Analgésico, anti-inflamatório, relaxante muscular,
antitérmico e antiácido são os medicamentos isentos de prescrição mais
utilizados
Na maioria das vezes, quando sentem uma dor de
cabeça, cólica, estão com febre ou dor muscular, por exemplo, as pessoas vão a
uma farmácia em busca dos chamados MIPs (Medicamentos Isentos de Prescrição).
Eles são aprovados pelas autoridades sanitárias e têm o objetivo de tratar
sintomas menores. A venda é possível sem prescrição ou receita médica.
Porém, isso não significa que eles possam ser
utilizados sempre e de qualquer maneira. São medicamentos, e baseando-se nas
características peculiares, os MIPs também podem causar problemas de saúde,
seja pelo uso excessivo ou inadequado. O cuidado deve ser ainda maior no caso
de crianças, idosos, gestantes e pessoas com alguma doença.
Priscila Vautier, farmacêutica, Mestre em Farmácia,
docente em curso de Farmácia e Diretora no Sindicato dos Farmacêuticos no
Estado de São Paulo, comenta que os medicamento isentos de prescrição mais
utilizados pelas pessoas são os analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes
musculares, antitérmicos e antiácidos.
Vale destacar que os MIPs, ainda que sejam
considerados de baixo risco, podem causar, em alguns casos, reações adversas,
intoxicações e interações medicamentosas. Por exemplo, se não houver uma
orientação correta, a pessoa pode cometer a subdosagem (o que não aliviará os
sintomas desejados), ou ainda, pode haver a superdosagem, levando a uma
intoxicação. Também há o risco de se usar dois medicamentos com o mesmo
princípio ativo, o que também pode levar à intoxicação; além da possibilidade
do paciente já consumir um medicamento de uso crônico que, por sua vez,
interage com o fármaco presente nos MIPs.
15 classes de medicamentos que não se deve tomar
indiscriminadamente
Nos tópicos abaixo você confere quais são os
principais riscos de se utilizar determinados grupos de remédios, que parecem
inofensivos, mas que, quando utilizados de forma exagerada ou inadequada, podem
se tornar perigosos.
1. Hormônios e anticoncepcionais
Priscila destaca que o uso indevido pode levar ao
descontrole hormonal do organismo. “E o uso contínuo pode aumentar o risco de
aumento de pressão arterial, trombose profunda
(principalmente quando associada ao cigarro) e enxaqueca”, diz.
Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP (Conselho
Regional de Farmácia), ressalta que vários estudos epidemiológicos demonstram
associação clara entre o uso de contraceptivos orais combinados e o aumento de
risco para trombose venosa e arterial.
2. Absorventes e antifiséticos intestinais
(simeticona)
Amouni comenta que um exemplo dessa classe de
medicamentos é a simeticona. “É um silicone antifisético com ação
antiflatulenta, que alivia o mal-estar gástrico causado pelo excesso de gases.”
A assessora técnica explica que a simeticona não é
absorvida pelo organismo, e atua somente dentro do aparelho digestivo, sendo
totalmente eliminada nas fezes. “Embora reações indesejáveis sejam pouco
prováveis, são relatados: eczema de contato (reação inflamatória que ocorre
devido ao contato da pele com um agente irritativo ou que cause alergia); e, em
casos raros, reações imediatas como urticária (lesões vermelhas na pele que
coçam muito)”.
Luftal também é um conhecido antifisético intestinal
e utilizado muitas vezes por pacientes com excesso de gases. Vale destacar que
ele alivia os sintomas, mas não “resolve o problema”. Não costuma causar
efeitos colaterais, mas podem ocorrer em casos raros: inflamação na pele ou
alergia da pele.
Priscila destaca que o uso inadequado desse tipo de
medicamento pode, em alguns casos, levar à constipação temporária.
3. Analgésicos e antitérmicos (AAS, Dipirona,
Paracetamol)
Priscila explica que Paracetamol é um
anti-inflamatório não esteroidal: “o uso crônico pode levar a uma
hepatotoxicidade (dano no fígado causado por substâncias químicas chamadas
hepatotoxinas)”.
Amouni destaca que, embora Paracetamol possa ser
utilizado durante a gravidez, o médico deverá ser consultado antes disso. “Além
disso, ele não deve ser administrado por mais de 10 dias para dor ou para febre
por mais de 3 dias”, diz.
AAS, conforme explica Priscila, pode ocasionar
sangramento gástrico e é contraindicado em caso de dengue.
“Dipirona, quando utilizado inadequadamente, pode
causar hipotermia, reações na pele, inflamação de tecido renal”, destaca
Priscila.
“Quando tais medicamentos são ingeridos junto com
álcool, podem ocorrer úlceras, distúrbios gastrointestinais e hemorragias”,
acrescenta a farmacêutica Priscila.
4. Antiácidos
Amouni comenta que a maioria dos antiácidos contém
um ou mais dos quatro componentes principais: sais de alumínio, sais de
magnésio, carbonato de cálcio e bicarbonato de sódio.
