Problemas respiratórios, depressão e até diabetes podem ser
aliviados
De hipertensão a
osteoporose,
diversos males podem ser amenizados e controlados com a escolha do exercício
físico certo. De acordo com o fisiologista Raul Santo de Oliveira, da Unifesp,
a prática de atividade física - aliada ao tratamento médico - tem tanto poder
que pode diminuir a quantidade de medicação. "Dependendo da pessoa, é
possível até chegar a situações em que os remédios não são mais
necessários", conta. Confira as opções de exercício mais indicadas para
combater oito doenças a seguir:
Diabetes
Exercício: caminhada, hidroginástica e atividades aeróbicas em geral
O
diabetes vem
da insuficiência ou falta total de insulina, substância responsável por
metabolizar o açúcar e fornecer energia ao corpo. Com isso, em vez de a glicose
entrar nas células, fica acumulada no sangue. Segundo o fisiologista Raul Santo
de Oliveira, o exercício físico aeróbico precisa de energia e, por isso,
facilita essa entrada da glicose nas células, diminuindo os níveis no
sangue.
Mas cuidado para não exagerar na intensidade! O clínico geral João Marcello
Branco, especialista em medicina do esporte, explica que o nosso corpo tem três
tipos de fontes de energia: glicose, aminoácidos (moléculas presentes nos
músculos) e gordura. "Quando temos pouco condicionamento físico, o
organismo busca primeiro a fonte mais fácil, ou seja, queima mais aminoácidos
do que glicose e gordura", afirma. Isso é grave para quem tem diabetes,
pois seu corpo já tem dificuldades em queimar açúcar, e terá ainda mais, já que
a fonte primária de energia serão os aminoácidos, não a glicose.
Doenças respiratórias
O exercício: natação
A natação pode ser uma grande amiga de quem sofre com
doenças respiratórias, como
asma e
bronquite.
"A umidade relativa do ar é bastante elevada nesses ambientes, o que provoca
vasodilatação e facilita o processo respiratório", diz o fisiologista Raul
Santo. Além disso, lembra o clínico geral João Branco, a natação trabalha a
parte cardiovascular e a musculatura pulmonar, aumentando a capacidade
respiratória.
Cuidado, porém, com a temperatura da piscina, pois isso pode piorar as crises
respiratórias. A piscina precisa estar com temperatura agradável - não muito
quente ou muito fria, para que não haja choque térmico - e sem cloro e outros
produtos químicos.
Hipertensão
O exercício: aeróbicos, como caminhada
Qualquer exercício - até uma simples caminhada - que tenha intensidade leve a
moderada pode ajudar a combater
hipertensão.
A atividade física criará novos vasos sanguíneos, em um processo chamado de
neo-formação de vasos. "Com a neo-formação, diminui-se a resistência
periférica, ou seja, o sangue consegue percorrer todo o corpo com mais
facilidade", conta Raul Santo. "Isso diminui a sobrecarga cardíaca e
o coração trabalha com mais eficiência", completa. É como se abrissem
novas avenidas e ruas em uma grande cidade, diminuindo o congestionamento.
Distúrbios de ansiedade (depressão)
O exercício: Ioga
Um dos principais fatores dos distúrbios de ansiedade é o
estresse.
Ele libera uma série de hormônios, como adrenalina, cortisol, noradrenalina e
prolactina. Raul Santo conta que esses hormônios, chamados de catabólicos, causam
um desajuste no corpo, capaz de afetar até o ritmo cardíaco.
A atividade física em carga leve a moderada melhora o condicionamento do
cérebro, equilibrando a secreção hormonal e a produção de neurotransmissores,
que são sinalizadores do cérebro. Para o clínico geral João Branco, atividades
como ioga e Tai Chi Chuan são boas opções porque controlam a ansiedade por meio
da respiração. Isso reduz o estresse e auxilia no equilíbrio do
organismo.
No caso da
depressão, o fisiologista Raul conta que as doses da
medicação podem diminuir com o tempo até serem extinguidas, tamanho o benefício
da atividade física.
