Sim, o famoso hormônio do sono também é encontrado
na comida. E um estudo sugere que esses ingredientes são aliados de quem tem
insônia
Milhões de brasileiros não sabem o que é dormir com
facilidade ou manter uma boa noite de sono. Eles convivem com a insônia, quadro
capaz de trazer repercussões mais graves do que um baita cansaço no dia
seguinte. Para ter ideia, não descansar adequadamente atrapalha o metabolismo e
aumenta o risco de hipertensão e doenças cardiovasculares e neurocognitivas,
entre outros problemas.
Na busca por soluções, um grupo de pesquisadores da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revisou vários estudos feitos até
então sobre o efeito de alimentos ricos em melatonina na qualidade do sono. E o
resultado foi animador.
Mas o que é a melatonina?
Chamada de hormônio do sono, essa substância é
fabricada à noite pela glândula pineal, localizada no cérebro. “Durante o dia
ela permanece inativa e, quando o sol se põe e escurece, a pineal é ativada e
começa a produzir melatonina ativamente”, explica a nutricionista Maria
Fernanda Naufel, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do estudo. Com a
liberação do hormônio no sangue, o indivíduo começa a ficar menos alerta. “E o
sono se torna convidativo”, completa a expert.
Ocorre que a melatonina também pode ser encontrada
em muitos alimentos. Maria Fernanda cita ovos, peixes, carne e leite (incluindo
o materno). E olha que curioso: de acordo com a nutricionista, estudos recentes
apontam que há maiores concentrações no leite ordenhado durante o período
noturno.
A substância ainda marca presença em alimentos de
origem vegetal, a exemplo de frutas, sementes, cereais, óleo, vinho e cerveja.
No reino das frutas, Maria Fernanda conta que uva, cereja, morango e kiwi são
destaques. Itens como pimenta, tomate, cogumelos, trigo, aveia e cevada também
merecem menção honrosa.
Por que leite e cereja destacaram no estudo
Embora a lista de alimentos ricos em melatonina seja
extensa, a revisão conduzida por Maria Fernanda e seus colegas só considerou
estudos que apresentavam uma metodologia mais elaborada — até para chegar ao
resultado mais fidedigno possível. “Por esse motivo, de um total de 190
pesquisas encontradas sobre o assunto, somente oito estavam dentro dos
critérios pré-estabelecidos”, esclarece.
Coincidentemente, dos oitos artigos, quatro
abordavam a influência do leite (tradicional, ordenhado à noite ou fermentado)
e da cereja (na forma de suco ou concentrada) na qualidade do sono. “Daí porque
só esses dois são citados nos resultados e na discussão”, justifica.
Em resumo, ambos os alimentos foram considerados
parceiros de uma noite revigoradora entre os lençóis. “Eles podem aumentar a
concentração de melatonina no organismo, melhorando a qualidade do sono”,
aponta Maria Fernanda. Só que ainda não foi possível estabelecer a dosagem nem
a duração do tratamento.
E os outros alimentos?
Apesar de o trabalho focar no leite e na cereja, a
pesquisadora da Unifesp acredita que o resultado seja válido para os demais
ingredientes que concentram melatonina.
Segundo ela, se a intenção é consumi-los apenas uma
vez ao dia, parece que o momento mais interessante é aquele perto do horário de
dormir. “Contudo, mais estudos são necessários para chegar a um acordo sobre
dose, duração da intervenção e horário apropriado para o consumo”, reforça.
Ainda assim, as conclusões empolgam. “Nos dias de
hoje, a utilização de medicamentos para dormir é comum. Só que eles apresentam
efeitos colaterais importantes”, relata Maria Fernanda. Se a dieta contribuísse
para uma redução no uso desses fármacos, já valeria muito a pena.
Para além da melatonina
Não basta buscar ingredientes ricos na substância
amiga do travesseiro. Para ter uma noite realmente reparadora, a dieta como um
todo deve passar por uma revisão. “A alimentação saudável é um dos pilares para
a melhora do sono”, crava Maria Fernanda. De olho nisso, é preciso abrir
espaço, por exemplo, para mais frutas, verduras e legumes.
Por outro lado, abusar de produtos ultraprocessados
— em geral abastecidos de açúcar, sal e gorduras saturada e trans — é um
convite a noites em claro. Até porque eles elevam o risco de obesidade. “E
inúmeros estudos associam esse quadro a um aumento expressivo na incidência de
apneia obstrutiva do sono, por exemplo”, descreve a nutricionista.
Para ter ideia, em trabalho anterior, a pesquisadora
e sua equipe descobriram que valores elevados de IMC (índice de massa corporal)
e obesidade abdominal aumentavam o risco de apneia em 60%, além de reduzirem
significativamente o sono profundo e a sua eficiência. Por isso, é crucial
manter um cardápio equilibrado e evitar o ganho de peso excessivo.
Dentro desse menu, vale incluir alimentos ricos em
lactucina, passiflora, triptofano e serotonina, outros elementos considerados
relaxantes e indutores do sono. Maria Fernanda conta que vale apostar em
banana, frutas vermelhas, kiwi, maracujá, alface, sementes (como a da abóbora),
oleaginosas e por aí vai.
“O acompanhamento nutricional e a adequação e
individualização da dieta são importantes para que o tratamento de distúrbios
do sono seja mais efetivo e duradouro”, finaliza a especialista.
Fonte: https://saude.abril.com.br/alimentacao/alimentos-fontes-de-melatonina-podem-favorecer-o-sono/
- Por Thaís Manarini - Foto: Getty Images/SAÚDE é Vital
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