“Eles podem ter interações com muitos fármacos de
prescrição médica, por isso, é muito importante consultar um farmacêutico sobre
as interações entre os medicamentos antes de tomá-los. Além disso,
especialmente as pessoas com afecções cardíacas, hipertensão ou problemas
renais devem consultar o médico antes de tomar um antiácido”, acrescenta a
assessora técnica.
Priscila destaca como principais riscos/problemas do
uso exagerado ou do uso indevido desse tipo de medicamento: deficiência na
absorção de alimentos e medicamentos; constipação e diarreias.
5. Antialérgicos e anti-histamínicos (dexclorofeniramina,
loratadina)
Amouni comenta que Dexclorofeniramina, Hidroxizina,
Prometazina e Ciproeptadina são os antialérgicos mais antigos e conhecidos,
pois foram os primeiros a serem usados no tratamento das doenças alérgicas. “O
efeito colateral mais comum e incômodo é a sedação. Podem ainda ocorrer
sonolência (ou agitação), diminuição da concentração, alterações de memória e
da coordenação psicomotora, além de boca seca, visão turva, retenção da urina,
aumento de apetite e ganho de peso. Até pela possibilidade desses efeitos
colaterais, esse tipo de medicamento deve ser evitado em motoristas, pilotos ou
em trabalhadores em risco de acidente”, diz.
Loratadina, Desloratadina, Cetirizina,
Levocetirizina, Ebastina e Fexofenadina são os antialérgicos chamados de
“segunda geração”, considerados mais modernos. “Proporcionam alívio dos
sintomas causando pouca sedação e mínimos efeitos na atividade psicomotora. Em
alguns casos, pode ocorrer dor de cabeça (cefaleia), sendo este o efeito
colateral mais significativo”, diz Amouni.
A farmacêutica Priscila destaca como principais
problemas do uso exagerado ou inadequado dos antialérgicos: sonolência,
engrossamento ou adensamento do muco.
6. Antieméticos
Metoclopramida é um exemplo de antiemético, que age
nas funções digestivas comuns como náuseas e vômitos.
Priscila diz que, em grupos de risco (idosos,
crianças, diabéticos), esse tipo de medicamento tem vários efeitos adversos.
“Abuso pode causar ansiedade e agitação e, às vezes, sonolência”, acrescenta.
De acordo com informações da bula do medicamento, as
reações adversas mais frequentes são: inquietação, sonolência, fadiga e
lassidão/exaustão (ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes). Com menor
frequência: insônia, dor de cabeça, tontura, náuseas, galactorreia,
ginecomastia, erupções cutâneas, incluindo urticária ou distúrbios intestinais.
Ainda segundo a bula do medicamento, reações como
inquietude, movimentos involuntários, fala enrolada etc. podem ser mais
frequentes em crianças e adultos jovens; enquanto que movimentos anormais ou
perturbados são comuns em idosos sob tratamentos prolongados.
7. Antiespasmódicos (Buscopan)
Buscopan (brometo de N-butilescopolamina) é um
exemplo desse tipo de medicamento. É indicado para tratamento dos sintomas de
cólicas gastrintestinais, cólicas e movimentos involuntários anormais das vias
biliares e cólicas dos órgãos sexuais e urinários.
“O abuso pode levar à secura da boca e sonolência,
visão turva e taquicardia”, diz Priscila.
“Quando associado a analgésicos (Dipirona, por
exemplo) é necessário ter ainda mais cuidados. Doses altas de escopolamina
podem causar delírio, confusão mental, paralisia, estupor e até mesmo morte”,
acrescenta a farmacêutica.
8. Antifúngicos e antimicóticos
Os antimicóticos ou antifúngicos são basicamente
farmacêuticos utilizados para tratar e/ou prevenir micoses, como “pé de
atleta”, dermatofitoses (micoses superficiais que ocorrem em pelos, unhas e
pele), candidíase, infecções sistêmicas como meningite etc.
Muitos desses medicamentos são vendidos somente com
prescrição médica, mas alguns estão disponíveis como medicamentos de venda
livre.
O uso inadequado deste tipo de medicamento, de
acordo Priscila, pode causar: resistência ao tratamento, vermelhidão e sensação
de queimadura.
9. Anti-inflamatórios e antirreumáticos
(diclofenaco, nimesulida)
Diclofenacos, Nimesulida, Piroxicam, Tenoxicam são
exemplos de medicamentos da classe.
Priscila explica que, com o uso
exagerado/inadequado, o paciente pode ter: dor de estômago, azia, náuseas,
vômitos, desenvolvimento de úlceras que causarão sangramento ou perfuração
(estômago e duodeno), problemas hepáticos (cirrose medicamentosa), nefrite
(comprometimento dos rins), anemia e problemas cardíacos.
10. Antiulcerosos
Omeprazol é um exemplo conhecido dessa classe de
medicamentos. É indicado para tratar esofagite de refluxo, gastrite, úlcera
gástrica e úlcera duodenal, além de funcionar como um “protetor gástrico” para
quem vai usar medicamentos que “machucam” o estômago.
