoridades do Hospital Princess
Margaret, em Hong Kong, relataram que pacientes internados com a doença
apresentaram redução de 20% a 30% da função pulmonar.
Esse dano continua sendo observado até hoje. Gustavo
Sales, médico intensivista e cardiologista do Hospital Albert Sabin, conta que
grande parte dos pacientes que apresentam sequelas graves no pulmão são
tabagistas.
"Há muitos pacientes com sequelas pulmonares
pós-COVID. O paciente fica com o que chamamos de bolhas no pulmão e, na maioria
das vezes, são fumantes de longa data. São pacientes novos com essa lesão pela
COVID que, em curto prazo, pode não acarretar em nada, mas no futuro irá gerar
um comprometimento pulmonar que pode causar a perda de suas funções pela idade
e desgaste", explica.
Além disso, a infectologista Daniela Rahman conta
que pessoas que possuem DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) por tabagismo
podem ter uma evolução pior do quadro de saúde, assim como pacientes com outras
doenças pulmonares estruturais.
3. Função cognitiva
Entre os danos provocados na função cognitiva estão
a perda de concentração, memória e desorientação. Segundo o cardiologista
Gustavo Sales, esses fatores ocorrem por alterações no sistema nervoso central.
"O paciente que teve a infecção pela COVID evolui o quadro com perda de
memória, chamado leigamente de apagão, com lapsos em que ele desliga e liga
novamente".
Daniela Rahman explica que essas sequelas nas
funções cognitivas podem ocorrer mesmo em pacientes sem nenhum problema de
saúde prévio, que acabam apresentando algum déficit de memória logo após a
COVID. Entretanto, esse quadro tem apresentado, na grande maioria das vezes,
recuperação posterior.
4. AVC e trombose
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais
alertou sobre os riscos de trombose envolvendo pacientes infectados pelo
coronavírus. Isso acontece quando o patogênico provoca anormalidades na
coagulação sanguínea. Entretanto, o mecanismo que causa a formação desses
coágulos ainda não é conhecido.
Segundo Gustavo Sales, o que já é de conhecimento
médico é que um fator de risco pode causar fenômenos trombóticos: a obesidade.
Quando o vírus gera a formação de coágulos que entopem os vasos, tanto
arteriais quanto venosos, as complicações decorrentes disso são: AVC, infarto,
tromboembolismo pulmonar e trombose inferior.
5. Ansiedade
Uma pesquisa em andamento desde de setembro do ano
passado feita pela Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com
hospitais, como o Hospital das Clínicas (HC), vem observando o aumento de
complicações envolvendo a saúde mental em pacientes curados da COVID-19.
Segundo os pesquisadores, o distúrbio de ansiedade
pode ser consequência do período de internação e isolamento durante a infecção.
Outro fator relatado pelos participantes do estudo é o medo de se contaminar
novamente, assim como o receio de transmitir a doença para outras pessoas.
6. Perda de cabelo
O número de relatos sobre a queda de cabelo aumentou
consideravelmente durante a pandemia. Além dos fatores psicológicos que podem
justificar esse quadro, como o estresse e a ansiedade gerados pela quarentena,
a perda dos fios também pode ser consequência das alterações do organismo após
a infecção pelo vírus.
"O corpo responde à infecção por SARS-CoV-2
criando um estado pró-inflamatório que leva a danos nos tecidos e outras
sequelas por conta da liberação das citocinas pró-inflamatórias. Esse quadro
pode retroalimentar a inflamação, o que significa manter a inflamação por um
período maior", explica a dermatologista Joana D'arc Diniz.
7. Parosmia
A alteração no olfato, também chamada de parosmia, é
um dos sintomas mais conhecidos da COVID-19. Entretanto, esse problema pode
durar até mesmo após a recuperação da doença. Profissionais de saúde acreditam
que o vírus afeta o nervo olfatório, causando uma irritação temporária ou até
permanente. Assim, ocorre uma desconexão entre os receptores dos cheiros e o
cérebro.
Enquanto alguns pacientes sentem dificuldade ao
sentir cheiros, outros acabam sofrendo alterações na percepção de odores. Há
relatos de pessoas que passaram a sentir o aroma de acetona em alimentos e
bebidas, por exemplo. Entretanto, o número de dados sobre a complicação ainda é
pequeno, fazendo com que as causas e o tempo de cura para o problema ainda
sejam desconhecidos.
8. Inflamação no fígado
Apesar de existirem poucas evidências sobre o
tópico, alguns profissionais de saúde apontaram que o surgimento de lesões no
fígado, como a inflamação do órgão, também pode ser consequência da COVID-19.
"Temos observado elevações muito transitórias
das enzimas hepáticas que, normalmente, têm voltado ao normal. Portanto,
sequelas hepáticas não são tão comuns", explica a infectologista Daniela
Rahman.
9. Diabetes
Um estudo publicado na revista científica Diabetes,
Obesity and Metabolism em novembro de 2020, revelou que a infecção pelo
coronavírus pode causar uma alteração drástica na taxa de glicemia.
De 3.711 pacientes analisados, 14,4% foram
diagnosticados com diabetes após se curarem da COVID-19. Apesar da
possibilidade de alguns dos participantes já terem a doença antes se
contaminarem com o vírus, os cientistas acreditam que o patogênico possui a
capacidade de provocar alterações nas células sanguíneas, fazendo com que pessoas
de diferentes perfis possam desenvolver diabetes.
10. Epididimite
Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da USP
(FMUSP) analisou a inflamação no epidídimo, canal localizado nos testículos,
como uma possível consequência da infecção por coronavírus.
Os participantes da pesquisa tinham entre 18 e 55
anos, todos hospitalizados com COVID-19. Os dados relataram que, de 26
pacientes com casos leves e moderados da doença, 42.3% apresentaram quadros de
epididimite.
Os pesquisadores acreditam que essa condição ocorreu
por um mecanismo utilizado pela SARS-CoV-2 para invadir as células dos
testículos. Entre as consequências dessa inflamação, estão alterações no sêmen
e nos parâmetros seminais, o que pode causar dores intensas na região e inchaço
do saco escrotal. Porém, até o momento, ainda não há outras pesquisas sobre o
tema.
Fonte: https://www.minhavida.com.br/saude/materias/37533-10-possiveis-sequelas-da-covid-19?utm_source=news_mv&utm_medium=MS&utm_campaign=9071816
- Escrito por Paula Santos