Nem toda depressão é igual. Conheça as diferentes
faces da doença e qual é o melhor tratamento para cada uma
No caminho entre o preto e o branco, nossos olhos
são capazes de distinguir 30 tons de cinza. Todos integram a mesma escala de
cor, mas cada um deles tem nuances únicas. O mesmo raciocínio pode ser aplicado
à depressão: não se trata de uma doença idêntica para seus 320 milhões de
portadores espalhados pelo planeta.
Entre a alegria pura e a tristeza mais profunda, há
um espectro de sentimentos e manifestações capazes de repercutir na vida e
exigir o olhar de um profissional de saúde. Conheça, abaixo, os principais
tipos do transtorno:
Depressão maior
É o tipo mais comum e genérico. “Seus sintomas são
tristeza, angústia, desânimo, culpa e alterações no sono, no apetite, na
concentração e na libido que persistem por muito tempo”, lista o psiquiatra
Volnei Costa, da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de
Transtornos Afetivos.
A doença se divide em três graus: leve, moderado e
grave. Cada um possui a sua abordagem — aliás, não é porque a situação é mais
branda que dá para relaxar e ignorar seu impacto no dia a dia.
Tratamento: há três pilares fundamentais em qualquer
recuperação: remédios antidepressivos, psicoterapia e a mudança no estilo de
vida. Praticar exercícios físicos, por exemplo, é uma recomendação de dez entre
dez psiquiatras.
Sazonal
Essa não costuma dar tanto as caras no Brasil ou em
outros países com temperaturas mais elevadas e clima ameno. Porém, é um
tormento sério em lugares como o norte dos Estados Unidos, o Canadá, a
Islândia, a Dinamarca e a Noruega.
Durante o inverno, há pouca luz natural nesses
locais — o dia começa tarde e já fica escuro de novo lá pelas 14 ou 15 horas. E
a falta do sol afeta os indivíduos mais suscetíveis, que se tornam bastante
deprimidos durante as épocas de frio extremo.
Tratamento: além do combo básico (medicamentos,
terapia e hábitos saudáveis), uma alternativa bem eficaz é a fototerapia. O
paciente fica durante um tempo dentro de uma cabine de luz. Isso beneficia
certas regiões do cérebro dele.
Distímica
O termo está caindo em desuso na medicina, mas você
pode encontrar profissionais que falam sobre essa versão da melancolia.
Ela é caracterizada por sinais bem leves, quase
imperceptíveis, que perduram por dois anos ou mais. A pessoa acaba aprendendo a
conviver com aquilo e, por mais prejuízos que tenha no dia a dia, não conversa
com ninguém sobre o assunto.
O problema é que o quadro pode se aprofundar
rapidamente e provocar sérios danos à saúde física e mental.
Tratamento: a psicoterapia é especialmente
estratégica por aqui: durante as sessões, será possível identificar os sintomas
e as melhores maneiras de desarmá-los a tempo. Fazer atividade física é outra
boa pedida para elevar o ânimo.
Atípica
Apesar do nome, ela é prevalente e intriga os
experts. A diferença está na forma como se manifesta.
“Ela segue um padrão peculiar: em vez de sonolência
excessiva, dá insônia. Enquanto nas outras há perda de apetite, nela ocorre um
aumento na ânsia por comer”, exemplifica o médico Ricardo Alberto Moreno, do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Outras características são a piora dos sintomas no
final do dia e um humor mais sensível e irritável.
Tratamento: além dos antidepressivos básicos, o
psiquiatra irá avaliar a necessidade de prescrever fármacos da classe dos
estabilizadores de humor. Eles são muito utilizados em outros transtornos, como
a bipolaridade.
Psicótica
É uma das depressões mais sérias e preocupantes da
lista. Os sintomas corriqueiros estão presentes. Porém, junto deles, pintam
outros, como delírios de perseguição ou a sensação de que algo muito ruim está
para acontecer a qualquer momento.
Há casos em que a psicose se agrava e o sujeito
mistura a realidade com fantasias de sua cabeça. Alguns chegam a achar que seu
coração parou ou já estão mortos. Essas situações extremas, ainda bem, são
muito raras.
Tratamento: não dá pra fugir das medicações
antipsicóticas. Dentro do plano terapêutico, elas promovem uma reorganização do
cérebro e aliviam a crise. Quanto antes o esquema for iniciado, melhores os
resultados e menor o risco de recaídas.
Mista
Observada por pesquisadores desde o século 19, ela
vem ganhando destaque na última década, com a descoberta de novas ferramentas
para diagnosticar e encarar o problema. Suas principais marcas são aceleração
do pensamento, maior irritabilidade e comportamentos compulsivos nas compras,
no sexo ou na forma de reagir aos outros.
“O dilema é que muita gente acaba confundindo a
depressão mista com ansiedade, mas são entidades completamente distintas”,
ressalta Costa.
Tratamento: os antidepressivos podem deixar o
pensamento ainda mais acelerado. Para evitar esse efeito colateral, é
necessário primeiro recorrer a estabilizadores de humor ou antipsicóticos e
fazer frente aos sintomas compulsivos mais urgentes.
Melancólica
Os maiores incômodos, como a falta de energia, a
tristeza absoluta e a angústia, se agravam e ficam alarmantes. “Outro traço
dela é o fato de os sintomas serem piores logo de manhã e melhorarem um pouco
durante o dia”, observa Moreno.
É o tipo mais fácil de ser identificado, mas, não
raro, o indivíduo não deseja sair de casa para consultas com o especialista.
Amigos e familiares precisam criar uma rede de suporte e dar toda a atenção
necessária para fazer esse resgate.
Tratamento: antidepressivos são essenciais. Outra
saída em casos graves é a eletroconvulsoterapia, que recorre a estímulos elétricos
na cabeça. O método é seguro e tem eficácia comprovada.
Pós-parto
A queda na produção de determinados hormônios logo
após a gestação vira um tormento danado a mulheres suscetíveis. Elas
desenvolvem uma ideia de incapacidade de cuidar do bebê ou simplesmente não
experimentam a alegria da maternidade. Na sequência, aparece a culpa, que deixa
tudo pior e prolonga a doença pelos meses seguintes.
A melhor maneira de evitar que o transtorno alcance
proporções catastróficas é conversar com o ginecologista e relatar qualquer
sentimento que pareça estranho.
Tratamento: Alguns antidepressivos específicos são
indicados, pois não afetam o processo de amamentação. O acompanhamento com o
psicólogo é outra ferramenta valiosíssima para identificar e vencer pensamentos
negativos.
Fonte: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/quais-sao-os-principais-tipos-de-depressao/
- Por André Biernath - Ilustrações: Maíra Martines/SAÚDE é Vital
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