Embora Omeprazol seja um medicamento que exija
prescrição médica, muitas pessoas acabam conseguindo comprá-lo sem receita
médica. Mas, vale reforçar: o uso exagerado e inadequado pode causar problemas
à saúde.
“O abuso pode mascarar outras doenças como câncer de
estômago, problemas de fígado e vesícula. Pode inibir a absorção de algumas
vitaminas e minerais, podendo causar efeitos como câimbras e problemas
cardíacos”, explica a farmacêutica Priscila.
11. Expectorantes (xaropes)
Esse é um tipo de medicamento bastante utilizado
quando a pessoa tem muita tosse com catarro.
O expectorante tem como ação, resumidamente,
aumentar a quantidade de catarro e reduzir a viscosidade das secreções,
promovendo consequente remoção das vias aéreas.
Amouni diz que um exemplo de expectorante é o
cloridrato de bromexina, que, geralmente, é bem tolerado. “Podem se observar,
porém, diarreia, náusea, vômito e outras manifestações gastrintestinais leves.
Já foram relatadas também reações alérgicas, incluindo erupções cutâneas,
urticária, broncoespasmo, angioedema e anafilaxia”, diz.
Priscila destaca como principais problemas do uso
inadequado de expectorantes os distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômito).
12. Relaxantes musculares (carisoprodol)
Exemplo de relaxante muscular, de acordo com Amouni,
é o Carisoprodol. “O relaxante muscular produz relaxamento muscular e também
sedação como reações mais comuns (ocorrem em pelo menos 10% dos pacientes). Pode
ocorrer ainda queda de pressão, sonolência e tontura”, diz.
Priscila ressalta que o abuso de relaxantes, como
Carisoprodol, “pode levar à dependência e tolerância, desenvolvendo confusão
mental, ansiedade, falta de coordenação e equilíbrio”.
Vale destacar ainda que, se utilizado
simultaneamente com álcool ou outro depressor do sistema nervoso central, pode
causar problemas mais graves, como depressão.
13. Soluções oftálmicas
Os colírios são as chamadas soluções oftálmicas e,
se usados de forma inadequada, sem orientação médica, podem causar problemas
sérios.
“O abuso pode ser caracterizado quando se muda a
posologia indicada ou utiliza-se de colírios sem prescrição médica”, esclarece
Priscila. “Nestes casos, danos à saúde ocular podem ocorrer, como: alteração da
secreção lacrimal, lesão ocular, infecção ocular, glaucoma. Além disso, o uso
pode causar confusão mental, crises hipertensivas”, explica a farmacêutica.
14. Repositores eletrolíticos
Os repositores eletrolíticos são geralmente
utilizados por atletas, para ajudar na hidratação e na reposição dos sais
(sódio, potássio, magnésio) perdidos por meio do suor em atividades de longa
duração.
Costumam vir na forma de pastilhas efervescentes,
que devem ser diluídas em água, sempre de acordo com as orientações do produto.
Priscila explica, porém, que, no preparo incorreto,
com menos água do que o recomendado, podem ocorrer, como consequências mais
graves de overdose: hipernatremia (excesso de sódio no sangue) e/ou
hipercalemia (grande quantidade de potássio no sangue).
15. Descongestionantes nasais
Priscila explica que, com o uso frequente e
prolongado de descongestionantes nasais, pode ocorrer congestão nasal rebote
(rinite medicamentosa), que aumentada (ou rebote) leva o paciente a usar mais e
mais o descongestionante. “Por isso, eles não devem ser usados por mais de 5
dias seguidos e nem em menores de 5 anos”, diz.
“Alguns podem ainda aumentar a pressão sanguínea e
aumentar a glicemia em diabéticos”, acrescenta a farmacêutica.
Esses são apenas exemplos de tipos de medicamentos
que, muitas vezes, são utilizados de forma inadequada. Vale destacar que
algumas pessoas chegam até mesmo a se automedicarem com remédios que exigem
prescrição médica (que não são MIPs), quando, por exemplo, utilizam um
medicamento de outra pessoa da casa, de um amigo etc.
Por isso, de forma geral, é sempre bom lembrar que a
automedicação é muito perigosa. Para Priscila, “é de extrema importância que as
pessoas se conscientizem de que todos os medicamentos, isentos ou não de
prescrição, podem oferecer risco à saúde”.
De acordo com Amouni, a única forma de o consumidor
fazer uma administração segura do medicamento é a partir de uma efetiva
orientação. “A farmácia deve atender ao previsto na lei e manter farmacêutico
presente no local durante todo período de funcionamento, garantido assim o
direito do consumidor ser atendido e orientado por um profissional habilitado.”
“Vale a pena salientar que qualquer que seja o
medicamento o uso inadequado poderá acarretar riscos à saúde do paciente,
portanto todo medicamento deverá ser utilizado mediante prescrição e
principalmente com orientação precisa”, finaliza Amouni.
Lembre-se: com saúde (e medicamentos!) não se
brinca. Utilize remédios somente quando houver orientação médica.