quinta-feira, 6 de junho de 2019

Registro do desmatamento da Amazônia brasileira atinge recorde


O desmatamento da Amazônia brasileira alcançou o nível mais alto já visto desde o início do atual método de monitoramento no mês passado, gerando preocupações de que o presidente Jair Bolsonaro esteja dando passe livre para extração ilegal de madeira, agricultura e mineração.

A maior floresta tropical do mundo perdeu 739 km² durante os 31 dias de maio, o equivalente a dois campos de futebol a cada minuto, de acordo com dados da agência de monitoramento por satélite do próprio governo.

A tabela abaixo compara os dados dos últimos quatro anos:

Aumento preocupante
Embora um único mês seja pouco para confirmar tendências de longo prazo, maio é considerado um guia importante porque marca o início da estação seca, que é quando a maior parte das queimadas e outras formas de desmatamento são realizadas.
A menos que o governo envie um sinal claro de que não tolerará uma nova aceleração, os ambientalistas temem que os próximos meses vejam um aumento que tornaria 2019 um dos piores anos de desmatamento na memória recente.
“O governo não pode negar esses números de sua própria agência. A questão agora é o que eles farão a respeito”, disse Carlos Souza, do grupo de monitoramento independente Imazon. “Até o final de julho teremos uma ideia clara do impacto dos recentes movimentos feitos para desmantelar as políticas ambientais”.
 “O aumento do desmatamento é deprimente, mas não é surpreendente: você tem um governo no Brasil que está desmantelando quase todas as políticas ambientais implementadas desde 1992 e que está perseguindo agentes ambientais federais, fortalecendo os criminosos ambientais”, argumentou Carlos Rittl do Observatório do Clima, uma ONG formada por uma coalizão de grupos ambientalistas. “No entanto, devemos esperar e ver como [o governo] vai se comportar em junho”.

Nada surpreendente
Desde que Bolsonaro assumiu a presidência em janeiro, seu governo tem enfraquecido o Ministério do Meio Ambiente, afrouxado os controles sobre a exploração econômica da Amazônia, interrompido a demarcação de terras indígenas e incentivado os interesses da mineração e da agricultura na região.
Além disso, Bolsonaro chamou a principal agência de monitoramento do governo, o Ibama, de “indústria de multas” e emitiu o menor número de penalidades nos últimos 11 anos. As operações de inspeção caíram 70% em relação ao ano passado.
Seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que já foi condenado por fraude ambiental e nunca havia visitado a região amazônica antes de assumir o cargo, não nomeou chefes regionais e demitiu inspetores veteranos. No início desta semana, a Folha de S. Paulo informou que ele quer privatizar o monitoramento por satélite da floresta.
Salles também tem irritado os principais países doadores do Fundo Amazônia, Noruega e Alemanha, ao propor que a voz da sociedade civil seja enfraquecida ao decidir como o recurso, de US$ 1,3 bilhão, será gasto.

Lobby agrícola
No congresso, o lobby agrícola está pressionando por mais relaxamentos no regulamento ambiental, incluindo a liberação de áreas protegidas.
O filho mais velho de Bolsonaro, Flávio, que é senador, recentemente propôs uma reforma do código florestal que eliminaria a obrigação dos agricultores na Amazônia de manter 50 a 80% da cobertura florestal de suas propriedades. Esta medida abriria uma área maior do que o Irã para as indústrias extrativas.
Uma onda crescente de reclamações de propriedade em terras especulativas está sendo registrada dentro das reservas, o que está colocando mais pressão sobre as fronteiras.

Ressalvas
Outros fatores podem ter contribuído para o aumento do desmatamento. Os primeiros meses deste ano foram nublados e chuvosos, o que dificultou o monitoramento por satélite, então algumas áreas podem ter sido perdidas por varreduras anteriores.
O mau tempo também pode ter levado os madeireiros e fazendeiros a adiar o desmatamento até maio. A economia, que muitas vezes é uma propulsora do desmatamento durante os períodos de alta nos preços da carne bovina e da soja, também está em crise, embora Bolsonaro tenha indicado que o agronegócio pode levar o Brasil em direção ao crescimento positivo.
A esse respeito, ele está ecoando e ampliando a mensagem de seus predecessores, Dilma Rousseff e Michel Temer. Ambos presidiram períodos de desmatamento acelerado à medida que se tornaram dependentes do lobby rural e das exportações de commodities para a China e para a Europa.
Outro fator é a expansão de projetos de infraestrutura, incluindo estradas e usinas hidrelétricas. O estado brasileiro que sofreu o maior desmatamento no mês passado foi o Pará, que abriga a rodovia BR163 que cruza a Amazônia e a barragem de Belo Monte. [TheGuardian]


Nenhum comentário:

Postar um comentário