Entenda como a prática de atividades físicas pode
piorar ou desencadear quadros de ansiedade e depressão
Não é raro uma pessoa receber conselhos relacionados
à prática de exercícios no dia a dia. De fato, incluir alguma atividade física
na rotina traz uma série de benefícios ao corpo e também ajuda a prevenir
doenças.
Entretanto, se você pensa em aderir aos treinos ou
gosta de fazer exercícios, aqui vai um recado: uma certa dose de equilíbrio é
necessária. Isso porque, quando feita em excesso, a atividade física pode fazer
mal, inclusive para sua saúde mental.
Exercícios físicos: benefícios
De acordo com a educadora física Ge Gurak,
consultora fitness da MetaLife e fundadora da TcPilates, praticar exercícios
regularmente, com a orientação e elaboração de um plano feito por um
profissional, traz uma série de benefícios ao corpo que vão muito além da
questão estética e da perda de peso.
Ao fazer exercícios, é possível prevenir uma série
de doenças, como acidente vascular encefálico (AVC), hipertensão, diabetes do
tipo 2, osteoporose e obesidade. Além disso, a prática de atividades físicas
também traz melhorias na qualidade de vida ao garantir a qualidade do sono,
aumentar a imunidade e proporcionar maior bem-estar emocional.
"Uma rotina de atividade física confere mais
vigor ao indivíduo e ajuda a controlar o peso. Outro ponto muito apontado em
pesquisas é o ganho de anos de vida através da autonomia dentro do processo de
envelhecimento", explica a especialista.
Exercícios físicos e saúde mental
Porém, apesar dos exercícios serem benéficos ao
corpo, é preciso não exagerar na dose. Isso porque, além de lesões físicas, a
prática desmedida de atividade física pode levar também ao desencadeamento de
quadros de depressão, ansiedade e outros distúrbios mentais.
Segundo Ge Gurak, esses efeitos contrários podem
surgir devido ao nível competitivo que a atividade exige, à constante busca de
uma perfeição estética, à falta de descanso ou à simples sobrecarga de treinos
- que pode gerar um estado de fadiga física e mental.
"Este ponto pode vir pelo comparação com os
colegas ou exigências de padrões de beleza que vão além das nossas
possibilidades. Este indivíduo não alcança o que almeja e esta decepção pode
trazer sintomas negativos", completa a educadora sobre a autocobrança
gerada pelos exercícios.
O educador físico Beto Abrahão, Master Trainer
Nacional da Bodytech e pós-graduando em Neurociências e Comportamento, explica
ainda que existe um processo fisiológico que o exercício físico em excesso
acarreta ao corpo e que pode prejudicar a saúde mental.
Segundo Abrahão, a prática de atividades físicas
proporciona uma sensação de bem-estar ao corpo devido ao estímulo de produção
de neurotransmissores, como a serotonina, dopamina, endorfina e citocinas.
Entretanto, o excesso pode levar a processos inflamatórios do corpo e
comprometer a produção de tais substâncias.
Consequentemente, algumas funções cerebrais básicas,
como suportar mudanças, ter comportamentos sociais, direcionar a atenção e
desenvolver aprendizados, ficam suscetíveis a perturbações. E o mesmo acontece
com o bem-estar emocional.
Sinais do excesso de exercícios
O instrutor cita que esses processos inflamatórios
levam ainda à hiperatividade de algumas estruturas do cérebro, como a amígdala
e o córtex. ?Isso faz a pessoa entrar no estágio de ruminação que é bem típico
de transtornos depressivos, de ficar pensando 'eu não sou bom, eu sou ruim,
tudo vai dar errado na minha vida??, diz Abrahão.
Além disso, é possível perceber o impacto do excesso
de exercícios com outros sinais bem característicos dos transtornos mentais.
"O indivíduo fica muito cansado, caso tenha uma depressão. Em quadros de
ansiedade, há um excesso de irritação", explica o educador físico.
Vale destacar, porém, que o exagero na prática de
atividades físicas por si só não é a causa de um quadro depressivo, do
transtorno de ansiedade ou de outras doenças ligadas à saúde mental.
"É um processo multifatorial. Isto é: o excesso
de exercícios físicos associado a outros componentes, como má alimentação,
privação de sono e situações estressantes na vida, podem prejudicar seriamente
a saúde mental", conclui Abrahão.
Qual é a dose certa de exercícios?
Saber a quantidade adequada de exercícios é um
processo individual e que não segue uma cartilha. A única regra, como aponta Ge
Gurak, é que os treinos busquem oferecer uma boa qualidade de vida em geral
(sono, disposição, humor), uma rotina dentro dos padrões de saúde e baixo risco
de lesões ao corpo.
"Se em qualquer um desses três pontos você
sentir efeitos negativos, vale a pena repensar se neste momento da sua vida
essa rotina de exercícios é a melhor. Por isso, o ideal é que a pessoa inicie
por uma atividade condizente com seu gosto e personalidade, e faça uma
autoanálise para ajustar a frequência e a intensidade. Se ainda assim não
funcionar, talvez a solução seja mudar o tipo de atividade?, afirma a
instrutora.
Fonte: https://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/36635-por-que-treinar-demais-pode-fazer-mal-para-sua-saude-mental
- Escrito por Redação Minha Vida - Hinterhaus Productions/GettyImages