Este é um dos primeiros estudos a comparar múltiplos padrões alimentares com o envelhecimento saudável como um todo, segundo os autores
Enquanto algumas pessoas mantêm a saúde física e
mental por décadas, outras enfrentam limitações logo após a meia-idade.
Genética e ambiente influenciam, claro, mas hábitos cotidianos, como a
alimentação, também têm papel fundamental no envelhecimento.
Em uma nova pesquisa conduzida ao longo de 30 anos,
pesquisadores das universidades de Harvard (Estados Unidos), Copenhague
(Dinamarca) e Montreal (Canadá) analisaram como os hábitos alimentares na
meia-idade influenciam o envelhecimento saudável — definido como atingir os 70
anos sem doenças crônicas graves, nem comprometimentos cognitivos, físicos ou
mentais. O estudo foi publicado em março na revista Nature Medicine.
Segundo os autores, este é um dos primeiros trabalhos
a comparar múltiplos padrões alimentares com a saúde integral na velhice.
“Estudos já investigaram padrões alimentares no
contexto de doenças específicas ou da expectativa de vida das pessoas. O nosso
adota uma visão multifacetada, perguntando: ‘Como a dieta afeta a capacidade
das pessoas de viver de forma independente e desfrutar de uma boa qualidade de
vida à medida que envelhecem?’”, disse em comunicado o coautor Frank Hu,
epidemiologista de Harvard.
Oito padrões alimentares em destaque
A pesquisa usou dados de 105 mil adultos, com idades
entre 39 e 69 anos, acompanhados de 1986 a 2016 por meio de dois grandes
estudos populacionais dos Estados Unidos: o Nurses’ Health Study, que monitora
a saúde de enfermeiras desde 1976; e o Health Professionals Follow-Up Study,
voltado para profissionais da saúde do sexo masculino, iniciado em 1986.
Ao longo desse período, os participantes responderam a
questionários alimentares regulares. Com base nas respostas, os pesquisadores
avaliaram a adesão dos voluntários a oito padrões alimentares já estudados:
Índice Alternativo de Alimentação Saudável (AHEI):
foca em frutas, vegetais, grãos integrais, nozes, leguminosas e gorduras
saudáveis, com pouco açúcar, carne vermelha e sódio.
Índice Mediterrâneo Alternativo (aMED): baseado na
dieta mediterrânea, valoriza azeite, peixe, grãos integrais, frutas, vegetais,
vinho moderado e baixa ingestão de carne vermelha.
Abordagens Dietéticas para Interromper a Hipertensão
(DASH): criada para controlar a pressão arterial, prioriza frutas, legumes,
laticínios com baixo teor de gordura, grãos integrais e pouco sal.
Intervenção Mediterrânea-DASH para Atraso
Neurodegenerativo (MIND): mistura da mediterrânea com a DASH, com foco em
proteger o cérebro.
Dieta saudável baseada em vegetais (hPDI): favorece
alimentos vegetais saudáveis e reduz o consumo de alimentos de origem animal.
Índice de Dieta da Saúde Planetária (PHDI): pensada
para a saúde humana e do planeta.
Padrão alimentar empiricamente inflamatório (EDIP):
mede o potencial inflamatório da dieta.
Índice alimentar empírico para hiperinsulinemia
(EDIH): avalia o quanto uma dieta estimula a produção de insulina.
Além disso, os cientistas analisaram o consumo de
alimentos ultraprocessados — produtos industrializados com alto teor de açúcar,
sal, gorduras não saudáveis e aditivos químicos.
Resultados e impacto no envelhecimento saudável
Dos 105 mil participantes, 9.771 atingiram os critérios
de saúde ideal aos 70 anos, o que representa 9,3% da amostra total. Os
resultados mostraram que todos os oito padrões alimentares estavam associados a
um envelhecer mais saudável — ou seja, seguir qualquer um deles aumentava as
chances de chegar à terceira idade com boa saúde física e mental.
Ainda assim, o AHEI se destacou como o padrão
alimentar com maior benefício geral. Pessoas com maior adesão ao AHEI tinham
86% mais chances de alcançar essa fase da vida com bem-estar, em comparação com
aquelas que seguiam menos o padrão. Se a análise fosse feita com base nos 75
anos, o grupo com melhor adesão apresentava 2,24 vezes mais chances de manter a
saúde.
O AHEI prioriza alimentos de origem vegetal, como
frutas, legumes, grãos integrais, nozes e leguminosas, e reduz o consumo de
carnes vermelhas e processadas, bebidas açucaradas, sódio e grãos refinados.
“Como permanecer ativo e independente é uma prioridade
tanto para os indivíduos quanto para a saúde pública, realizamos a pesquisa
sobre envelhecimento saudável. Nossas descobertas sugerem que padrões
alimentares ricos em alimentos de origem vegetal, com inclusão moderada de
alimentos saudáveis de origem animal, podem promover uma boa saúde geral na
velhice e ajudar a moldar futuras diretrizes alimentares”, explica a coautora
Marta Guasch-Ferré, nutricionista de Harvard.
Apesar de o AHEI ter apresentado os melhores
resultados gerais, outras dietas também mostraram benefícios significativos. O
PHDI, por exemplo, foi o padrão com a associação mais forte à saúde cognitiva e
à sobrevivência até os 70 anos. Já o AHEI teve o melhor desempenho em relação à
saúde física e mental.
Por outro lado, o alto consumo de alimentos
ultraprocessados foi associado a uma menor probabilidade de envelhecer com
qualidade de vida.
Fonte: https://www.metropoles.com/saude/cientistas-dietas-envelhecer-saude
- Ravenna Alves - Getty Images
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