Pesquisadora explica o que os estudos têm a dizer
sobre os efeitos da restrição calórica na prevenção de doenças e na longevidade
Com o aumento na expectativa de vida da população,
também estão em alta as pesquisas focadas no envelhecimento e em como evitar as
doenças relacionadas ao avançar da idade. Apesar de sabermos que não existe uma
fonte da juventude, a ciência vem mostrando que, sim, podemos frear em parte o
processo do envelhecer e atrasar o aparecimento de problemas de saúde ligados a
isso, caso do câncer e das doenças neurodegenerativas.
Embora já existam alguns medicamentos com efeitos
comprovados na desaceleração dos efeitos negativos da idade — um dos remédios
estudados nesse sentido é a metformina, receitada a pessoas com diabetes —,
temos evidências de que algumas intervenções na alimentação também proporcionam
esse impacto. É o caso da chamada restrição calórica.
De forma simplificada, restrição calórica significa
reduzir o número de calorias consumidas, mas sem causar nenhum nível de
desnutrição ou subnutrição. As pesquisas constatam que a diminuição no consumo
energético, desde que se mantenha o nível de ingestão de nutrientes, beneficia
a saúde e afasta doenças.
Se você se interessou por essa ideia, porém, não vá
se aventurar com dietas restritivas pensando que elas são a mesma coisa testada
pelos cientistas. A restrição calórica alvo de estudos é muito bem controlada e
parte do pressuposto de que irá prover todos os nutrientes de que o organismo
precisa. O que podemos encorajar, nesse contexto, é trocar o hambúrguer por uma
salada completa, por exemplo. São menos calorias e mais substâncias bem-vindas.
Em um experimento com camundongos publicado
recentemente por um grupo de universidades americanas e europeias, foi
demonstrado que a redução de 20 a 50% na ingestão de calorias não só aumenta o
tempo de vida como também previne ou atrasa o aparecimento de doenças
associadas à idade. A incidência de câncer nos animais, por exemplo, foi
significativamente menor apenas com essa intervenção na dieta. Também foi
observada uma queda na incidência de diabetes tipo 2 e de problemas cardíacos e
neurológicos.
Em seres humanos, diferentes pesquisas têm chegado à
mesma conclusão. Restrição calórica, sempre com o consumo adequado de vitaminas
e minerais, oferece benefícios semelhantes: melhora em fatores de risco para
tumores e doenças cardiovasculares. O efeito, aliás, não se limita a pessoas
acima do peso. Mesmo quando pessoas com o peso ideal se submetem ao corte de
calorias, as vantagens são observadas.
Outra forma de se obter os benefícios da restrição
calórica — e que passa pelo olhar da ciência — é o jejum intermitente. Estudos
com humanos vêm mostrando que, em um contexto regrado e controlado, ele reduz o
peso e o nível de gordura corporal, além de diminuir a concentração de insulina
no sangue, fenômenos relacionados à proteção frente ao envelhecimento.
Sabemos hoje que a dieta desbalanceada, o excesso de
gordura corporal, o sedentarismo e o aumento de certos hormônios são
fatores-chave no desenvolvimento das principais doenças crônicas que acometem a
humanidade. O lado bom dos estudos de intervenção no estilo de vida, como
restrição calórica, é que suas descobertas mostram que hábitos saudáveis têm um
papel fundamental na prevenção desses males mais comuns com o avanço dos anos.
Para que estratégias como essas funcionem e não
comprometam o equilíbrio nutricional, é importante procurar um profissional de
saúde capacitado. E lembrar que não é preciso mudar drasticamente a alimentação.
Escolhas saudáveis simples já são capazes de trazer enormes benefícios ao
organismo.
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/cortar-calorias-retarda-mesmo-o-envelhecimento/
- Por Tailise Souza, PhD em biologia molecular - Foto: Dulla/SAÚDE é Vital
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