Investir em medidas simples e - por que não? -
gostosas pode ser o suficiente para barrar a hipertensão e controlar seus
estragos
A cada dois minutos, uma pessoa morre em decorrência
de males cardiovasculares no Brasil. Por trás do número indiscutivelmente
alarmante, muitas vezes se esconde a hipertensão, um problema pra lá de
traiçoeiro, porque é capaz de permanecer anos sem dar sinais.
Ainda bem que, detectada precocemente, a situação
não exige medidas drásticas. Muito pelo contrário: elas podem até ser
saborosas, como pesquisas recentes têm comprovado ao relacionar certos
alimentos a um menor aperto nos vasos sanguíneos. Destacamos oito companheiros
nessa empreitada. Eles vão garantir que ela seja bem menos árdua!
1. Suco de beterraba
Em estudos anteriores, cientistas da Universidade
Queen Mary, no Reino Unido, mostraram que essa receita conseguiu derrubar a
pressão em indivíduos que não penavam com o problema. Agora, notaram que o
benefício é até mais expressivo em quem já tem hipertensão. Dos 15 pacientes
que participaram da nova análise, aqueles que tomaram 250 mililitros de suco de
beterraba viram a pressão sistólica despencar cerca de 10 mmHg. Isso significa
que, se uma pessoa tem pressão de 140 por 90 mmHg, ao tomar o refresco a medida
cairia para 130 por 90 mmHg.
Dica: na investigação, o refresco foi feito com duas
beterrabas. Se preferir, você pode usar o vegetal em sanduíches e saladas. “É
melhor optar pelo alimento cru porque o cozimento causa perdas nutricionais”,
aconselha a nutricionista Regina Pereira, da Sociedade de Cardiologia do Estado
de São Paulo (Socesp). Só não vale abusar. “Há evidências de que o excesso de
nitrato é tóxico”, salienta.
2. Clara de ovo
Ao contrário da gema, essa parte do alimento não tem
colesterol. Só que essa não é sua única vantagem, como apontam pesquisadores da
Universidade Jilin, na China. Eles descobriram que a clara tem boas doses de um
peptídeo capaz de inibir uma enzima cuja tarefa é formar a angiotensina,
substância que contribui para o estreitamento dos vasos e a elevação da
pressão.
A ação seria similar à do captopril, medicamento
usado com a mesma finalidade. Infelizmente, a análise não se dedicou a avaliar
a melhor forma de consumo de ovos ou cápsulas com o peptídeo. De qualquer
maneira, a revelação empolga. “Quanto mais natural for o tratamento, melhor”,
opina Heno Lopes, cardiologista do Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas de São Paulo (Incor).
Dica: Dá para fazer ovo mexido só com a clara ou
usá-la em uma omelete com legumes. Mas atenção: apesar de não haver restrição
de consumo, ela tem muita proteína. O exagero diário pode, portanto,
sobrecarregar os rins.
3. Chocolate
Uma revisão de 20 trabalhos científicos, com mais de
800 participantes, concluiu que o doce contendo de 50 a 85% de cacau faz a
pressão cair cerca de 3 mmHg. Basta se deliciar com um quadrado ou, no máximo,
uma barrinha. “Os flavonoides do cacau propiciam a formação de óxido nítrico,
que, por sua vez, relaxa os vasos sanguíneos”, descreve Karin Reid, diretora de
pesquisa do Instituto Nacional de Medicina Integrativa, em Melbourne, na
Austrália.
Segundo ela, os resultados reforçam as evidências de
que uma dieta rica nessas substâncias, que também estão no chá-verde, no vinho
e nas frutas vermelhas, protege o coração.
Dica: os trunfos do chocolate são decorrentes da
presença de cacau, visto em abundância na versão amarga. Por isso, maneire nos
chocolates branco e ao leite, pobres no ingrediente que derruba a pressão.
4. Uva-passa
Vem do Centro de Pesquisa em Aterosclerose e
Metabolismo de Louisville, nos Estados Unidos, um experimento que associou a
ingestão de passas a uma redução na pressão de pessoas pré-hipertensas. “Isso
talvez seja mérito dos polifenóis, antioxidantes detectados na casca do
alimento”, supõe Heno Lopes.