Insônia
O exercício: Tai Chi Chuan
O sono é regulado por uma série de hormônios e neurotransmissores, como a
serotonina. Se, durante o dia, os hormônios responsáveis por deixar você em
estado de alerta dominam (como a adrenalina), à noite precisa ocorrer o
inverso. Antes de dormir, conta Raul Santo, você deve alcançar o estado chamado
"sub-ativo", onde o metabolismo está estabilizado - ou seja, as
frequências cardíaca e respiratória estão estáveis, assim como a secreção
hormonal. "Como a atividade física equilibra a secreção de hormônios e a
produção de neurotransmissores, o seu corpo saberá a hora de ficar em alerta e
a hora de descansar", conta Santo. O Tai Chi é uma atividade relaxante e
ideal para ser praticada depois que o sol se põe, já que trará a calma
necessária para o sono.
Fibromialgia
O exercício: alongamento e hidroterapia
Os remédios para combater a dor e a ansiedade intensas da
fibromialgia podem
ficar ainda mais potentes com a prática de exercícios físicos. Mas, como o
corpo já está muito dolorido, nada de exagerar no exercício para não piorar o
sintoma. "Uma atividade que relaxe, como alongamento e hidroterapia, trará
melhoras ao paciente. Isso regulará a serotonina, ajudando a pessoa a ter menos
ansiedade", diz João Marcello Branco.
Osteoporose
O exercício: na fase inicial, a
caminhada previne
a perda óssea
Já diria o ditado: "é melhor prevenir do que remediar". No caso da
osteoporose, essa frase ganha intensidade. Segundo Raul Santo, mesmo para quem
já sofre com a doença é possível fazer exercícios para evitar uma perda ainda
maior de massa óssea. No entanto, é preciso sempre praticar com orientação
médica, já que a recomendação da atividade física depende do estágio da
doença.
Quase todas as atividades físicas causam impacto - desde natação até pegar
ônibus em pé -, mas o especialista em medicina do esporte João Branco destaca a
caminhada, que não tem grandes riscos de sobrecarga nos ossos. "O impacto
do pé no chão estimula o osteoblasto, célula responsável pela criação de tecido
ósseo. Conforme a pessoa tem perda hormonal e sedentarismo, ess a célula fica
adormecida. O pequeno impacto deve ser contínuo e regular, para fazer com que a
célula volte à sua função normal", explica.
Tabagismo
O exercício: treino de resistência
A nicotina do
cigarro causa dependência química ao cumprir a função
de neurotransmissor. Com o tempo de fumo, o cérebro acaba deixando de produzir
alguns neurotransmissores, que são supridos pela nicotina. Ao tirar o cigarro,
o cérebro sentirá falta. "A atividade física ajuda a colocar o cérebro e
corpo em equilíbrio omeostático, ou seja, faz com que a pessoa volte a produzir
neurotransmissores que não produzia antes", conta João Branco. Para o
fisiologista Raul Santo, a atividade física também pode ser um incentivo para
deixar de
fumar,
já que melhora a respiração, traz sensação de bem estar e fornece mais energia
para as atividades cotidianas.
Além disso, existe a pressão social. O indivíduo que passa a praticar qualquer
atividade física passa a conviver com pessoas que, em geral, não fumam e nem
gostam de cigarro. "Com o tempo, isso pode resultar no abandono do
tabagismo por insistência dos novos colegas", sugere Raul Santo.
Embora todas as atividades físicas colaborem com a melhoria, estudo realizado
pelo Miriam Hospital's Centers for Behavioral and Preventive Medicine, nos
Estados Unidos, indica o treino de resistência com o melhor. De acordo com os
resultados, homens e mulheres fumantes que completaram 12 semanas de
treinamento de resistência - como parte de um programa de tratamento contra o
tabagismo - têm duas vezes mais chances de parar de fumar, em comparação a
aqueles que não levantam pesos regularmente.