A noção de que a percepção é vital em um
relacionamento não é nova, mas muitos estudos recentes tem revelado sua
importância.
Por exemplo, uma nova pesquisa da Universidade de
Virginia (EUA) chegou à conclusão de que a forma como percebemos um compromisso
de longo prazo (se o percebemos como casamento ou como apenas coabitação) pode
mudar o modo como reagimos ao estresse.
Como você vê o seu parceiro e o nível de compromisso
de seu relacionamento afeta significativamente a sua saúde.
Psicólogos afirmam que ser casado confere benefícios
à saúde acima da mera coabitação, mas outros dizem que só a ideia de casamento
já é suficiente – o que está na nossa cabeça é mais essencial do que um pedaço
de papel.
Ao longo dos últimos 20 anos estudando
relacionamentos, Jim Coan se interessou pelo “efeito de coabitação” – a ideia
de que casais que coabitam, em comparação com casais casados, são menos
estáveis, mostram menos benefícios relacionados à saúde e
podem até ser mais propensos a se divorciar, se
chegarem a se casar.
Coan decidiu explorar esses efeito comparando como
casais casados, coabitantes, namorados e amigos lidavam com o estresse juntos.
Ele observou especificamente como ficar de mãos dadas durante uma ameaça
potencial podia diminuir a atividade na aérea do cérebro chamada de hipotálamo
– um potencial marcador neurofisiológico para o efeito do estresse sobre a
saúde.
O trabalho baseia-se em provas anteriores de que
segurar as mãos ajuda as pessoas a regular suas emoções.
Usando ressonância magnética funcional, Coan e seus
colegas coletaram dados sobre a atividade cerebral de 54 casais (metade casada,
metade apenas morando junto) conforme eles viam sinais de ameaça.
Alguns sinais indicavam aos indivíduos que eles
enfrentariam uma chance de 20% de levar um choque elétrico no tornozelo,
enquanto outros mostravam 0% de chance de choque. Em alguns casos, os indivíduos
estavam segurando a mão de seu parceiro, em outros a mão de um estranho, e
outros estavam sozinhos.
Apenas os casados reduziram a atividade do
hipotálamo em resposta a estímulos de ameaça enquanto davam as mãos para seus
parceiros.
“Ambos os casais [casados e coabitantes] tinham a
mesma idade, tempo de relacionamento e satisfação
com a relação“, afirma Coan. “Então, por que
responderam de forma tão diferente ao apoio oferecido pelo parceiro?”.
Sua teoria encontra-se em dados que ele coletou em
outro estudo. Coan realizou uma pesquisa paralela com 26 casais do mesmo sexo.
Nenhum deles era legalmente casado, mas metade descreviam sua relação como um
casamento.
A mesma diferença na regulação hipotalâmica a
segurar a mão do parceiro foi vista: os que se consideravam casados (embora
oficialmente não fossem) tiveram uma redução de atividade na região do cérebro.
“Eu acho que tem a ver com a conceituação da relação
de cada um. Pode até não ser sobre o casamento em si, mas sim em afirmar apenas
a coabitação, basicamente afirmando que não está ‘preso’ a um compromisso”,
sugere Coan.
Os benefícios de saúde do apoio percebido
Outro grande fator dos relacionamentos que afeta a
saúde é o quanto nós acreditamos que nossos parceiros se importam conosco, nos
entendem e nos apreciam.
“O efeito dos relacionamentos sobre a saúde física e
psicológica é muito mais forte do que qualquer outro fator que você pode pensar”,
explica Emre Selcuk, da Universidade Técnica do Oriente Médio, na Turquia.
“Por
exemplo, o efeito da existência e da qualidade das relações estreitas sobre a
mortalidade é maior do que o do cigarro”.
Selcuk e seu colega Anthony Ong tentaram descobrir
quais aspectos únicos dos relacionamentos contribuem para este efeito.
Especificamente, eles estavam interessados na
resposta percebida do parceiro, uma medida em que a pessoa acha que seu
parceiro realmente quer o melhor para ela. Este “apoio percebido” é distinto do
verdadeiro apoio que você recebe do seu parceiro.
Se você não percebe o seu parceiro como sensível às
suas necessidades, até mesmo o comportamento de apoio mais bem intencionado
pode sair pela culatra e levar a resultados piores de saúde. Mas se você
percebe o seu parceiro como alguém que se importa, entende suas necessidades e
lhe aprecia, então seu relacionamento romântico vai fazer de você uma pessoa
mais feliz e mais saudável a longo prazo.
A análise dos pesquisadores constatou que as pessoas
que percebiam o seu parceiro como apoiadores tinham maior satisfação com a vida
e menos depressão, entre outros atributos psicológicos positivos.
“Nossos resultados mostram claramente que ter alguém
na nossa vida que nós percebemos como pessoas que nos apoiam e compreendem as
nossas necessidades, preocupações e objetivos aumenta a nossa capacidade de
recuperar-se de emoções negativas, melhora o nosso bem-estar psicológico,
confere benefícios à saúde e afeta até mesmo a própria duração da nossa vida”, diz
Selcuk.
Em resumo, a resposta à pergunta do título deste
artigo é: ambas
as opções são saudáveis, desde que você entenda seu relacionamento como um
comprometimento e perceba seu parceiro como alguém que
te apoia. Nada poderia ser mais simples. [Science20]