Em análise na também americana Universidade de
Connecticut, a uva natural, sem ser desidratada, se mostrou igualmente
benéfica. “Demos aos voluntários dois copos da fruta fresca por dia”, conta
Jacqueline Barona, cientista de alimentos da instituição.
Dica: a fruta in natura tem mais água do que as
passas. Estas, portanto, são menores, o que pode culminar no consumo exagerado.
O perigo é que em 100 gramas há 270 calorias. Moral da história: pare na
segunda colher de sopa.
5. Nozes
A relação entre elas e o controle da hipertensão
ainda gera bafafá. No entanto, em um recente ensaio clínico com mais de 7 mil
pessoas, o uso das nozes e de outras oleaginosas, como amêndoas e avelãs,
ajudou, sim, a evitar os picos de pressão. “Provavelmente porque são cheias de
polifenóis e de ácido alfalinolênico, uma versão do ômega-3”, especula o
estudioso Emilio Ros, da Universidade de Barcelona, na Espanha. Cabe frisar que
toda essa turma seguia a dieta mediterrânea, abastecida de outros itens
saudáveis.
6. Leguminosas
Experts da Universidade de Toronto, no Canadá,
recrutaram portadores de diabete do tipo 2 para comer uma xícara diária de
leguminosas, a exemplo do feijão. Ou seja, nenhum sacrifício.
Surpreendentemente, a intervenção não só melhorou os níveis de açúcar correndo
pelo sangue como também aliviou as artérias tensionadas.
“O feijão possui baixo índice glicêmico, prevenindo
os picos de glicose. Com isso, também fica mais fácil controlar a pressão”,
raciocina Camila Torreglosa, nutricionista do Hospital do Coração, na capital
paulista.
Dica: ao preparar o feijão, abra mão de temperos
industrializados, lotados de sódio. Experimente refogá-lo com alho e cebola e
adicionar ervas.
7. Chá-verde
De fato, a bebida, abastecida de polifenóis, é
aliada contra a hipertensão. A prova está na tese de doutorado de Lívia
Nogueira, apresentada no programa de pós-graduação de Fisiopatologia Clínica e
Experimental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Depois de dar três
cápsulas do extrato, o equivalente a três xícaras de chá, a mulheres quase
hipertensas todos os dias, por quatro semanas, ela observou uma baixa
significativa na pressão arterial.
“O ponto positivo é que o chá tem poucas calorias”,
analisa Antônio Felipe Sanjuliani, coordenador da disciplina e orientador do
trabalho. Só que goles em demasia podem ser tóxicos para o fígado. Logo, nada
de trocar xícaras por jarras.
Dica: Quem é muito sensível à cafeína, outra
substância do chá-verde, deve recusá-lo à noite para não ter o sono
prejudicado. Tem mais: evite bebê-lo muito perto das grandes refeições, pois
ele atrapalha a absorção de ferro. Por fim, para garantir o total
aproveitamento dos compostos bioativos, consuma após o preparo, quente ou
gelado.
8. Iogurte
Durante o último encontro da Associação Americana do
Coração, um curioso elo foi apontado por pesquisadores da Universidade Tufts,
nos Estados Unidos. Após avaliar os hábitos alimentares de 2 mil pessoas por 15
anos, eles perceberam que consumir potinhos de 200 gramas de iogurte com baixo
índice de gordura a cada três dias poderia reduzir em 31% o risco de
desenvolver hipertensão.
Para a nutricionista Regina Pereira, da Socesp, a
explicação está no cálcio. “Na sua ausência, há aumento na concentração de
vitamina D. Isso sinaliza para o corpo que é preciso preservar o pouco cálcio
que resta”, informa. O problema é que, aí, ele adere à parede dos vasos,
gerando um aumento da pressão lá dentro. Para escapar de desastrosas
consequências, é só caprichar na ingestão de lácteos magros.
Dica: “em vez de simplesmente acrescentar o iogurte
à dieta, é importante que ele substitua algum item calórico ou pouco saudável”,
ensina Huifen Wang, pesquisadora da Universidade Tufts.