Essa gordura está por trás de infartos e outras
ameaças. Embora menos conhecida que o colesterol, é mais controlável com
ajustes no estilo de vida, como maneirar em pães e massas. Chegou a hora de
mudar esse panorama
Os triglicérides estão e, ao mesmo tempo, não estão
na boca do povo. Por um lado, abusamos de alimentos que, junto a outros hábitos
pouco saudáveis, aumentam a concentração dessa gordura nos vasos. Tanto que um
em cada quatro americanos apresenta um índice acima de 150 mg/dl, o limite
ideal — no Brasil não há números confiáveis, mas se acredita que seguimos a
mesma toada. Por outro lado, ainda perdura um desconhecimento da população
sobre o tema.
O colesterol (que nem gordura é; quimicamente
falamos de um álcool complexo) ganhou os holofotes por ser reconhecidamente um
fator de risco direto para panes no sistema circulatório. Pesquisas comprovam
que o uso de remédios para baixá-lo reduz em até 40% os desfechos
cardiovasculares e também aplaca a mortalidade. Já os triglicérides entraram
numa certa penumbra, porque alguns estudos insinuaram que as drogas voltadas ao
seu controle não evitam óbitos, embora diminuam em 13% o risco de infarto, AVC
e afins.
O fato é que, quando se encontra numa quantidade
elevada, os triglicérides instigam o surgimento de radicais livres e processos
inflamatórios, dois perigos aos vasos. Fora isso, estimulam a fabricação
exagerada de VLDL no fígado e de quilomícrons no intestino. "Essas duas
lipoproteínas são quebradas, então, nas chamadas partículas remanescentes, que
contribuem diretamente para o entupimento das artérias", ensina Michael
Miller, epidemiologista da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Miller atualizou um artigo de 2011 que avalia a
influência dos hábitos no equilíbrio dos triglicérides. O novo texto diz:
"Mudanças no estilo de vida podem reduzir as taxas em 50% ou mais".
Fernando Flexa Ribeiro Filho, presidente do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose
da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, compara: "Quando
se fala em colesterol, esse número não supera 30%". Uma das principais
medidas para conter os triglicérides é moderar no pão branco, no macarrão, no
açúcar...
Segundo a revisão de Michael Miller, se você trocar
10% das calorias provenientes do carboidrato – nutriente que sobra em macarrão
e outras massas – pelas originárias de gorduras poli ou monoinsaturadas,
diminui de 10 a 20% a quantidade de triglicérides. Vamos recorrer à matemática:
um pão francês possui aproximadamente 112 calorias vindas de carboidratos, o
que, em uma dieta tradicional de 2 mil calorias, representa 5,6% do total.
Logo, ao riscar um pãozinho da conta diária, há uma potencial subtração de
11,2% na taxa que será exibida pelos exames.
Entretanto, para fechar esse cálculo do bem, é
importante adicionar gorduras insaturadas ao menu. Entre as opções, vale
destacar o ômega-3, encontrado principalmente nos peixes marinhos.
"Descobertas recentes apontam que ele inibe a síntese de triglicérides no
fígado", conta Cintra. "Tanto que suplementos com essa substância já
são prescritos para alguns pacientes com triglicérides descontrolados",
arremata. Incrementar sua ingestão em 1 grama por dia acarreta uma queda de 5 a
10% na concentração do inimigo da vez.
Causas diversas
Veja o que financia a subida dos triglicérides – e pode passar batido
Remédios: diuréticos, corticoides,
antipsicóticos, estrogênio oral... Todos podem conspirar a favor da síndrome
metabólica, conjunto de disfunções marcado pelo ganho de barriga e o aumento
dos triglicérides.
Hipotireoidismo: a tireoide é uma glândula
responsável pelo ritmo de funcionamento do corpo inteiro. Logo, se a sua
produção de hormônios é deficiente, há uma lentificação na atividade da enzima
que quebra os triglicérides no fígado.
Insuficiência renal: quando os rins não
funcionam corretamente, fica faltando uma proteína que também participa do
processo de desintegração das moléculas gordurosas. A partir daí, elas passam a
aparecer em larga escala nos vasos sanguíneos.
Diabete tipo 2: a doença está bastante ligada à
obesidade. E a dupla, junta, intensifica a chamada resistência à ação da
insulina. Essa condição, por sua vez, desregula as taxas de triglicérides e
colesterol. Desarmonia nociva para o coração.
Consequências
Conheça males deflagrados pela alta dos triglicérides
Pancreatite aguda: é como se ocorresse uma
obstrução na glândula que produz insulina. Explicamos: as partículas que
carregam os triglicérides são grandes e, em excesso, podem bloquear dutos do
pâncreas. A dor é intensa e o quadro inevitavelmente leva à hospitalização.
Esteatose hepática: a obesidade, e o
consequente aumento dos triglicérides no organismo, desencadeia uma infiltração
de gordura no fígado. A condição costuma ser silenciosa no início - entre os
eventuais sintomas estão cansaço e perda de apetite.
Diabete tipo 2: além de causa, ele pode ser uma
sequela do boom de triglicérides. É que os ácidos graxos, constituintes dessa
gordura, prejudicam a ação da insulina, hormônio que libera o açúcar para as
células. E isso, claro, faz a glicemia disparar.
Câncer: um estudo realizado na Universidade
Duke, nos Estados Unidos, relacionou altos níveis de triglicéride e colesterol
com um maior risco de tumores de próstata. Apesar de ser uma evidência inicial,
vale a pena ficar atento para escapar de mais esse problemão.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/saude/saude-e-vital/como-controlar-os-perigosos-triglicerides
- Escrito por Theo
Ruprecht - Editado por Redação Saúde
é Vital - Foto Alex Silva