Especialista mostra como não há um herói ou vilão na
dieta. A proteção do coração depende de uma dieta balanceada, com certas
características gerais
A nutrição desempenha papel importante tanto na
prevenção quanto no tratamento de doenças crônicas, em especial das
cardiovasculares. Durante grande parte do século 20, as recomendações
nutricionais eram baseadas na prevenção da desnutrição e das deficiências de
nutrientes específicos. Foi apenas a partir de 1980 que elas mudaram o foco
para as doenças crônicas, como obesidade, diabetes, hipertensão…
Veja o caso da diretriz norte americana de 1980,
que, entre outras coisas, sugeria: “evite muita gordura, gordura saturada e
colesterol; ingira alimentos com mais amido e fibras; evite muito açúcar e
muito sal”. Entretanto, é interessante observarmos que esse guia ainda era
baseado em restrição de determinados macro e micronutrientes, o que é bastante
difícil de ser adotado pelas pessoas.
Além disso, novos estudos mostraram que, mais
importante do que se concentrar em nutrientes específicos, era atentar para a
ingestão de alimentos e a adoção de padrões alimentares específicos. Padrões
alimentares caracterizam-se pela combinação de comidas habitualmente consumidas
que, em conjunto, apresentam efeitos benéficos à saúde.
Exemplos desses padrões são a dieta DASH (Dietary
Approaches to Stop Hypertension) e a do mediterrâneo. Elas são ricas em
alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, castanhas,
vegetais, legumes, grãos integrais, peixes, iogurte e óleos vegetais. E são
restritas em carnes processadas, carne vermelha, grãos refinados, amido e
açúcar. Todas essas escolhas – não um ou outra isoladamente – conferem um alto
teor de fibras, vitaminas, antioxidantes, minerais, compostos fenólicos, além
de baixa quantidade de sal, açúcar e gordura trans.
Essa mudança do foco de nutrientes para alimentos
específicos e o cardápio como um todo já era sugerida pelo estudo Women’s
Health Initiative, publicado em 2006 no periódico científico JAMA. Nesse
trabalho, 48 835 mulheres na pós-menopausa, entre 50 e 79 anos, foram divididas
em dois grupos:
1) Um teria que reduzir a gordura na dieta para
menos de 20% do total de calorias e aumentar a ingestão de frutas, vegetais e
grãos.
2) O outro serviria como grupo controle, recebendo
apenas materiais informativos relacionados a nutrição saudável.
Após uma média de acompanhamento de 8 anos, não
houve diferença significativa na redução de doenças cardiovasculares e AVC
entre os dois grupos. E apenas uma modesta queda no índice dos fatores de risco
cardiovasculares (colesterol alto, por exemplo).
Uma hipótese para explicar esses resultados é que
grande parte da gordura tirada do cardápio foi substituída, a longo prazo, por
carboidratos refinados. E, em excesso, eles também podem provocar repercussões
negativas.
Outro estudo interessante, veiculado no periódico
The Lancet, mostrou que altas e baixas quantidades de carboidratos na dieta
foram associadas com maior mortalidade. O menor risco foi encontrado justamente
quando a concentração desse nutriente estava entre 50 e 55% da composição da
dieta.
No entanto, houve redução da mortalidade quando os
carboidratos foram substituídos por fontes de proteínas e gorduras de origem
vegetal, ao invés das animais (fonte: Seidelmann SB, et al. Dietary
carbohydrate intake and mortality: a prospective cohort study and
meta-analysis. Lancet Public Health. 2018;3:e419-428). Esses dados sugerem que
a fonte dos macronutrientes pode influenciar na mortalidade. De novo, estamos
falando de comida, e não de um ou outro nutriente.
Dicas simples para buscar uma vida mais saudável em
2019
O estudo PREDIMED veio reforçar a ideia de que
padrões alimentares saudáveis são mais importantes. Na investigação, 7 447
pacientes com alto risco cardiovascular foram divididos em três grupos e
acompanhados por 4,8 anos. O primeiro recebeu a dieta do mediterrâneo com 30
gramas de castanhas por dia. O segundo adotou a dieta do mediterrâneo
suplementada com 1 litro de azeite de oliva extra-virgem por semana. Já o
terceiro grupo foi orientado a fazer dieta com baixa quantidade de gordura.
Apesar das limitações da pesquisa, os dados finais
indicaram que os dois grupos que receberam a dieta do mediterrâneo apresentaram
redução do número de infarto, AVC e morte de origem cardiovascular (fonte:
Estruch R. Primary prevention of cardiovascular disease with a mediterranean
diet supplemented with extra-virgin olive oil or nuts. N Engl J Med.
2018;378:e34)
Logo, as recomendações nutricionais mais recentes
enfatizam a importância de dietas saudáveis como estratégia contra as doenças
crônicas não transmissíveis, em especial as cardiovasculares. Outros exemplos
desses padrões alimentares podem ser encontrados no Guia Alimentar da População
Brasileira e em iniciativas como o Meu Prato Saudável.
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/alimente-se-com-ciencia/doenca-cardiovascular-pra-evitar-o-que-importa-e-alimento-nao-nutriente/
- Por Dr. Marcos Ferreira Minicucci,
médico - Foto: Alex Silva/A2 Estúdio
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